O corpo negro sempre foi, desde o momento de encontro do conquistador e dos povos não-brancos, e ainda é a base para as inserções do racismo e discriminação na sociedade. Em se tratando do corpo negro feminino, salienta-se que ele produz o discurso da sensualização, do desejo e da libido e observamos que a aceitação dele como algo indiferente ao caráter das mulheres ainda é um impasse para que as relações humanas sejam igualitárias. Desse modo, a sociedade, encabeçada pela mídia e indústrias de cosméticos e de moda, transmite aos indivíduos uma dura regra que exclui, diversas vezes, as características dos corpos negros como um padrão de beleza: os cabelos encaracolados são rotulados como ‘ruins’ ou ‘rebeldes’, estando sempre sujeitos aos alisamentos e clareamentos; os traços negros devem ser suavizados pela maquiagem que suaviza os narizes alargados e lábios muito volumosos; a pele negra é branqueada pela maquiagem que insiste em esconder o escuro e valorizar o tom claro, a moda destinada ao público negro, muitas vezes, é imbuída da ideologia do exótico, do falso multicultural. Tudo isso faz com que o negro tenha dificuldades em aceitar sua negritude, a ponto de buscar incessantemente o branqueamento para que possa pertencer à sociedade que prega, ainda hoje, a eugenia. Assim sendo, este trabalho tem por objetivo analisar dois poemas em língua inglesa que discutem a questão da imposição do branqueamento e o apagamento das características dos corpos negros como meio de aceitação na sociedade, a saber: “Kinky Hair Blues”, de Una Marson e “if your complexion is a mess”, de Harryette Mullen. A metodologia se baseia na discussão e aplicação das teorias sobre racismo, discriminação e identidade desenvolvidas por Hooks, Davies, Hall, entre outros. Os resultados revelam que o corpo se figura como lócus da construção da identidade do negro, porém, ele deve negar sua cor e sua identidade para que tenha condições de pertencer à sociedade em que está inserido.