scholarly journals Como transformar prédios em montanhas

2021 ◽  
Vol 5 (1) ◽  
pp. 73-87
Author(s):  
Guilherme Guimarães Sebastião

No ensaio A Invenção da Paisagem (1990), a filósofa francesa Anne Cauquelin discute a percepção do espaço investigando possíveis relações entre a produção imagética ocidental no gênero “paisagem” e a percepção visual humana, num percurso que problematiza o estatuto da paisagem como análogon da natureza. Para Cauquelin, o advento da paisagem como imagem e como percepção peculiar resulta de um processo de educação da sensibilidade que é articulado em dois movimentos: o entrelaçamento da ação perceptiva com um paradigma imagético culturalmente constituído, especialmente pela pintura renascentista, e o ajuste dos dados sensoriais a tal estrutura cultural. A conclusão de Cauquelin é que perceber a paisagem é, acima de tudo, compô-la. Segundo a autora, a paisagem urbana, aparente contraponto da dobra que produz a paisagem-natureza, ressalta o caráter criativo intrínseco à noção de paisagem, uma vez que nela são utilizados os mesmos recursos de percepção acionados ante o lirismo de um bosque europeu ou a imponência das montanhas. O interesse deste estudo é utilizar as teses apresentadas por Cauquelin para analisar as paisagens urbanas produzidas pelo fotógrafo brasileiro Nelson Kon a fim de tentar responder à seguinte questão: podemos, com a teoria de Cauquelin, compreender quando a paisagem urbana surge para nós, citadinos do século XXI, e em que momento ela se dissipa diante de nossos olhos?

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