Neste artigo assume-se que a condição urbana contemporânea está fortemente marcada por uma crescente pluralidade. Associada a esta mudança na natureza do contexto urbano, pode-se também observar a proliferação de lugares (sites) de engajamento político e de ação, sendo alguns deles formalmente ligados a fóruns institucionais do Estado, mas muitos outros podem ser caracterizados pela sua insistência em permanecer fora do Estado, uma forma de afirmar autonomia e clamar por termos próprios de reconhecimento e formas de agir. O artigo chama a atenção para o significado de uma categoria de atores urbanos – hip-hoppers – que ocupa uma posição “marginal” na relação com o Estado, mas que é muito relevante para a existência marginalizada da maior parte da juventude negra nas cidades do sul global, particularmente no Rio de Janeiro e na Cidade do Cabo. O artigo demonstra que as culturas hip hop oferecem uma poderosa estrutura de interpretação e resposta para a juventude pobre que sofre sistematicamente o impacto de forças urbanas extremamente violentas e exploradoras. A base do poder do hip hop (e congêneres) é sua complexa sensibilidade estética, que funde valores afetivos – como o desejo, a paixão e o prazer, mas também a ira e a crítica –, que por sua vez se traduzem em identidades políticas e às vezes em ação (ou seja, posicionamento) para seus participantes. Em última instância, o artigo procura associar o potencial da cultura política do hip hop a temas acadêmicos mais amplos, tais como participação, espaço público, cidadania e segurança.Palavras-chave: hip hop; política cultural; violência urbana; exclusão/ inclusão urbana; registros afetivos. Abstract: It is assumed in the paper that the contemporary urban condition is marked by an increased pluralistic intensity in cities. Coupled to this shift in the nature of the urban context, one can also observe a proliferation of sites of political engagement and agency, some of which are formally tied to the various institutional forums of the state, and many that are defined by their insistence to stand apart from the state, asserting autonomy and clamoring for a self-defined terms of recognition and agency. This paper draws attention to the significance of one category of urban actors – hip-hoppers – that can be said to occupy a “marginal” location in relation to the state but uniquely relevant to the marginalized existence of most poor black youth in cities of the global South, particularly Rio de Janeiro and Cape Town. The paper demonstrates that hip hop cultures offer a powerful framework of interpretation and response for poor youth who are systemically caught at the receiving end of extremely violent and exploitative urban forces. The basis of hip hop’s power is its complex aesthetical sensibility that fuses affective registers such as rage, passion, lust, critique, pleasure, desire, which in turn translates into political identities, and sometimes agency (i.e. positionality), for its participants. In the final instance, the paper tries to link conclusions about the potential of hip hop cultural politics to larger academic themes such as participation, public space, citizenship and security.Keywords: hip hop; cultural politics; urban violence; urban exclusion/inclusion; affective registers.