scholarly journals Agostinho: a inquietação como fonte

2019 ◽  
Vol 8 ◽  
pp. 10-22
Author(s):  
Silvia Contaldo

O propósito deste texto é fazer uma aproximação entre Santo Agostinho (354-430) e Etty Hillesum (1914-1943), no que serefere à experiência mística. À primeira vista pode parecer que entre um autor e outro há uma distância abissal. Certo. Agostinho viveu entre os séculos IV-V e assistiu a decadência do Império Romano. Por sua vez, a jovem Etty Hillesum viveu no século XX –uma vida breve –mas suficiente para testemunhar os horrores de Auschwitz.O elo entre estes dois autores, portanto, é supratemporal e se dá pela busca da via mística, que ambos procuraram. Etty, leitora de Agostinho, declara em seuDiário, reiteradas vezes, que o importante é a via da interiorização, a via de busca de si mesmo, no mais profundo de si. É o que importa em tempos sombrios e obscuros, talvez para suportá-loscom mais dignidade e lucidez. Agostinho, que vivera muitos séculos antes, também presenciou violências e iniquidades e a inquietação sempre foi a sua fonte. Fonte interior para onde se deve voltar. Não se trata de um ensimesmamento, um narcisismo às avessas, mas de um exercício espiritual, místico, à procura de um território interior, de recantos místicos cuja fonte é a inquietação e, ao mesmo tempo, fortalecimento de si.

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