Estruturação da cidade e incorporação urbana

Este trabalho tem como finalidade demonstrar as relações entre os processos de produção urbana, estruturação da cidade e os circuitos de incorporação fundiária sob a égide do modo de produção capitalista. A crescente mercantilização das esferas da produção espacial e da reprodução social faz com que todos os processos atuantes no espaço urbano sejam regidos pela ideologia do crescimento e da acumulação expansiva. Nesse sentido, o próprio movimento de expansão físico-territorial da cidade, tomado como um dos fatores de sua estruturação, é percebido como integrante dessa lógica. Como componente básico da constituição urbana, a análise das formas espaciais pode auxiliar na compreensão da dinâmica capitalista de estruturação da cidade a partir da incorporação fundiária e da expansão territorial. Visando dar materialidade à discussão, aplica-se uma proposta de estudo na cidade de Londrina-PR. Para isso, além de pesquisa bibliográfica sobre o recorte espacial e contribuições do aporte teórico considerado adequado para a temática, utilizam-se dados censitários de edificações em construção no município, provenientes do Cadastro Nacional de Endereços para Fins Estatísticos (CNEFE), e elaborações cartográficas que melhor representam a distribuição espacial destes e outros elementos. Finalmente, pretende-se colaborar com os estudos urbanos brasileiros em uma perspectiva geográfica e, eminentemente, crítica.

Perfil das vítimas de crimes violentos letais intencionais no Maranhão

O presente estudo de caráter exploratório tem como objetivo analisar o perfil das vítimas dos crimes violentos letais no Maranhão. Para alcance do objetivo proposto, foram necessários o levantamento bibliográfico referente aos temas relacionados à pesquisa: violência; consequências da violência; criminalidade; vitimologia; perfis das vítimas, em escala nacional e internacional, disponibilizados nas plataformas digitais. A pesquisa utilizou como base de referência dados oriundos do Sistema de Informações sobre Mortalidade - SIM e da Secretaria de Segurança Pública - SSP/MA, correspondentes ao período de 2015 a 2019. O Maranhão apresentou maior incidência de crimes violentos letais nos municípios que compõem as mesorregiões Norte, Centro e Leste Maranhense, seguindo um perfil de vítimas jovens, pretos e pardos, do sexo masculino e com ensino fundamental, como principal alvo da violência, não se diferenciando das características do perfil das vítimas no Brasil.

Forma valor e valorização do espaço

Entendemos que a consideração da forma social do valor pode atribuir novas determinações à noção de valorização do espaço, contribuindo para a ampliação de sua capacidade explicativa. Para tanto, há no presente artigo uma interlocução entre a abordagem marxista da forma valor e a vertente da tradição crítica da geografia brasileira que propõe, como objeto da geografia, a análise dos processos de valorização do espaço. Nota-se alguns pontos de incompatibilidade entre ambas, em cujo cerne entendemos estar a extensão concedida à noção de valorização: mais ampla na tradição geográfica e mais restrita na abordagem da forma valor. Neste quadro, sugerimos uma distinção entre produção do espaço e valorização do espaço: se ao primeiro termo poderia ser concedida significação ampla, correspondente ao conjunto das práticas de determinada sociedade instaladas sobre o conjunto de seus objetos geográficos, entendemos que o segundo termo poderia corresponder a um tipo específico de produção do espaço, ocorrido quando os próprios objetos geográficos são os objetos de valorização. Seguindo esta indicação, discutimos brevemente algumas das maneiras pelas quais entendemos ocorrer tais processos de valorização do espaço, em conformidade com a circunscrição histórica do valor como expressão de relações sociais específicas, como ressaltado pela abordagem da forma valor.

A degradação enquanto face da modernização, que avança sobre os territórios pesqueiros

O artigo busca compreender como a face da degradação se evidencia nos territórios e territorialidades da pesca artesanal brasileira. A análise das faces da modernização se estabelece metodologicamente a partir do diálogo entre propostas e abordagens da Geografia, e relatos ou denúncias dos movimentos sociais da pesca. A face da degradação resulta de impactos ambientais, disputas no território e conflitos por território, tem o conceito de ambiente como preponderante e recai principalmente em territórios pesqueiros. Portanto, é necessário compreender como o processo de transfiguração da natureza se evidencia em diferentes contextos do Brasil, de forma correlacionada aos processos de territorialização e desterritorialização da pesca. A análise de contextos geradores como industrialização, urbanização, atividades relacionadas ao agronegócio e mineração, expõe táticas de ofensivas em territórios tradicionais.

Superposição de destinos turísticos

A territorialização do espaço pelo turismo na região Nordeste do Brasil assumiu muitas formas, em algumas áreas, o turismo se desenvolvendo como resposta a políticas públicas, com estratégias de regionalização e ênfase em polos de turismo. Entretanto, há também casos em que os destinos ou polos não respondem satisfatoriamente à política, com a turistificação ocorrendo pela ação do mercado, com pouca influência das políticas públicas. Um desses casos é o destino Rota Ecológica, no litoral norte do estado de Alagoas. Esse destino faz parte do Polo Turístico Costa dos Corais, mas a sua turistificação vem ocorrendo principalmente pela ação de agentes de mercado. O objetivo deste trabalho é analisar como este destino evoluiu até o presente e as mudanças ocorridas. A metodologia incluiu observação de campo; exame de imagens remotas do Google Earth; participação em audiências públicas; e a leitura de documentos oficiais. A pesquisa revela a existência de dois destinos distintos e superpostos em um mesmo recorte espacial. Como consequência, têm emergido localmente graves conflitos socioespaciais. A despeito desses conflitos, o governo não criou nenhuma instância de governança para enfrentá-los, um contexto que compromete o potencial de o turismo contribuir localmente para o desenvolvimento sustentável.

Em direção aos espaços abertos

Transpassando vida, Geografia e ar livre, neste artigo, busco uma hermenêutica dos espaços abertos. Posicionando Geografia, antropologia e fenomenologia em relação, objetivo o compromisso de aliar teoria à experiência para compreender o habitar urbano contemporâneo dos espaços abertos. Com Ingold (2015), adenso a noção de ar livre em direção ao habitar a cidade. No uníssono da experiência, imaginação e fantasia, projeto a abertura desses espaços como possibilidade, como abrimento para o ser e para os entes, para a multiplicidade da existência. Sabendo que o processo de habitar a cidade sempre esteve intimamente vinculado a um dos inúmeros modos de habitar a Terra, é possível afirmar que a cidade não é negação da natureza. Em sentido radicalmente inverso, a cidade é, acima de tudo, emergência da terra que somos, sobretudo quando vivida nos espaços abertos. Na abertura para a liberdade do encontro com o imprevisto, com o inesperado, com os seres e com os entes, o ar livre é a passagem para a contemplação, a celebração, o cuidado e a atenção para a experiência urbana da alteridade.

Estacionamentos rotativos, expansão dos serviços financeiros e fintechs

O atual estágio de desenvolvimento das tecnologias da informação permite o crescimento exponencial das transações financeiras realizadas por meios digitais. O presente trabalho tem como objetivo discutir teoricamente, a partir de trabalhos acadêmicos nacionais e internacionais, sobre fintechs e bancos digitais, além de problematizar a expansão dos serviços financeiros e das finanças digitais pelo território brasileiro. Nossa metodologia consiste no levantamento de dados secundários, quantitativos e qualitativos, obtidos através de artigos científicos e relatórios sobre o tema. Desta forma, buscaremos interpretar quais são os impactos territoriais dos processos de digitalização financeira sobre diferentes usos do território. Assim, nossa base empírica de análise consiste na atuação da empresa de estacionamento rotativo Estapar no estado de São Paulo. Conclui-se que esta empresa se encontra inserida no processo de expansão dos serviços financeiros e das novas formas de pagamento digital.

Utilização de índice espectral na distribuição espacial da Caatinga densa do município de Caicó, Rio Grande do Norte-Brasil

Este trabalho objetivou avaliar o padrão atual de distribuição de Caatinga densa, identificando onde estão seus maiores fragmentos, através de procedimentos cartográficos e estatísticos no município de Caicó-RN. A partir de NDVI, gerou-se o mapeamento da cobertura vegetal e, em seguida, delimitou-se três intervalos de cotas altimétricas possibilitando-se traçar um perfil gradual. Os fragmentos de Caatinga densa foram submetidos a ANOVA e teste Tukey, estabelecendo uma significância de p<0,05, identificando se há diferença significativa entre os tamanhos desses fragmentos. Foi realizado um levantamento florístico visando a caracterizar as diferentes cotas amostradas. Como resultado, na cota de menor altimetria obteve-se 5.169,54ha, com a cota média, 2.850,20ha, e 1.753,08ha, para a maior altimetria. Em termos proporcionais com relação à área total de cada cota, foi justamente esta última que apresentou maior área ocupada por vegetação densa. Foi identificada diferença significativa entre esta cota e a primeira, mediante os tamanhos dos fragmentos. No tocante à flora, as espécies mais seletivas estão nas cotas superiores, com exceção das áreas de mata ciliar na menor altimetria onde predominam espécies generalistas. Neste trabalho foi comprovado estatisticamente que a Caatinga densa encontra-se bastante restrita às margens de corpos hídricos e em maciços, apresentando aumento gradual em termos altimétricos.

Da fronteira agrícola aos territórios do agronegócio florestal

No Maranhão, as transformações na agricultura familiar ocasionadas pela expansão da silvicultura de eucalipto tiveram início na década de 1990. Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo compreender tais transformações nos municípios maranhenses de Imperatriz e Cidelândia. Para isso, analisa e discute as alterações na produção de culturas alimentares tradicionais nos municípios estudados diante da expansão das áreas de eucalipto. Metodologicamente, o trabalho utiliza dados primários coletados através de pesquisas de campo, utilizando como instrumento de coleta entrevistas não estruturadas com pequenos agricultores e moradores das proximidades das plantações de eucalipto. Além disso, foram coletadas coordenadas geográficas para a produção cartográfica; os dados secundários utilizados foram coletados nas bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Indústria Brasileira de Árvores, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária e nos relatórios anuais da Suzano. Os resultados sugerem que a rápida expansão do agronegócio florestal está fragilizando os territórios da agricultura familiar, ocasionando uma diminuição expressiva na produção.

Resistências dos pobres nos bairros populares de Salvador e o Período Popular da História

O artigo aqui apresentado baseia-se em uma pesquisa que fiz para a minha tese de doutorado, em 2017, que buscou uma empiria para a proposição de Milton Santos a respeito do período popular ou demográfico da história, através da qual argumenta que sua existência se dá como a oposição ao período da globalização atual apoiado no meio técnico-científico-informacional. O Período Popular estaria ancorado, principalmente, na comunicação dos pobres das grandes cidades dos países do Terceiro Mundo. A proposição que fiz, na pesquisa citada, é que uma das formas de comunicação a se cristalizar são as relações de vizinhança e parentesco dos pobres em bairros populares de Salvador e, para isso, identifiquei dezenas de práticas e trago algumas no presente artigo. Desenvolvi um conceito territorial de pobre, o qual não está vinculado estritamente à renda familiar, mas incorpora elementos de condição cidadã. Os conceitos de bairro popular e de aglomerados de bairros também são algo que assumo a autoria, embora reconheça as fortes influências de autores seminais nessas formulações. Outra questão trazida é que, para se entender a existência de dois períodos históricos, em uma mesma temporalidade, é preciso incorporar a geografia como instância da análise social.