Monstros nas fronteiras da cultura: das alteridades impensáveis
Este artigo discute aspectos da concepção sobre “raças monstruosas” que, no imaginário antigo e medieval, habitavam as bordas do mundo conhecido. Com isso, espera-se explicitar um tipo de construção do “outro” – sua identidade e representação –, via imaginário do monstro, isto é, a forma literal na qual estranhas criaturas incorporam a diferença/alteridade. Parte-se da premissa de que monstros operam primariamente em formas de imaginário que são mobilizadas por estratégias de representação. Dito de outra maneira, a corporeidade anormal e híbrida dos monstros inventados tem consequências reais para a percepção (horror e fascínio, rejeição e reconhecimento) nas relações eu-outro que se concretizam no mundo tangível. Desse modo, a conjugação entre fisicalidade, expressões de identidade e manutenção de fronteiras determina, entre outros comportamentos, visões pré-concebidas e distorcidas do outro e sua cultura, assim como cria certos estereótipos que são perpetuados pela cristalização do que uma vez fora apenas uma manifestação do imaginário.