scholarly journals Nietzsche e o Controverso Ideal de Emancipação Feminina

2021 ◽  
Vol 39 (2) ◽  
pp. 227-238
Author(s):  
Patrícia Sheyla Bagot de Almeida

Se as considerações de Nietzsche sobre a mulher são variadas, difíceis e até problemáticas, posto que não se pode atribuir um único sentido ao termo, o mesmo, em parte, não ocorre com o termo emancipação. Nietzsche apresenta aforismos nos quais demonstra algumas noções atribuídas ao termo. Não obstante, o filósofo trata da emancipação feminina não do ponto de vista exclusivamente político, mas da mulher como uma ideia “em si”. Neste artigo, partirei de alguns aforismos da obra Além do bem e do mal, de 1886, na qual é possível verificar o sentido que ele dá ao termo, assim como esquadrinhar os indícios do modo como ele lê a crença da igualdade buscada pela mulher, a fim de demonstrar a incoerência da proposta de emancipação, uma vez que, a partir da quebra da distinção e do abandono da diferença entre homem e mulher, é que se exigia o sacrifício da internalização dos valores masculinos em um consequente esvaziamento, embotamento e regressão do que é singular na mulher. Para desenvolver o objetivo proposto, relacionarei o tema a outros aforismos a fim de ressaltar que a problemática da emancipação feminina como condição sine qua non de pertencimento do espaço público, locus no qual as ações políticas são efetivas e consideradas, fora também problematizadas por Wollstonecraft, no que Carole Pateman denominou o “dilema Wollstonecraft”, a saber, exigir igualdade é aceitar a concepção patriarcal de cidadania, na qual as mulheres devem parecer-se aos homens a fim de serem vistas no cenário público, âmbito da ação política. Assim, buscarei examinar a análise de Nietzsche no que tange a emancipação feminina e seus desdobramentos conceituais, sem, no entanto, deixar de realizar outras tecituras com autoras que pensaram essa concepção.

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