Esta obra é composta de textos, crônicas, versos e poesias de autores regionais que tiveram suas vidas marcadas e transformadas a partir do ano de 1910, com a chegada da ferrovia, evento que mudou não só a face da cidade de Ipueiras, no interior cearense, mas também seus hábitos, costumes e modo de vida. As cidades e vilas por onde a ferrovia passou convidam a viajar pelas páginas do tempo, seguindo os trilhos da antiga estrada de ferro, mais conhecida como Linha Norte. Ligando a cidade de Camocim aos Sertões dos Inhamuns, cortando milhas e milhas de sertões bravios com suas imponentes locomotivas, chamadas carinhosamente de “Maria Fumaça”, semelhantes a verdadeiros “Dragões de Ferro”, cuspindo fogo e sibilando, anunciando que o progresso finalmente havia chegado ao Sertão. É um trabalho, encabeçado pela Secretaria de Educação de Ipueiras, que buscou parceria de autores ipueirenses já consagrados, como o jornalista Frota Neto, a cordelista Dalinha Catunda, como também de pessoas que se interessam por nossa história, como a Mestra em Geografia Luciana Andrade Catunda, o historiador Antônio Genilson Vieira de Paiva, o professor Francisco de Assis Lima (Fury), o ipueirense Tadeu Fontenele e, ainda, um belíssimo texto do saudoso cronista ipueirense Bérgson Frota (in memoriam), já publicado anteriormente no jornal O Povo. Este livro traz também, em comemoração ao centenário ocorrido em 2017, do ilustre ipueirense Gerardo Mourão, um belíssimo texto intitulado “Gerardo Mello Mourão e o Trem”, de autoria do seu biógrafo, o reconhecido escritor cearense José Luís Lira. Se pudéssemos comparar esta jornada literária a uma locomotiva, poderíamos dizer que o combustível seria a saudade e o maquinista seria uma mistura nostálgica das figuras daqueles tempos. No primeiro vagão, viria uma imensa carga de informações sobre a história do surgimento da Linha Norte, com o impacto da sua chegada em nossa localidade, segundo o olhar do Professor Genilson Paiva. O segundo vagão traria um relato da Mestra em Geografia Luciana Catunda sobre “O algodão e a ferrovia na mobilidade do território cearense”, um destaque para o escoamento da produção algodoeira, o chamado “ouro branco”. No terceiro vagão, viriam as valiosas crônicas do professor Fury, que nos transportam até a antiga estação ferroviária, com o seu vai e vem de viajantes: aventureiros, comerciantes, migrantes em busca de melhores oportunidades ou, simplesmente, passageiros que faziam de cada chegada e partida do trem sempre um grande acontecimento, que atraía olhares curiosos, vendedores ambulantes e até mesmo as moças da cidade, que, como nos romances de Leon Tolstói, sonhavam em encontrar ali um grande amor. No quarto vagão viria o encanto e a beleza do trabalho de Dalinha Catunda, neta do “chefe da estação”, seu Gonçalo Ximenes Aragão, que nos embala em seus versos e poesias, onde a alegria da chegada dava lugar à tristeza da partida, até a chegada do próximo trem na estação. Dalinha nos conta a história da passagem de um rei por Ipueiras – não um rei qualquer, mas um rei nordestino – o Rei do Baião. No ano de 1966, no prédio da estação, cantou para aquela gente que delirava com os acordes da sanfona do “Velho Lua”. O quinto vagão vem carregado de nostalgia e de personagens da infância e juventude do jornalista Frota Neto, que se perpetuaram na história do trem e nos fazem sentir como se lá também estivéssemos vivenciando aquele cotidiano que ainda hoje se faz presente pelas estórias e anedotas de figuras como a Dona Maria Capoeira – cafezeira e quituteira da estação ferroviária, testemunha de grandes momentos desta história, agora existente somente na memória dos antigos e pela presença dos velhos trilhos e estações ferroviárias que insistem em resistir à força do tempo e do descaso das políticas governamentais e de preservação patrimonial. No sexto vagão, Tadeu Fontenele nos fala sobre o “Show do Luiz Gonzaga em Ipueiras” e faz uma narrativa linda da sua aventura com sua mãe, Dona Ineizita, na garupa da sua bicicleta, do Centro da cidade até o Bairro da Estação, para não perder a apresentação do ídolo. O sétimo vagão traz uma crônica do jovem escritor ipueirense Bérgson Frota, cujo título, “O Tempo do Trem em Ipueiras”, bem poderia dar nome a este pequeno livro, de tanto que se identifica com o sentimento comum aos demais autores. O oitavo vagão viria trazendo o orgulho de nossa Ipueiras ter como filho o ilustre poeta Gerardo Mourão, cujo centenário de nascimento ocorreu em 2017, comparado a Dante Alighieri, eleito pela Guilda Órfica, secular irmandade internacional de poetas, o maior poeta do século XX, conforme trajetória sintetiza tão bem o Professor Zé Luís Lira. Finalmente, no último vagão, os professores Ronaldo Moreira e Paula Gaspar nos presenteiam com recortes da história da Escola Juarez Catunda, localizada no Bairro da Estação, equipamento que viabilizou a realização deste projeto, através do Programa Mais Cultura nas Escolas, onde os idealizadores optaram, dentre tantas alternativas, por nos trazer estes Escritos Sobre a Estação Ipueiras.