A coerência interativa no discurso político de posse e sua didatização em sala de aula da Educação Básica

O gênero discurso de posse é ainda pouco utilizado em sala de aula da Educação Básica. Ele possui um formato específico, decorrente do seu contexto de produção, que é da esfera política. É marcado pela gratidão aos eleitores e pela promessa de realização dos projetos apresentados durante a campanha pelos candidatos eleitos. Deixam marcas do espaço enunciativo, das vozes, posicionamentos e modalizações quanto aos diferentes conteúdos tratados. Analisamos os discursos de Alzira Soriano (primeira prefeita da América Latina. Lajes/RN), Dilma Rousseff (primeira presidenta da República Federativa do Brasil) e Fátima Bezerra (única mulher eleita para governadora nas últimas eleições). Temos dois objetivos para esse artigo: analisar em que o discurso de posse muda no tempo, considerando também a constituição da coerência interativa em cada texto; e apresentar uma proposta de didatização do discurso de posse. Para isso, usamos os estudos da Tradição Discursiva (COSERIU, 1981; KABATEK, 2003) e o Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 2019, 2006, 1999; DOLZ, NOVERRAZ e SCHNEUWLY, 2004), ressaltando a coerência interativa, marcada pelas vozes e pelos posicionamentos e pelas modalizações. Propomos uma intervenção didática (LEURQUIN, 2014, LEURQUIN e BEZERRA, 2020), adaptada da proposta de Cicurel (1991).

Voto de Ministro do Supremo Tribunal Federal: historicidade e didatização de um gênero jurídico

Esta contribuição é uma primeira exploração de um corpus de um gênero jurídico particular, o voto de Ministro do Supremo Tribunal Federal. O estudo das regularidades deste gênero e sua evolução na tradição jurídica brasileira são contextualizados e analisados a partir do início do século XX até a atualidade. Um esboço do modelo didático do gênero é proposto. Os resultados de uma análise contrastiva de uma amostra de dois exemplares do gênero, de 1905 e de 2020, que abordam conteúdos relativamente próximos, colocam em evidência as dimensões mais significativas do gênero e as características da linguagem jurídica mobilizada em língua portuguesa. Os autores fazem a hipótese de que as mudanças observadas estão em relação com a evolução do contexto político brasileiro entre os diferentes períodos históricos, com as contingências do funcionamento do Supremo Tribunal Federal e com o desenvolvimento crescente da intertextualidade com outros gêneros jurídicos. O conjunto do trabalho mostra sobretudo a pertinência da análise da historicidade do gênero e das potencialidades da modelização didática proposta para a formação profissional retórica oral e escrita.

Interacionismo Sociodiscursivo, Linguística Integral e Tradições Discursivas: convergências e divergências

Esta contribuição pretende evidenciar convergências e divergências entre a corrente conhecida como Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1997, 2008) e a Linguística integral preconizada por Coseriu (1984, 2007), analisando igualmente a filiação coseriana e o enquadramento teórico da noção de Tradições discursivas (KABATEK, 2007, 2018). O percurso realizado começa por focar o entendimento de textos, discursos e línguas, no âmbito das perspetivas consideradas, para discutir depois, de forma mais específica, o caráter hiperonímico e teoricamente livre que é atribuído à noção de tradições discursivas. A concluir, destaca-se a condição social e dialógica da historicidade humana e, na base dessa convergência epistemológica entre o ISD e o pensamento de Coseriu, reitera-se o interesse de dar continuidade à tarefa de uma linguística do texto, tal como perspetivada por Coseriu, no sentido de compreender e justificar a autonomia do nível textual.

Problemas metodológicos para a análise de textos históricos: o caso “Fusca” (1950-1970)

O objetivo deste trabalho é observar alguns problemas metodológicos que se colocam para a análise de textos históricos. Entendemos por “textos históricos” aqueles que, sendo objeto empírico de análise em uma pesquisa, foram produzidos e circularam originalmente em condições sócio-temporais diferentes às da contemporaneidade do analista. No trabalho identificamos os seguintes problemas: a contextualização, a confiabilidade, o possível olhar anacrônico e a conformação do corpus. A problematização é desenvolvida a partir de um exemplo concreto: o caso das campanhas publicitárias de um carro da Volkswagen no Brasil nas décadas de 1950 e 1960 - exemplo esse que denominamos “o caso «Fusca»”. No presente trabalho assumimos a perspectiva teórica-epistemológica do Interacionismo Sociodiscursivo (Bronckart et al. 1985, Bronckart 1997, 2008, entre outros). A finalidade última do nosso artigo é aportar elementos para a construção de um desenho metodológico adequado para a análise de textos históricos (e para a análise da historicidade de gêneros textuais) no quadro do projeto HISTEL.

O DEBATE POLÍTICO: U M GÊNERO PARA O ENSINO DA ORALIDADE

Situado na corrente de tradição discursiva, dada a sua recorrência na história, o debate político constitui um gênero exemplar para o ensino da oralidade. A prática linguageira e social desse gênero pressupõe saberes específicos e, em especial, a capacidade de argumentar. Este trabalho, de cunho exploratório (GIL, 2009), objetiva analisar o debate político no contexto brasileiro, sob o prisma da historicidade, de forma a verificar, por um lado, quais elementos caracterizam essa prática social. Por outro lado, examinar os elementos estáveis bem como as possíveis mudanças ocorridas no período de tempo selecionado para a presente de pesquisa. Assim, o nosso corpus é constituído de dois exemplares de debates entre presidenciáveis realizados em contextos históricos extremos (1989 e 2018) Ancoramo-nos nos pressupostos teóricos do Interacionismo sociodiscursivo (BRONCKART, 1999, 2008) e da tradição discursiva (KABATEK, 2006) de forma a dialogar com ambas as correntes para apreender a maneira como nos relacionamos e modificamos os pré-construídos e como eles regulam o nosso agir nas atividades sociais e o nosso agir de linguagem. Com isso, buscamos focar as dimensões ensináveis do nosso objeto de pesquisa que ancoram a construção de um modelo didático.

Permanências e inovações no editorial jornalístico em duas línguas: percursos do impresso ao digital

Nesta comunicação, buscamos contribuir, por um lado, com discussões acerca das tradições discursivas (COSERIU, 1981, 2007; KOCH, 1997; KABATEK, 2006, 2015) em sincronia presente, colocando em pauta a comunicação eletrônica ou a comunicação mediada por computador, isto é, ações de linguagem realizadas em ambiente digital, e, por outro, com propostas de ensino, baseadas na perspectiva do Interacionismo Sociodiscursivo (BRONCKART, 1999), que contemplem a historicidade da língua e do texto. Ancoradas, portanto, em discussões que envolvem a historicidade do gênero e da língua, desta vez com ênfase no contexto contemporâneo, partimos da seguinte questão norteadora: como a tensão entre permanência e inovação reelabora o uso da língua/linguagem no ambiente digital? Tomamos, então, como corpus de investigação para este trabalho 02 (dois) jornais, um de língua portuguesa e outro de língua espanhola dos séculos XX e XXI, em versão impressa e em versão digital. Para além de levantar aspectos relacionados às já citadas inovações e permanências, nosso estudo se volta também para questões atinentes ao ensino desse gênero, considerando as orientações da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento de referência que estabelece as habilidades e competências fundamentais para cada etapa da educação básica. Segundo a BNCC (2017, p. 68), refletir sobre as transformações ocorridas nos campos de atividades em função do desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação possibilita olhar novos gêneros e novas práticas de linguagem próprias da cultura digital, reconhecendo-lhes o processo de reelaboração em decorrência das transformações pelas quais passam o texto, as formas de interação e de compartilhamento de textos/conteúdos/informações.

Possibilidades de trabalho com as Tradições Discursivas na aula de português: considerações a partir das habilidades da BNCC-EM

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), criada para orientar os rumos da Educação Básica no Brasil, elenca habilidades que remetem ao conjunto de aprendizagens essenciais aos estudantes brasileiros. Sabendo que esse documento se fundamenta numa concepção de língua socio-historicamente situada e da importância de entendê-la como um construto discursivo, social e histórico em constante transformação, objetivamos, com este estudo documental, identificar, nas habilidades de Língua Portuguesa presentes na BNCC do Ensino Médio (BNCC-EM), elementos que remetem ao ensino/aprendizagem da língua por meio das tradições discursivas. Para tanto, estabelecemos diálogos entre princípios do Interacionismo Sociodiscursivo (ISD) (BRONCKART, 2002, 2003, 2006; Dolz, Schnewlly, 2004) e das Tradições Discursivas (TD) (OESTERREICHER, 2002; GOMES, 2007, 2012, 2018; ZAVAN, 2009), de modo a identificar, nessas habilidades, espaços reais e possíveis (LUNA, 2016) para a realização deste ensino, considerando indícios (GINZBURG,1989) dessas possibilidades. Os resultados mostraram que há alguns espaços reais, mas, sobretudo, indícios de espaços possíveis para o trabalho com as tradições discursivas. A partir desses indícios, propomos possibilidades para a sala de aula.