“Como quem partilha uma alegria”

Na exortação apostólica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco traça uma relação de clara interdependência entre a missão evangelizadora da comunidade eclesial e a experiência de alegria que ela realiza na fé em Jesus Cristo. Este trabalho apresenta contribuições da teologia de Alexander Schmemann, em For the Life of the World, e da filosofia de Fabrice Hadjadj, em O paraíso à porta, que podem enriquecer a recepção desse documento programático do pontificado de Francisco. Nesse percurso, individuamos quatro pontos de convergência entre a visão dos dois autores: a redescoberta da dimensão eucarística da alegria, enquanto experiência de um dom que se prolonga como ação de graças; a dimensão pascal, que atravessa o mal e a dor fecundando-os sem negá-los; a dimensão epifânica, como olhar que permite reconhecer no cotidiano a proximidade do mistério; e a dimensão transformadora, enquanto gratuidade que se transborda em um serviço verdadeiramente desinteressado.

Os cristãos frente ao desafio da diversidade religiosa

A globalização aproximou as religiões, gerando a necessidade do diálogo inter-religioso como dispositivo para a paz e a fraternidade mundiais. O Vaticano II abordou o tema da diversidade religiosa alargando o conceito de salvação cristã e reconhecendo as religiões como legítimos caminhos históricos para a salvação. O pluralismo religioso atual acentua a necessidade do diálogo e da coloração mútua entre as tradições religiosas. O presente artigo sintetiza o ensinamento do Vaticano II e do magistério posterior. Apresenta as razões teológicas para o diálogo inter-religioso a partir da contribuição de dois renomados teólogos atuais, Andrés Torres Queiruga e Luis Francisco Ladaria. Reforça aspectos do magistério do Papa Francisco sobre a importância do diálogo e da colaboração entre as religiões em vista da urgência da paz mundial. O artigo busca, ainda, oferecer aos cristãos fundamentos teológicos basilares que os ajudem a promover o diálogo, evitando a intolerância e o fundamentalismo.

Statio orbis

Em preparação aos próximos Congressos Eucarísticos (o 52º CE Internacional, em Budapest, Hungria; o 18º CE Nacional, no Recife, PE), este artigo pergunta pelo sentido de eventos desse gênero, o que levou a criá-los e mantê-los, a evolução sofrida nesse mais de século desde que surgiram. Com essa finalidade o artigo percorre em largos traços a história dos Congressos Eucarísticos Internacionais, tentando identificar os ideais que os motivaram e moldaram, tanto do ponto de vista sociopolítico (relação entre Igreja e sociedade), como, especialmente, da perspectiva teológico-litúrgica a eles subjacente.

O cristianismo como estilo numa sociedade em rede

Neste artigo, pretendemos articular a compreensão do cristianismo como estilo, de Theobald (2008), com aspectos da chamada sociedade em rede (Castells, 2007b). A metodologia consiste em explorar o conceito e as características da sociedade em rede, destacando, além do aspecto social, o cultural e o econômico. Na sociedade em rede, as relações sociais estão pautadas nos “nós” de uma rede que se articula como uma estrutura aberta; a cultura, chamada de virtualidade real, é caracterizada a partir da anulação do espaço e do tempo; e a economia, denominada informacionalismo, constitui-se como uma forma de capitalismo extremamente eficiente. Nesse contexto, o poder das identidades revela-se como uma possibilidade de resistência. O cristianismo, entendido como um estilo (Theobald, 2008), aponta para elementos-chave necessários para o diálogo com essa sociedade em rede, uma vez que revela uma maneira de habitar o mundo, caracterizada pela “hospitalidade do nazareno”.

Paulo Evaristo Arns

As reflexões situam a personalidade e o ministério episcopal de Dom Paulo Evaristo Arns no interior do processo de aggiornamento desencadeado pelo Vaticano II. A recepção das decisões conciliares não foi linear e consensual; ao contrário, ocorreu como disputa pelo significado daquelas decisões. A América Latina foi o epicentro dessa luta, sendo muitas igrejas locais com seus bispos colocados sob suspeita de desvio da ortodoxia católica. Dom Paulo esteve no centro desse conflito hermenêutico. Seu trajeto ministerial e sua pessoa resistiram como modo coerente de recepcionar a eclesiologia conciliar e, por conseguinte, de vivenciar a Igreja pobre e com os pobres. O artigo expõe esse trajeto eclesial como contexto do ministério episcopal do Cardeal Arns, mostra a coerência do mesmo com as decisões conciliares e a justiça que hoje lhe faz o Papa Francisco.

Cristologia pluralista e inclusiva. Implicações para a missão da Igreja hoje

O presente artigo tem como objetivo abordar as questões da cristologia a partir de uma epistemologia pluralista e inclusiva, considerando-a relevante para a missão da Igreja nos tempos de hoje. A metodologia utilizada é a análise bibliográfica e documental, principalmente de teólogos e teólogas que apresentam o exercício da cristologia pluralista e inclusiva em conexão com os princípios e valores de convivência e comunhão por toda a humanidade. Assim, o propósito deste estudo é percorrer o tema apresentando o anúncio de Jesus de Nazaré: o Reino de Deus, sua vinculação com as emergentes abordagens cristológicas na atualidade, as implicações do anúncio do Reino para uma cristologia plural e inclusiva. Concluímos que a concepção de uma cristologia plural e inclusiva possui sua natureza no Deus Trindade, cujo amor fontal transborda para a humanidade. Ao sair de si, o Deus de Jesus de Nazaré comunga com todas as pessoas que acolhem o anúncio de seu Reino.

A renovação teológica a partir do Vaticano II e o anúncio de Jesus Cristo

O estudo teológico sofreu uma grande mudança a partir do Concilio Vaticano II. Acreditamos que a proposta de renovação dos estudos teológicos teve grande responsabilidade sobre o anúncio missionário que a Igreja é chamada a realizar. Dessa forma, ao se recuperar alguns traços históricos dessa renovação e verificar-se a incidência dela na teologia, percebe-se que o trabalho da própria Igreja em ser anunciadora do seu fundador e sua testemunha na sociedade e no mundo, também passa por renovações. O anúncio de Jesus Cristo é o mesmo, embora os desafios de cada tempo se modifiquem. Diante dessas profundas mudanças no mundo, ainda existe espaço para se falar da mesma verdade tão antiga e sempre nova? De que modo a história de Jesus de Nazaré pode iluminar a história de outros povos e dar-lhes sentido? Recuperando algumas noções fundamentais à teologia atual, deseja-se indicar caminhos plausíveis para que a missão evangelizadora continue acontecendo a contento.

A mensagem das bem-aventuranças no contexto dos evangelhos de Mateus e Lucas e em relação ao núcleo do ensinamento de Jesus

Compreender o que Jesus expressou no discurso da montanha, impropriamente chamado de “Sermão”, particularmente nas bem-aventuranças, é se aproximar do núcleo do cristianismo. Este artigo faz uma abordagem desses textos bíblicos que se encontram em Mateus (5,1-12) e em Lucas (6,20-26). Nas bem-aventuranças, o pensamento de Jesus é apresentado com uma estrutura interna que remete à essência da lógica do próprio cristianismo – um estilo de vida e uma coerência de caminho de vida, da qualidade da existência que Jesus veio instaurar, que é a lógica do amor. Conclui-se que as bem-aventuranças apresentadas por Jesus devem ser compreendidas como sendo fruto da experiência de fé no seu ensinamento, concretizando a proposta de um novo modelo de existência que responde à verdadeira grandeza humana, cuja consequência será a felicidade. Relatadas pelos dois evangelistas, embora não de forma idêntica, são portadoras de uma mensagem simultaneamente teológica e cristológica, um ensinamento que pede a transformação do agir e do pensar do cristão.

A integralidade da missão e da libertação no anúncio de Jesus Cristo

O presente artigo pretende tratar o tema do Reino de Deus e Igreja na perspectiva da Teologia da Missão Integral de René Padilla, ao mesmo tempo que sinaliza uma aproximação hermenêutica com a teologia da missão do Papa Francisco, presente em sua primeira exortação apostólica Evangelii Gaudium. Segundo Padilla, a missão deve se realizar na integralidade da história humana, assumindo a autenticidade do Evangelho que provoca uma transformação social em toda a realidade concreta. Por sua vez, o Papa Francisco, nesta esteira, convoca toda a Igreja para estar em atitude de saída, isto é, indo ao encontro das pessoas, lugares e situações que precisam ser alcançados pela justiça e dignidade evangélicas. Para esses dois teólogos, o Reino de Deus se antecipa à medida que o Evangelho é testemunhado em ações históricas que libertam o ser humano para a vida em plenitude. Assim, este artigo abordará, primeiramente, a teologia de René Padilla, privilegiando a fidelidade ao Reino e à integralidade missionária, e, por fim, numa leitura analítica, abordará a Evangelii Gaudium, em diálogo com a Teologia da Missão Integral.

O anúncio de Jesus e alguns elementos para a teologia da missão no contexto latino-americano

Refletimos o anúncio de Jesus, pensando em alguns elementos para uma teologia da missão mais compreensível para o contexto latino-americano, acessível e aliada aos dinamismos dos contextos eclesiais de hoje, de modo a anunciar a fé cristã nos tempos atuais. Dois elementos básicos norteiam nossa reflexão. Primeiro, as reflexões de José Comblin, que pondera sobre uma teologia da missão gerida pela teologia do Espírito e focada na realidade latino-americana. Segundo, o anúncio da mensagem de Jesus contemporanizado na realidade presente, cujo perfil social se apresenta líquido, de fortes tensões sociopolíticas, econômicas e sanitárias e que requer uma ação junto às pessoas inseridas nesta realidade, carentes de respostas concretas para sua vida.