Nesse artigo, mostraremos que, no argumento de Anselmo de Cantuária, “aquilo em relação ao qual
nada maior pode ser pensado”, antes que uma definição, é a significação do próprio nome de Deus. Segundo esse
argumento, ao não se dar ao trabalho, exigido pelo caráter apofático do nome divino, de praticar a ascese necessária
para adentrar a própria mente e afastá-la de tudo mais que não Deus, o insipiens abdica da racionalidade do
pensamento. Assim, sem dar a devida atenção ao fato de que essa discussão de Anselmo é proposta no formato de
uma quaestio medieval, os comentários posteriores, e especialmente os contemporâneos, acabam não mostrando
que, ali, Anselmo, inspirado em Agostinho, desenvolveu o que, para ele mesmo, era propositalmente um programa
filosófico: afastar-se do sensível a fim de se voltar para o inteligível, “lugar natural da contemplação da verdade”.