O uso de plantas medicinais nativas pelas comunidades rurais no litoral do Paraná

As comunidades rurais do litoral do Paraná que realizam o extrativismo de recursos da natureza, possuem o conhecimento sobre as plantas medicinais nativas da região e vinculam a essas, parte de sua identidade e subsistência. No entanto, manter essas atividades e preservar a natureza mediante ao uso e comercialização, requer uma análise e diferenciação das ações que de fato trazem benefícios ou consequências nocivas a essa territorialidade. Este estudo buscou identificar a partir da teoria de Pecqueur sobre os recursos genéricos e específicos, e por meio de uma revisão sistemática de 28 estudos empíricos, obtidos na plataforma CAPES e Scielo, se as plantas medicinais nativas poderiam ser um recurso específico potencial. Os resultados indicaram a influência de ações específicas e genéricas, sendo as específicas potenciais, definidas por um reconhecimento de identidade, a existência de saberes ecológicos e o uso recorrente de determinadas plantas. Já as ações genéricas, ocorrem quando os produtos são direcionados para a comercialização quantitativa e submetidos ao mercado, em condições de negociação injustas. Tais resultados, evidenciam a necessidade de redirecionar as ações da comercialização e articulação, para retomar os caminhos da especificação.

Os polos de Carajás e Juriti na Amazônia oriental: desenvolvimento regional ou industrialização?

Este estudo tem como objetivo analisar as ações do Estado brasileiro no processo de desenvolvimento econômico da Amazônia e a implantação dos polos de Carajás e Juruti, verificando se esses projetos induziram a industrialização ou o desenvolvimento regional na Amazônia Oriental. Os resultados revelam que o Estado permeado e constituído por classes dominantes, fortalecido pela dinâmica capitalista, foi o principal indutor para a ocupação da Região Amazônica. Os favorecimentos promovidos pelo Estado para obtenção de recursos através de novas infraestruturas e incentivos funcionaram como suporte para um desenvolvimento pautado na racionalidade econômica tendo como base a indústria, deixando de lado as questões de sustentabilidade socioambiental, os interesses das populações locais, às relações sociais e da cultura já existente. A subserviência aos interesses do capital internacional, com a ajuda do Estado, fez da Região Amazônica um alvo da perversidade do capital. A implantação dos grandes projetos de mineração trouxe poucas possibilidades de incremento à economia local e também sérios prejuízos às comunidades locais e ao meio ambiente. Entretanto, existem (poucas) iniciativas para tentar promover mudanças, na busca de um desenvolvimento voltado para a sustentabilidade.

El modelo de desarrollo endógeno bolivariano en Venezuela: el caso del núcleo de desarrollo endógeno Ciudad Oritupano

Venezuela atraviesa hoy una etapa de crisis caracterizada, entre otros aspectos, por desabastecimiento de alimentos, empobrecimiento de la población y altos niveles de improductividad. Sin embargo, durante la década del 2000 se implementaron un conjunto de proyectos que buscaban ofrecer modelos alternativos de desarrollo que se suponía evitarían este escenario. Este artículo pretende describir algunos aspectos del modelo de “Desarrollo Endógeno Bolivariano”, y caracterizar el caso específico de lo que fue el Núcleo de Desarrollo Endógeno Ciudad Oritupano, creado bajo ese enfoque y dentro de ese contexto. Se hace énfasis en los aspectos teóricos propuestos para el progreso de este emprendimiento. Los datos presentados provienen de un estudio descriptivo de campo que se apoyó en entrevistas estructuradas y semi-estructuradas, observación estructurada y análisis documental sobre los fundamentos que idealizaban tanto al modelo como a la unidad local de desarrollo endógeno. Los principales resultados detallaron avances significativos sobre el aumento de la calidad de vida de los habitantes de la localidad en estudio, a la par de desajuste entre la idealización teórica, la realidad de la población involucrada, y los objetivos propuestos al modelo de desarrollo, así como contradicciones en el carácter endógeno del proyecto y su planificación democrática. También la ausencia de un carácter sostenible en las actividades propuestas a la referida unidad de desarrollo local.

Uma análise reflexiva da ISO 56.002 – Gestão da Inovação e Sistema de Gestão da Inovação à luz da teoria sobre inovação

A capacidade de inovação das organizações se tornou uma fonte de vantagem competitiva e diferentes práticas têm sido adotadas com o intuito de promovê-las. Com o intuito de guiar as empresas neste sentido, a Organização Internacional de Normatização (ISO) lançou a ISO 56.002 – Gestão da Inovação e Sistema de Gestão da Inovação em julho de 2019. Por meio de uma abordagem hermenêutica e de método interpretativo, este estudo apresenta uma análise reflexiva da norma face os avanços científicos das últimas décadas sobre a gestão de inovação nas organizações. O estudo inicia com uma análise da própria norma e de cada uma das dimensões que a compõe, a saber: sistema de gestão da inovação, cultura, liderança e comprometimento; foco na realização de valor, visão e estratégia da inovação; oportunidades, objetivos e estrutura organizacional, e portfólio de inovação; suporte, recursos, tempo e conhecimento; infraestrutura, competência, consciência e comunicação; gestão da inteligência estratégica e propriedade intelectual; processo de inovação, planejamento iniciativas; identificação de oportunidades, conceitos e soluções; e, monitoramento, medição, avaliação e melhoria contínua. Constatou-se um alinhamento entre todas as dimensões e o conhecimento científico sobre inovação, muito embora abra-se espaço para um questionamento sobre padronização decorrente de uma ISO com um processo que requer tanto uso da criatividade e dos recursos específicos de cada organização como o processo de inovação.

As faces do desenvolvimento urbano: origens e principais movimentos urbanísticos

O planejamento urbano possui uma história recente, surgindo de medidas de controle para responder às adversidades enfrentadas nas cidades no início do século XX, não se restringindo ao desenho ou ordenamento físico. Cada modelo de planejamento proposto foi criado também para solucionar os conflitos sociais presentes nas cidades. O artigo objetiva compreender as iniciativas de planejamento urbano historicamente adotadas com o intuito de traçar o surgimento da prática de planejamento, seus principais modelos e suas características. Para atingir esse objetivo, o estudo utilizou como base metodológica a pesquisa bibliográfica e documental. Dessa forma, a pesquisa buscou expor elementos para provocar maiores reflexões sobre as práticas atuais de planejamento urbano e suas influências na vida dos cidadãos.

Internet na extensão rural

Este artigo tem por objetivo analisar os canais de comunicação e fontes de informação mais utilizados pelos agentes de extensão rural que trabalham com produtores de leite de duas microrregiões de Minas Gerais e sua relação com o uso da internet na rotina desses profissionais. Esta pesquisa é do tipo descritiva e utilizou-se de questionários estruturados. Conclui-se na comparação com as microrregiões que Uberaba possui os técnicos mais jovens, com menor tempo de serviço na empresa e os mais especializados. Os serviços de conexão e acesso à Internet também são privilegiados, refletindo em técnicos mais satisfeitos com a infraestrutura disponibilizada pela instituição e que navegam mais tempo na Web. Com relação aos técnicos de Cataguases predomina a faixa de idade superior a 40 anos, estes possuem mais tempo de serviço na empresa e têm infraestrutura de conexão menos privilegiada nos municípios que trabalham, refletindo em técnicos menos satisfeitos com o acesso a Web e com metade do tempo de navegação com relação a Uberaba.

Organização social para a consolidação do sistema pluralista de extensão rural: uma experiência ilustrativa

Este artigo tem como objetivos realizar um resgate em materiais bibliográficos e institucionais, que tratem da trajetória da extensão rural uruguaia, e analisar a proximidade, ou distanciamento, com ideias das agências internacionais de desenvolvimento sobre a função das organizações sociais frente ao modelo pluralista de extensão rural. Além disso, foi realizada uma visita em uma cooperativa agrária de pecuaristas familiares em Rivera/Uruguai, proporcionando um contato ilustrativo com a problemática em discussão. A condução metodológica fundamenta-se na abordagem qualitativa de pesquisa e delineia-se como pesquisa descritiva. Foram analisados materiais das agências internacionais de desenvolvimento GFRAS, RELASER, FAO e MEAS, identificando o conteúdo sobre organização social e extensão rural. Verifica-se um esforço em estimular a formação e consolidação de organizações sociais de produtores rurais, pautando-se na autonomia destas. Por outro lado, tal autonomia parece ter sentido instrumental aos interesses do pluralismo institucional e, ao distanciamento com a prestação de serviços públicos; portanto situa a problemática em um campo de ambiguidades.

Perspectivas contemporâneas do consumo de alimentos: compreendendo grupos socioeconômicos de consumidores

O objetivo do trabalho foi o de construir e analisar perfis socioeconômicos de consumidores de alimentos, de forma a entender as diferenças e semelhanças existentes entre os diferentes tipos. A elaboração deste trabalho ocorreu a partir de uma pesquisa de campo realizada com 43 consumidores e consumidoras pré-selecionados de acordo com seu perfil socioeconômico e local de moradia, no Município de Pato Branco/PR. O instrumento de pesquisa foi um questionário mais amplo com base em questões de múltipla escolha, das quais isolou-se onze indicadores sobre o perfil socioeconômico de consumo, que são tratados neste trabalho. O instrumento foi aplicado individualmente no domicílio de cada participante, escolhendo-se, preferencialmente, a pessoa responsável pela compra, seleção e preparo dos alimentos. Os métodos qualitativos e quantitativos foram mobilizados na construção do instrumento de pesquisa e também na análise dos dados da pesquisa de campo, a partir das técnicas de estatística descritiva. Além disso, a pesquisa utilizou-se do diário de campo e observação do pesquisador. Os resultados indicam que a renda econômica, o nível educacional e o papel das mulheres são os elementos de maior importância na construção dos perfis de consumo. Além de evidenciar que a alimentação possui um peso familiar simbólico em termos das atividades de compra e seleção dos ingredientes, dos cardápios e no preparo dos pratos culinários.

Mercados institucionais e o desempenho das aquisições de produtos da agricultura familiar pelos municípios do Rio de Janeiro, de 2011 a 2018

O objetivo desse artigo é analisar o desempenho dos municípios do Estado do Rio de Janeiro (RJ) nas aquisições de gêneros alimentícios oriundos da agricultura familiar (AF) local no Estado, no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar, com foco nos municípios, durante o período de 2011 a 2018, através de dados oficiais disponíveis na internet. As informações obtidas são apresentadas sob aspecto do percentual das aquisições, ou seja, quanto dos recursos repassados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação foi investido na compra de alimentos da AF pelas escolas dos municípios. Para facilitar a visualização da evolução histórica foram preparados mapas com a divisão político-administrativa vigente até 2019, com 4 estratos de percentuais de produtos adquiridos por ano: não atendimento (zero % de recursos usados), atendimento parcial (gasto maior do que 0,1% e menor que 30%); atendimento legal (gasto entre 30 a 50%); e atendimento diferenciado (gasto acima de 50% com alimentos da AF). Espera-se com isso colaborar para a reflexão sobre o desempenho dessas aquisições e contribuir para o debate sobre a necessidade de eventuais (re) formatações dessa política pública, capaz de estimular os necessários reajustes para sua melhoria contínua. Os resultados obtidos mostram uma evolução gradativa e crescente dos percentuais de aquisição de alimentos da AF no PNAE pelo conjunto dos municípios do Estado do Rio de Janeiro (ERJ), com exceção de 2017, porém, abaixo do recomendado pela legislação vigente. Apesar dos gargalos, há importante potencial para crescimento das aquisições dos alimentos da AF pelo PNAE.

Repertórios de ação coletiva utilizados na construção de uma política de prevenção ao suicídio no município de Santa Cruz do Sul/RS

Nas últimas décadas o suicídio se tornou uma das principais causas de morte no planeta, com expressões distintas entre os países e regiões. Na região no Vale do Rio Pardo, no Rio Grande do Sul, este fenômeno está entre as três principais causas de morte externa, sendo atualmente uma das regiões com as maiores taxas de suicídio do país. Diante disso, a prevenção ao suicídio vem ganhando força dentro das agendas de políticas públicas, apesar das contradições que dificultam o avanço desta pauta nos programas dos governos municipais da região. Neste estudo, apresenta-se uma análise histórica das experiências de construção política em torno da prevenção ao suicídio, destacando os Repertórios de Ação Coletiva utilizados no município de Santa Cruz do Sul. Realizou-se uma pesquisa qualitativa com sujeitos envolvidos com a construção desta política pública e análise documental dos principais eventos relacionados aos objeto de estudo. Conclui-se que a organização política dos sujeitos envolvidos com esta demanda, a partir da criação de um Comitê Municipal de Prevenção ao Suicídio, bem como a realização de campanhas de prevenção, são repertórios de ação relevantes na construção de uma política pública.