Suprimir os fatos e privilegiar as sensações: a emergência da criança-autora em Clarice Lispector
A obra de Clarice Lispector (1920-1977) tem sido aclamada como uma das mais importantes da literatura nacional contemporânea. Em suas produções voltadas ao público infantil explora seu universo pessoal não apenas como mãe de duas crianças que lhe demandavam a criação de estórias, mas também recupera as próprias vivências infantis, quando se iniciou na arte da escrita. Em um primeiro momento, este estudo discute o surgimento da autora Clarice e o modo como essa autoria se relaciona à sua biografia, oferecendo material para a escrita ficcional. Posteriormente, exploram-se as possibilidades de empregar esses elementos no incentivo à leitura e à produção textual de jovens escritores a partir do relato de uma experiência interventiva no ensino fundamental. Como conclusão, destaca-se que as vivências infantis de Clarice foram fundamentais para o desenvolvimento de uma autora que, desde a tenra infância, explorou a escrita de suas sensações e experiências como forma de compreender o mundo e torná-lo inteligível. A partir do presente estudo, recomenda-se o incentivo à reflexão acerca da autoria com alunos do ensino fundamental, potencializando a assunção da criança-autora.