RESUMO Este artigo é resultante de uma proposta teórico-metodológica de pesquisa participante e interventiva nos estudos da linguagem, a Pragmática Cultural (ALENCAR, 2014, 2015, 2019), que busca a horizontalidade, a colaboração entre saberes populares e acadêmicos, por meio de metodologias simétricas que valorizem formas de vida e resistência, visando à transformação social. Sob essa perspectiva, analiso a constituição de uma gramática cultural de resistência pelas mulheres participantes de três coletivas de poetas da periferia de Fortaleza. O arcabouço teórico se assentou nas concepções de performatividade de raça e interseccionalidades, a partir do trabalho de Glenda Melo (MELO; MOITA LOPES, 2013, 2014; MELO; PAULA, 2019); gramática cultural e gramática da dor, discutidas nos trabalhos de Veena Das (DAS, 1995, 1999, 2007; DAS et al., 2004) e em minhas pesquisas (ALENCAR, 2014, 2019); e o conceito de escrevivência, de Conceição Evaristo (EVARISTO, 2007, 2008, 2009). As categorias metapragmática, indexicalidade (SILVERSTEIN, 1993, 2003), performance e entextualização (BAUMAN; BRIGGS, 1990) também fazem parte do nosso construto analítico. Com a investigação, percebi que práticas literárias, culturais e políticas dessas poetas constituem uma gramática cultural que anuncia uma sociedade sem dominação, construída pela feminização da resistência.