scholarly journals Da literatura indianista à literatura indígena: sobre a imagem, o lugar e o protagonismo indígena em termos de constituição da identidade cultural brasileira

Rapsódia ◽  
2021 ◽  
pp. 84-119
Author(s):  
Leno Francisco Danner ◽  
Julie Dorrico ◽  
Fernando Danner

Tematizamos a imagem, o lugar e o protagonismo do/a indígena na formação da cultura e da identidade nacionais a partir de uma contraposição entre a literatura indianista, em que o colonizador, o modelo antropológico do europeu branco e cristão, fala sobre o/a indígena, e a literatura indígena contemporânea, em que o/a próprio/a indígena fala de si mesmo/a e por si mesmo/a, a partir de suas experiências e histórias como minoria político-cultural produzida pela colonização e sustentada em termos de modernização conservadora. O que impressiona nessa discussão é exatamente o fato de que o/a indígena como antítese da civilização e como massa amorfa a ser moldada para a consecução do novo mundo justifica tanto a colonização quanto o processo contemporâneo de modernização conservadora, servindo de objeto para a legitimação de processos institucionais, de sujeitos sociopolíticos e de projetos de desenvolvimento que implicam na aniquilação do/a indígena como indígena. Em tudo isso, o mito da fusão racial, apresentado pela literatura indianista, é a grande base normativa de nossa modernização conservadora, pois, ao gerar o híbrido brasileiro como mistura e amálgama indiferenciados de todas as raças em um novo ser, que é e tem tudo de todos, apaga as fronteiras entre dominadores e dominados e, com isso, resolve de modo apolítico a história de violência da colonização, formando a grande família Brasil que, daqui para diante, não precisará mais da política, mas apenas da ordem autoritária e da obediência cega, para resolver seus problemas de família.

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