Internacionalização da educação superior

É com muito prazer que apresentamos o volume 07 (sete) da nossa Revista Internacional de Educação Superior - RIESup, ano de 2021. Neste volume temos um total de 45 publicações, sendo 25 (vinte e cinco) artigos, 07 (sete) relatos de pesquisas, 08 (oito) relatos de experiência, 04 (quatro) resenhas e 1 (uma) entrevista. Faremos uma breve apresentação de cada texto para que o leitor possa ter conhecimento do objetivo proposto pelo autor em cada discussão apresentada neste volume.

formação da subjetividade empresarial e a implementação da cultura performativa na educação

O presente artigo tem por objetivo compreender como a formação da subjetividade de cunho empresarial – produtivista e concorrencial - tem potencializado a construção de uma cultura de permormatividade competitiva no âmbito da educação superior e impactado sobre as condições de trabalho e o modelo/projeto de vida dos trabalhadores docentes. A captura da subjetividade pela racionalidade toyotista/neoliberal, responsável pela formação de um novo sujeito (autogovernável/gestor de si), enseja a elevação da performance individual, de modo a reduzir os custos reais de produção, e o desenvolvimento de uma nova governança do Estado, centrada na privatização e mercadorização das empresas e dos serviços públicos. Assim, o projeto de reterritorialização capitalista vigorou o processo de mercantilização da educação superior, mediante a expansão do setor privado/mercantil e a crescente subordinação das instituições públicas às regras do mercado. A implementação de políticas de cunho mercantilistas e economicistas têm estimulado a generalização da concorrência e o aumento da performance produtiva das instituições de educação superior (públicas e privadas). O medo/instabilidade e a responsabilização, decorrentes das políticas de avaliação quantitativa e de flexibilização das relações e condições de trabalho, compreende a formação (subjetiva) de um novo profissional da educação, mais eficiente, competitivo e subserviente as condições de trabalho precarizadas. Trata-se de um estudo exploratório, quanto aos objetivos, e bibliográfico, de cunho hermenêutico-analítico, quanto aos procedimentos.

O uso de diferentes estratégias em aulas de química para o ensino superior

Este relato descreve a experiência que foi desenvolvida na disciplina de Métodos Instrumentais de Análises Químicas do 4° semestre do curso Superior de Tecnologia em Alimentos de uma instituição pública no interior do RS. Utilizou-se diferentes atividades, planejadas de maneira sequencial, e com uso de diferentes estratégias e recursos didáticos: aulas expositivas- dialogadas; abordagem temática; pesquisa; planejamento e realização de atividades experimentais; escrita de artigo e apresentação oral. A partir dos assuntos abordados nas aulas expositivas e a percepção acerca das implicações sociais da Química e das tecnologias em suas vidas, os estudantes sugeriram o tema água para consumo humano e os métodos de oficiais de análise para a realização de uma pesquisa bibliográfica. Após isso, os estudantes fizeram a coleta e as análises físico-químicas das amostras de água. E na sequência, apresentaram os resultados no formato de um artigo, seguido de uma apresentação oral. Observou-se que a experiência motivou e despertou o interesse pelos assuntos estudados na disciplina e contribuiu para aprendizagem e apropriação do conhecimento. Cabe salientar ainda que, diferentemente de semestres anteriores, não houve nenhuma reprovação por infrequência ou nota. As avaliações individuais, a desenvoltura na realização das atividades laboratoriais, o domínio e conhecimento demonstrado durante a apresentação e discussão dos resultados ratificam essa constatação.

Jogo didático no ensino de conceitos lean na disciplina de administração de obras

A mentalidade enxuta visa reduzir ou eliminar as atividades que não agregam valor ao produto através de melhorias contínuas e da redução de perdas. Trata-se de uma filosofia originada na década de 1990 e que, aos poucos, foi incorporada aos currículos dos cursos de Engenharia de Produção e Civil. Sob esse aspecto, por entender que a utilização de jogos didáticos pode ser eficiente, ao passo que estimula a participação e motiva os envolvidos, buscou-se investigar a utilização desse recurso pedagógico na difusão dos conceitos Lean entre futuros profissionais do setor. Diante do exposto, o presente trabalho originou-se de uma experiência com a aplicação do jogo Fábrica de Canetas em uma turma da graduação em Engenharia Civil. Para tal, foram realizadas simulações que permitiram abordar conceitos relativos à Produção Enxuta e ao gerenciamento da produção e, ao final, foi solicitado, aos integrantes dos grupos, a elaboração de um relatório sobre o que foi aprendido. Após a aplicação do jogo, foi possível observar maior participação dos discentes ao desenvolverem as atividades e ao comentar sobre os aspectos positivos e o que poderiam ser melhorados. Conclui-se, portanto, que os jogos podem auxiliar no ensino de teorias, sendo complementar ao que outrora fora visto em sala de aula.

Política externa brasileira, cooperação sul-sul e ensino superior brasileiro

Este artigo tem o objetivo de verificar em que medida o Programa Estudantes Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG) pode ser considerado como um programa que atende aos princípios da Cooperação Sul-Sul (CSS). Para tanto, buscou-se investigar mais a fundo qual o posicionamento da política externa brasileira no momento de concepção do programa, depois buscou-se compreender os motivos reais que proporcionaram a criação do PEC-PG e por fim, buscou-se investigar a concepção de Cooperação Sul-Sul e observar em que medida ela se distancia do modelo comum de cooperação e descobrir se o Programa Estudantes Convênio de Pós-Graduação (PEC-PG) poderia ser considerado um programa de cooperação que atende aos princípios que balizam a Cooperação Sul-Sul. O desenvolvimento do trabalho se deu através de buscas documentais, periódicos, teses e livros, o paradigma adotado foi o interpretativista, uma vez que o sujeito vê o mundo social na forma de um processo social criado pelos indivíduos envolvidos. Como considerações finais, foi possível observar que o PEC-PG foi criado ensejando auxiliar o desenvolvimento econômico nacional da época e que, embora seja um programa de cooperação entre os países do Sul, não pode ser caracterizado como um programa que atende aos princípios da Cooperação Sul-Sul, pois algumas prerrogativas do programa se distanciam do proposto pela CSS.

Estado do conhecimento da educação superior no Brasil

O tema Educação Superior é bastante recorrente nos debates e pesquisas científicas no campo educacional. Por ser um tema ligado diretamente há uma área central da formação humana, as pesquisas em educação superior acabam tensionando diversos eixos interpretativos e suscitando questões coevas às problemáticas atuais. O artigo tem por escopo apresentar, a partir do Estado do Conhecimento, os temas e questões sobre a educação superior. O problema investigativo se caracteriza pelas perguntas: o que os pesquisadores da área da educação superior estão publicando? Quais os temas? Quais os conceitos? Quais as questões levantadas? As perguntas anunciam a complexidade da área e apontam as tensões decorrentes das disputas pela hegemonia de um projeto de educação superior. Os acervos científicos selecionados foram: ANPEd, Portal de Periódico CAPES e a base SCIELO, no recorte temporal de 2017-2020. Esta investigação foi bibliográfica e teve como base de análise a metodologia histórico-crítica. Os dados categorizados permitem aferir que existe uma produção cientifica em Educação Superior densa e variada. A análise nos ajudou a compreender a preocupação dos autores em debater questões atuais sobre a educação superior brasileira, e que mesmo com uma produção temática sólida, ainda persistem certos valores hegemônicos que representam uma unidade ética nas investigações em diversas frentes de atuação. Além disso, ficou evidente o crescente movimento de mercantilização da educação superior neste período de 2017 a 2020 no Brasil, fruto das Políticas Internacionais de Educação que vem sendo impostas desde a construção e integração do Espaço Europeu de Educação na Europa.

A expansão da educação a distância no Brasil e as contradições entre capital e trabalho

O texto analisa o fenômeno de expansão da educação a distância (EaD) no Brasil, comandado pelo setor privado-mercantil. O Estado tem incentivado essa expansão por meio de desregulação e flexibilização das normas para abertura de polos e cursos, atendendo, portanto, ao lobby do setor empresarial que enxerga, na EaD, uma alternativa de negócios para a crise econômica enfrentada pelo Brasil na última década. A racionalidade economicista que procura associar formação rápida e custos menores das mensalidades é imposta aos trabalhadores, submetidos ao aprofundamento do processo de exploração e desmonte das estruturas de proteção social do trabalho. Forja-se um projeto de formação em massa da classe trabalhadora, pela via da EaD nas Instituições de Ensino Superior (IES) privado-mercantis, cujos desdobramentos a longo prazo são incertos e demandam a continuidade dos estudos. A abordagem metodológica está assentada nas contribuições do materialismo histórico-dialético. Os procedimentos da pesquisa pautaram-se por revisão bibliográfica, análises documentais, consulta às bases de dados estatísticos do Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais (Inep) e às páginas eletrônicas das IES. Os resultados apontam que as corporações empresariais atuam para minimizar os efeitos da crise econômica no desempenho financeiro dessas instituições; além disso, buscam construir consensos em torno da viabilidade econômica, pedagógica e formativa dos cursos a distância, cujo público-alvo são jovens excluídos do acesso às instituições públicas de educação superior.

Guia para internacionalização universitária

A Internacionalização da Educação Superior é um tema emergente e faz parte das agendas, tanto institucionais, quanto de organismos multilaterais que já discutem o tema há mais tempo. No Brasil, as pesquisas relacionadas a esta temática vêm em uma crescente, mas ainda embrionária se comparada principalmente com países do Norte Global. Também por isso, é importante discutirmos sobre o assunto desde o ponto de vista local para refletir e melhor compreender este movimento em um nível mais global. Esta é a proposta da obra “Guia para a Internacionalização Universitária”, publicada pela Editora EdiPUCRS no Brasil em 2019. O livro organizado pela Professora Dra. Marília Costa Morosini apresenta diferentes perspectivas para a temática da Internacionalização da Educação Superior ao abordar reflexões teóricas com pesquisas empíricas, oriundas de percursos acadêmicos de diferentes pesquisadores e espaços universitários apresentados ao longo dos seus 14 capítulos.

Desafios e perspectivas para a formação docente na licenciatura em educação do campo com habilitação em artes e música no contexto norte do Brasil

A Educação do Campo tem sido no Brasil tema bastante problematizado no Brasil nos últimos anos. Embora tenha conquistado nos últimos anos avanços significativos por meio da criação de programas como o PRONERA e o PROCAMPO, vêm passando por inúmeros desafios quanto ao acesso e à permanência do jovem e do adulto camponês na universidade. A partir de uma perspectiva bibliográfica e empírica, esta pesquisa tem como objetivo principal apresentar uma compreensão da Educação do Campo enquanto uma educação voltada às especificidades dos povos que moram e trabalham no campo, tendo como parâmetro a experiência com as LEDOC da UFT em Tocantins. Para as análises dos dados, o estudo seguiu a perspectiva do Materialismo Histórico e Dialético. O indígena, o quilombola, o ribeirinho, o assentado, os atingidos por barragens, o agricultor familiar, o extrativista, entre outros que vivem e produzem as suas condições materiais de sobrevivência no campo, vão para a universidade não porque eles sejam obrigados, mas porque têm interesse e necessidade de aprender. Acessar e frequentar a universidade é estudar num lugar que foi negado historicamente para eles. É enfrentar uma realidade que os exclui, com o objetivo de superá-la. Consideramos, enfim, que a materialidade dos cursos da LEDOC da Universidade Federal do Tocantins configura uma realidade recente na realidade educacional brasileira e constitui-se como uma nova modalidade de graduação conquistada a partir das reivindicações dos movimentos sociais, cuja expansão se deu prioritariamente nos governos dos presidentes Lula e Dilma.

Engajamento em estudantes universitários

O engajamento é um constructo considerado um estado cognitivo positivo, persistente no tempo, de natureza motivacional e social, não focado em um único objetivo ou situação. O engajamento, no contexto acadêmico, sugere uma experimentação, por parte de estudantes, de ações que indicam elevado grau de implicação em suas atividades estudantis. Portanto, o objetivo deste estudo foi investigar o engajamento de estudantes nas atividades acadêmicas. Trata-se de pesquisa quantitativa, transversal, realizada com análises descritivas, de correlação, de comparação de médias e regressões padronizadas. Foram utilizados: questionário sociodemográfico para caracterização da amostra e o Utrecht Work Engagement Scale – Students. Este instrumento apresentou regressões fatoriais elevadas (β>0.40), correlações internas positivas e significativas (p<0.01) e Alpha de Cronbach das três dimensões superior a 0.80, indicando adequada qualidade psicométrica. A amostra foi composta por 368 acadêmicos de uma Instituição de Ensino Superior do estado do Paraná. Observa-se de forma geral, níveis medianos de engajamento acadêmico. Inclusive foram identificadas diferenças de médias significativas entre as dimensões do UWES-S e variáveis sociodemográficas como sexo, filhos, curso e período. Por fim, os resultados evidenciam que os estudantes apresentam engajamento mais elevado no início da graduação e que este deve ser cuidadosamente gerido para não ser deteriorado ao longo dos anos vividos na academia.