Apresentação

Com satisfação apresento esse dossiê sobre a “África, e as relações Brasil e África”, fruto de um trabalho compartilhado na disciplina. Embora a lei 10.639 de 2003 tenha tornado obrigatórios os conteúdos de história e cultura afro-brasileira e africana, os entusiastas crêem no efeito multiplicador num processo de mudança na formação dos professores e profissionais em geral. O currículo escolar não pode retratar somente a cultura europeia, num país em que 45% da sua população é formada por afrodescendentes. Nosso interesse em relação à África vem se ampliando ao longo do tempo, na própria experiência acadêmica. Organizamos a Semana Acadêmica Africana em dois anos consecutivos (2016 e 2017); o evento que busca ampliar conhecimentos e proporcionar análises conjunturais sobre o Continente, as relações Brasil e países africanos, e a população brasileira afro-descendente.

Sociedade Civil e Estado em Gramsci

O presente artigo tem por objetivo apresentar e discutir através de diversos autores o conceito de Sociedade Civil de Antônio Gramsci (1891-1937) em sua obra carcerária denominada “Cadernos do Cárcere” para o programa de Iniciação Científica Voluntária - ICV da UFPI nos anos de 2010 e 2011, cuja orientação foi do Professor Doutor Rodrigo Duarte dos Passos. A pesquisa foi embasada na tentativa de resolver o problema a seguir: Como efetuar um breve balanço da literatura em língua portuguesa sobre a definição gramsciana da Sociedade Civil? E testar a seguinte hipótese: A literatura disponível em língua portuguesa referente à categoria gramsciana de Sociedade Civil tende a dissociá-la da Sociedade Política ou Estado?

A Guerra Híbrida entre China e Estados Unidos: uma análise a partir das narrativas midiáticas sobre Xinjiang nos anos de 2017 a 2019

O presente artigo objetiva analisar a recente acusação feita por ONGs e veículos midiáticos ocidentais de que há “campos de concentração” para muçulmanos da etnia uigur na região autônoma de Xinjiang fazendo uma revisão seletiva dos conteúdos dessa afirmação. Para realizar tal tarefa, será adotada a teoria das Guerras Híbridas, que compreende que agitações midiáticas desse tipo são provocadas por atores internacionais conectados com os Estados Unidos para desestabilizar rivais geopolíticos. Nesse sentido, a narrativa chinesa acerca da realidade da região autônoma também é trazida à tona, exposta por porta-vozes do governo da República Popular da China e por veículos midiáticos que apresentam um cenário diferente ao público. Desconstruindo as referidas acusações, as abordagens adotadas trazem na conclusão outra perspectiva acerca da região de Xinjiang.

Estados Unidos, Europa e África: a influência exógenacomo causa da primeira guerra civil liberiana

Este artigo se propõe a explorar a história da Libéria, desde seu surgimento até sua Primeira Guerra Civil, ocorrida durante a década de1990, visando discutir a influência dos Estados Unidos, dos países da Europa e dos países da África em relação aos principais problemas políticos liberianos. Além disso, apresenta, a partir de uma abordagem sistêmica e por meio de uma breve retomada histórica, os fatores que contribuíram para a instabilidade política liberiana, como grupos armados que agiram internamente e o próprio Estado liberiano. Assim, do ponto de vista metodológico, o presente artigo visa utilizar-se da pesquisa qualitativa e bibliográfica para construir um estudo de caso que permita a compreensão da interferência exógena na Libéria como causa de sua Primeira Guerra Civil, como foi o caso das intervenções imperialistas após a Conferência de Berlim, do fornecimento de equipamentos bélicos por parte de países africanos e do estabelecimento de operações de paz promovidas tanto pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) como pela Organização dos Estados Unidos (ONU). Como resultado, este trabalho conclui que os fatores exógenos, ao se juntarem aos fatores endógenos, tornaram aguerra civilmais densa e complexa, à medida que perpetuaramdificuldades políticas, sociais e econômicas enfrentadas até hoje pela Libéria.

Gramsci e relações internacionais: um breve balanço da literatura sobre hegemonia

A proposta de uma breve avaliação da literatura que aborda a aplicação de Gramsci nas Relações Internacionais aponta para três tendências. A primeira, e mais recorrente, busca uma análise a partir da categoria de hegemonia em termos bastante distintos de Gramsci em que pese a menção ao autor italiano. A segunda busca uma análise a partir da categoria de hegemonia tomando por base as edições temáticas nacionais e anglo-saxônicas. A terceira (e minoritária) busca uma análise a partir da categoria de hegemonia com um diálogo rico com a obra carcerária de Gramsci.

Os ciclos sistêmicos de acumulação e o continente africano: uma análise sobre o comércio de escravos na economia-mundo capitalista

A nossa pesquisa possui dois objetivos. O Primeiro objetivo de nosso trabalho é modesto, o segundo é ambicioso. O objetivo modesto será percorrer alguns caminhos conceituais para compreendermos a lógica estrutural da acumulação e expansão financeira do capitalismo histórico. O objetivo ambicioso será, por algumas vezes, desviar de nosso itinerário por atalhos da economia de mercado dos séculos da dominação do comércio escravagista africano em relação à economia-mundo. Nesses longos séculos, a apropriação impelida ao continente africano desempenhou diferentes formas de dominação por entre os ciclos de acumulação do capital, destinando os excedentes da espoliação das produções mercantis do tráfico de escravos, dessas terras longínquas, aos grandes centros do sistema hegemônico de cada época. Nesse contexto, a estrada que nos conduz pelos ciclos sistêmicos de acumulação de capital parece ser pavimentada com a inserção do continente africano na economia mundo capitalista. Mas, principalmente, gostaríamos de percorrer os caminhos sobre as grandes correntes da evolução histórica que conduziu a África até meados do século XIX, no bojo do moderno sistema-mundo capitalista, segundo a tese de que o tráfico de escravos foi tanto consequência quanto elemento chave da edificação da economia capitalista, iniciada em 1450, pelos europeus.

Brasil e o processo de descolonização de Angola: a relação bilateral de duas Ex-Colônias Portuguesas da colonização à construção de embaixadas

O presente artigo busca ressaltar as relações bilaterais entre Brasil e Angola desde os tempos remotos, em que ambos eram dominados por um mesmo país, Portugal. Procurou-se compreender quais foram os processos que envolveram ambos os países durante o período colonial e as relações que eles estabeleceram nesse período, trazendo para aspectos da contemporaneidade, que se reflete sobre o Brasil ter sido o primeiro país a reconhecer Angola e, logo em seguida, estabelecer embaixada em Luanda.

Estado e poder político no jovem Gramsci

Este trabalho pretende esboçar as concepções de Antonio Gramsci sobre Estado, poder político e classes sociais nos escritos pré-carcerários do autor sardo, compreendendo o que é filosofia da práxis na obra gramsciana.

O conflito no Mali

O Mali é um país que vem sendo cenário de vulnerabilidades e conflitos internos ao longo de sua história recente. Dentre as diversas etnias que compõem a sociedade, distinguem-se os tuaregues, um grupo nômade que se localiza na região norte do país. Marginalizados e discriminados pelo governo desde a independência, começou a despertar no grupo um desejo pela criação de um estado autônomo, o Azawad. No decorrer dos anos, os tuaregues realizaram revoltas pelo país com o intuito de concretizar seus objetivos. Aliado a isso, o Mali ainda é alvo da presença de grupos islâmicos fundamentalistas que buscam por espaço no país. O constante aumento da violência e da deterioração da estabilidade fez com que o país recebesse ajuda internacional. Foram empenhadas diversas tentativas de se colocar um fim ao conflito: primeiramente, foi instituída uma missão de paz conjunta liderada pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (ECOWAS), sofreu intervenção da França a pedido do próprio governo, e recebeu uma operação de paz da ONU para controlar a situação no país. Dessa forma, o trabalho tem o objetivo de analisar o conflito do Mali e as tentativas de resolução pela comunidade internacional.

Revolução Bolchevique e Conselhos de Fábrica

Os conselhos de fábrica foram uma experiência importante durante o século XX, e sua análise se faz de grande importância para compreensão do contexto histórico do período e da história do movimento operário italiano baseado no internacionalismo da Revolução Bolchevique. A proposta desse artigo é analisar a relação da Revolução Bolchevique e os Conselhos de Turim, da mesma maneira, se propõe a realizar uma análise gramsciana da relação dos conselhos com a cultura socialista.