Um encontro Saussure-Bakhtin na episteme

2022 ◽  
Vol 17 (1) ◽  
pp. 74-97
Author(s):  
Luiz Eduardo Mendes Batista ◽  
Stefania Montes Henriques
Keyword(s):  

RESUMO Neste artigo, pretendemos partir de certas releituras que se têm feito a respeito do construto saussuriano sobre o objeto língua, tomando por base principalmente a noção relacional de sistema, o valor linguístico, para, então, criar possibilidades de diálogo com a perspectiva axiológica de língua presente em Mikhail Bakhtin. Tal perspectiva, neste autor, ganha corpo na conceituação de heterodiscurso e de gêneros do discurso, em que este objeto deve ser compreendido em relações de ordem social e histórica. Além disso, na elaboração linguístico-textual de um gênero, os enunciados operam em relação uns com os outros, a fim de aproximar e/ou confrontar diferentes vozes sociais e ideológicas. Enfim, partindo dessa episteme, que enxerga a língua e os efeitos que dela decorrem como objeto constitutivamente relacional, acreditamos ser possível um encontro entre os dois autores a fim de se ressignificarem formas de interpretar o mundo por meio da ciência da língua(gem).

2017 ◽  
Vol 1 (1) ◽  
pp. 160-162
Author(s):  
Dilton Ribeiro Couto Junior
Keyword(s):  

A presente tese teve por objetivo conhecer as marcas da abjeção colocadas em manutenção e funcionamento por normas regulatórias de gênero presentes nos contextos familiares e nos cotidianos escolares de jovens que não se identificam com a heterossexualidade. A pesquisa de campo foi realizada entre 2013 e 2015, no Facebook, através da imersão num grupo online constituído por cerca de 70 jovens de diferentes inserções socioeconômicas que se autodenominam gays/lésbicas/bissexuais. Em 2013, ano de entrada em campo, os sujeitos apresentavam idade variando entre 16 e 35 anos. A estratégia metodológica adotada foi o estabelecimento de conversas online realizadas, individual e coletivamente, com esses jovens. Os princípios teóricos foram norteados, principalmente, pelos estudos de pesquisadores que trabalham com questões de gênero e sexualidade amparadas pela perspectiva da teoria queer. Essa fundamentação teórica orientou a interpretação das conversas online realizadas no Facebook. Somado a isso, pela necessidade de compreender os fenômenos comunicacionais ciberculturais, com ênfase nas dinâmicas de interação e colaboração das redes sociais da internet, também me apropriei de reflexões dos campos de estudos das áreas da comunicação e educação. Além disso, a construção de uma proposta de pesquisa online de abordagem histórico-cultural foi realizada principalmente através dos conceitos de dialogismo e alteridade de Mikhail Bakhtin, me permitindo traçar os caminhos metodológicos necessários na interação com os jovens no Facebook. Nessa abordagem, pesquisador e pesquisados foram concebidos como coautores em um processo de produção de conhecimento que se constrói gradualmente com o outro, com as redes sociais digitais reconhecidos como lugares de encontro com o outro. O trabalho de campo evidenciou o engajamento e o protagonismo político dos jovens participantes do estudo, que se apropriaram do Facebook para fortalecerem os vínculos sociais e afetivos, promovendo a possibilidade de resistência frente à heteronormatividade a partir de ativismos que se constituíram através da potência do diálogo na/em rede. Ao ressaltarem o quanto as normas regulatórias de gênero estiveram presentes em seus cotidianos educacionais e contextos familiares, os relatos dos sujeitos apontaram para a urgência de se discutir sobre a heteronormatividade nas escolas e nos cursos de formação de professores, bem como no âmbito familiar, objetivando desmistificar a naturalização e normatização do modelo heterossexual. A interpretação do material da pesquisa permitiu questionar a heteronormatividade, problematizando e ressignificando o modelo heterossexual que vem sendo amplamente (re)produzido e naturalizado no discurso social, além de ter possibilitado, pela aproximação com a teoria queer, um pensar crítico sobre os processos escolares que desqualificam os comportamentos sociais que não se enquadram nos moldes heteronormativos. Enquanto cidadãos e educadores, se não repensarmos as questões ligadas aos corpos, gêneros e às sexualidades, continuaremos sendo cúmplices da predominância de práticas familiares e escolares pautadas num olhar de mera tolerância e respeito ao diferente e às diferenças. Para isso, defendo que é preciso queerizar o pensamento heterocentrado, re-imaginando a multiplicidade de formas de fabricações dos corpos, gêneros e sexualidades.


2018 ◽  
Vol 31 (62) ◽  
pp. 651
Author(s):  
Ivone Martins Oliveira ◽  
Sonia Lopes Victor
Keyword(s):  

Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados de análises de um estudo de caso sobre modos de interação estabelecidos entre uma criança com autismo e os adultos em uma brinquedoteca. Apoia-se nos estudos de Lev Semenovitch Vigotski e Mikhail Bakhtin, que abordam o papel da linguagem na constituição da consciência e enfocam os processos de significação que subjazem aos processos interativos. Os dados foram registrados por meio de filmagem, gravação em áudio e anotações em diário de campo em uma brinquedoteca universitária, que atendia crianças com e sem deficiência, contando para isso com a participação de graduandos do curso de Educação Física, docentes da universidade e uma psicóloga. As análises foram desenvolvidas de forma a compreender os processos interativos estabelecidos entre um menino com autismo de dois anos e oito meses, que não apresenta uma linguagem articulada, e dois adultos. As análises indicaram que a criança interage com adultos, utilizando recursos não verbais, os quais são significados por eles, o que permite manter a interação e enriquecer as possibilidades de interlocução. O estudo conclui que, mesmo não tendo uma fala articulada, essa criança se constitui como um sujeito em condições de se posicionar de forma ativa e responsiva nos processos interativos estabelecidos com os adultos. Nesse processo, o papel do adulto é fundamental de forma a criar condições favoráveis à participação da criança no jogo dialógico.


Author(s):  
Ira Bhaskar
Keyword(s):  

O artigo defende, embasado nas teorias de Mikhail Bakhtin, que a “poética histórica” pensada por Bordwell, ao se centrar efetivamente em aspectos formais e relativos ao modo de produção do cinema, constrói uma proposta neo-formalista, incapaz de se abrir para dimensões de sentido que as transcendem pois vinculadas a significações culturais e ideológicas incapazes de serem adequadamente contempladas pelo método empregado pelo autor. Tradução de Cid Vasconcelos.


2018 ◽  
Vol 12 (1) ◽  
pp. 191
Author(s):  
Mateus Yuri Passos

Neste trabalho, procuramos identificar os esforços de Joseph Mitchell para apresentar, em seus perfis e reportagens produzidos para a revista The New Yorker, aquilo a que Michel Maffesoli denomina "conhecimento comum", aqui colocado em diálogo ao conceito de "ideologia do cotidiano" proposto por Mikhail Bakhtin/Valentin Volochínov. Desse modo, percebemos uma estratégia de reportagem bastante polifônica em seu conjunto, em contraponto à reprodução de ideologias hegemônicas – partircularmente no gesto do repórter de trabalhar com "pequenos temas", com "fatias de vida", em vez de se debruçar sobre os grandes tópicos que estavam na agenda de discussão da sociedade americana no período. 


2015 ◽  
Vol 15 (62) ◽  
pp. 32
Author(s):  
Rogério Guimarães Malheiros ◽  
Genylton Odilon Rêgo da Rocha
Keyword(s):  

Este artigo tem por tema o processo de criação e consolidação da Escola Normal do Pará. Nosso objeto de pesquisa, portanto, são os discursos dos Presidentes da Província do Grão-Pará acerca da necessidade de se implantar, na capital da Província, cidade de Belém, uma Escola Normal destinada ao preparo específico de professores. Deste modo, nosso objetivo foi o de analisar os discursos dos Presidentes, de forma que pudéssemos depreender os objetivos destes para a implantação de uma Escola Normal, assim como as influências externas e internas, e, mais detidamente, a ambiência política e social em que fora constituído estes discursos em favor do “modelo” normalista de formação de professores. Como metodologia utilizamos a pesquisa documental a partir da análise do discurso, por meio da perspectiva de Mikhail Bakhtin, em especial o conceito de polifonia. Utilizamos como aporte teórico para a compreensão de nosso objeto a escola dos Annales, em especial, sua primeira e terceira gerações, relacionadas à compreensão das antíteses antigo/moderno, passado/presente e progresso/reação. Destarte, concluímos que a Escola Normal do Pará nasce de uma intricada questão de disputas políticas e ideológicas entre conservadores e liberais, e é possibilitada a partir de uma ambiência política e econômica.


2011 ◽  
Vol 4 (2) ◽  
pp. 2-6
Author(s):  
Francis Lampoglia ◽  
Valdemir Miotello ◽  
Lucília Romão
Keyword(s):  

Este trabalho estuda o funcionamento discursivo de duas páginas da web, sendo uma do Arquivo Público do Estado, referente à hemeroteca do jornal Última Hora, e outra referente ao site do jornal O Estado de S. Paulo, mais precisamente à seção "Especiais", intitulado "Nas páginas do Estadão, a luta contra a censura". Sob a orientação da Análise do Discurso de matriz francesa, fundada por Michel Pêcheux, com o apoio dos estudos sobre o dialogismo de Mikhail Bakhtin e das discussões sobre o virtual de Pierre Lévy, esse trabalho visa compreender o modo como são produzidos efeitos de sentido sobre o entrelaçamento de vozes que compõem as páginas web analisadas, bem como analisar qual a formação imaginária que tais sites constroem de si e de seus leitores através do discurso eletrônico. Inseridos em um ambiente eletrônico, os sites que abrigam acervos de jornais e revistas, além de constituir um arquivo sob uma perspectiva histórica, também tentam construir uma imagem de si e/ou do jornal que abrigam. Entendendo que a rede mundial de computadores é uma realidade, destacamos a importância de se estudar o discurso presente nos sites como forma de romper com a suposta neutralidade da imprensa e da web.


2017 ◽  
Vol 34 (2) ◽  
pp. 435 ◽  
Author(s):  
Nathan Willig Lima ◽  
Fernanda Ostermann ◽  
Claudio Jose De Holanda Cavalcanti
Keyword(s):  

Neste trabalho, apresentamos uma análise dos enunciados sobre Física Quântica presentes nas quatorze obras de Física aprovadas pelo Plano Nacional do Livro Didático do Ensino Médio em 2015. Utilizamos a Filosofia da Linguagem de Mikhail Bakhtin como referencial teórico metodológico com o objetivo de avaliar quais são as abordagens utilizadas pelos autores para introduzir a Física Quântica, quais os conceitos apresentados e quais visões epistemológicas são veiculadas nessas apresentações. Nossos resultados indicam que todos os livros optam por uma abordagem histórica, restringindo-se à velha Física Quântica. Os conceitos apresentados e a sequência de apresentação em trezes livros são praticamente idênticos aos encontrados em livros de Física Moderna utilizados no ensino superior, cometendo, inclusive, os mesmos erros historiográficos. Isso sugere que os autores veiculam os enunciados que aprenderam em suas formações sem um aprofundamento crítico. Todos os livros apresentam uma escolha lexical que pode ser associada à epistemologia positivista e treze livros apresentam uma estrutura composicional que se alia à mesma visão, a qual é considerada epistemologicamente ultrapassada. A apresentação reducionista presente nos livros didáticos atuais indica a necessidade de se avançar em abordagens de Física Quântica que rompam com a perspectiva positivista hegemônica.


2019 ◽  
Vol 6 (14) ◽  
pp. 181-215
Author(s):  
Tatiana do Socorro Corrêa Pacheco

Este artigo apresenta alguns resultados da pesquisa realizada no doutorado em Educação que teve como objetivo central explicitar a infância e as experiências educativas de crianças que não possuíam hanseníase, mas viveram isoladas no Educandário Eunice Weaver em Belém/Pará. A singularidade do grupo que frequentou a instituição os tornou atores centrais nesse processo de isolamento, nos direcionando para um estudo que nos possibilitasse apreender e registrar as experiências dos sujeitos que vivenciaram as suas infâncias naquele espaço e tempo. Os procedimentos adotados foram à entrevista em história oral híbrida e temática e a pesquisa documental. Organizamos as fontes orais em temáticas com base nas experiências mais significativas que emergiram das narrativas dos ex-internos sobre a infância e o cotidiano das crianças na instituição, com o intuito de nos aproximarmos da vida das crianças na instituição. Autores como Michel Foucault, Mikhail Bakhtin e Erving Goffman, nos deram aporte para as análises empreendidas. Os resultados da pesquisa revelam uma história de crianças que foram retiradas do convívio com seus familiares e do convívio social, construindo assim uma forma de se vivenciar a infância baseada no isolamento, no controle dos corpos infantis por meio do disciplinamento e da violência física e psicológica.


Opus ◽  
2020 ◽  
Vol 26 (1) ◽  
pp. 1
Author(s):  
Felipe Mendes de Vasconcelos
Keyword(s):  

O presente artigo explora a noção de dialogismo musical e a sua relação com o Tempo. Embora cada obra tenha seu contexto específico (sua época, sua cultura), ela não permanece aprisionada à sua contemporaneidade, seus contatos dialógicos se estendem ao passado e ao futuro e, por consequência, podem incidir ativamente sobre ambos. Para refletir sobre isso, este texto toma como eixo os pensamentos do filósofo e estudioso da linguagem Mikhail Bakhtin (que também transitava pela Música) e do compositor Luciano Berio (que tinha uma rica interlocução com os estudos da linguagem). Ao relacionar as propostas de Berio e Bakhtin, verificamos a plausibilidade de se observar o tempo como um todo simultâneo no qual os enunciados musicais podem interagir com o seu passado com a capacidade de modificá-lo e trazer consequências de volta para o futuro.


2016 ◽  
Vol 28 (2) ◽  
pp. 231-241
Author(s):  
Margarete Axt ◽  
Paula Marques da Silva ◽  
Joelma Adriana Abrão Remião

Resumo Este texto, ao adentrar os muitos planos traçados por uma história de pesquisa e formação esculpida numa zona de interferência com a filosofia, em especial com Gilles Deleuze, Henri Bergson e Mikhail Bakhtin, discorre sobre como a temática da cidade vai se tornando expressiva em seu devir experimentação, sugerindo um efeito-labirinto de nós em rede-de-nós, que não para de se bifurcar e, paradoxalmente, também não para de, em nós, se condensar como um efeito-cidade-em-nós. Um encontro (est)ético com cidades construídas por crianças no entrelaçamento do currículo programático escolar e a cidade do cotidiano, tecendo-se em composições narrativas.


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