RELIGIÃO: MÚLTIPLOS OLHARES

Editorial.

O MOVIMENTO DE JESUS E AS RESISTÊNCIAS FEMININAS PRESENTES NA SOCIEDADE JUDAICA (Jó 4,1-42)

A história das mulheres acontece em meio a lutas e resistências frente ao paradigma androcêntrico-patriarcal presente nas sociedades da antiguidade. O movimento de Jesus questiona este paradigma, indo ao encontro das resistências femininas presentes na sociedade judaica. O objetivo da presente pesquisa é explicitar o tipo de relação estabelecido entre Jesus e as mulheres, a partir do encontro com a samaritana, tendo em vista as consequências para a evangelização no tempo presente. Por conseguinte, desde os estudos exegéticos dos últimos tempos, sobretudo, das teólogas feministas, tem-se consolidado um movimento de redescoberta da presença feminina no discipulado de Jesus. Jesus anuncia a boa-nova do Reino e o desejo de estabelecer um discipulado de iguais que modifica o papel feminino nas comunidades de fé. O encontro de Jesus com a samaritana ilustra estas mudanças no seio da sociedade judaica. Constata-se que, neste encontro, Jesus rompe com as normas de decoro referentes à relação entre homens e mulheres, bem como ultrapassa as fronteiras étnico-religiosas ao entrar em contato com uma samaritana. Inicia o anúncio da boa-nova aos samaritanos a partir de uma mulher. Destarte, em tempos de Papa Francisco, urge pensar sobre o a papel feminino nas comunidades cristãs tendo por horizonte o discipulado de iguais.

O SOFRIMENTO DE JÓ: QUANDO A VIOLÊNCIA ATINGE O JUSTO

O artigo discorre sobre o sofrimento de Jó e a violência das acusações de seus amigos. O texto apresenta o personagem Jó, a possível região onde habitava, o significado de seu nome, sua integridade moral, fidelidade a Deus e o gênero literário desse livro. São analisadas as concepções da Teologia da Retribuição inseridas no discurso dos amigos de Jó. Por fim, examina o conteúdo das violentas acusações dos amigos de Jó.

VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E DIVERSIDADE CULTURAL: DISCRIMINAÇÃO E PRECONCEITO NA UNIVERSIDADE

Esse artigo busca compreender as relações entre preconceito e violência simbólica entre os jovens universitários de Goiás. A proposta do artigo é abrir possibilidades para a reflexão dos parâmetros conceituais em relação a coexistir e a reconhecer o “diferente”, discutir os fundamentos conceituais da categoria violência simbólica, derivadas das relações de preconceito e discriminação, por meio de pesquisa quantitativa e qualitativa sobre a realidade da discriminação e preconceito nas IES do Estado de Goiás. Utilizamos como metodologia um estudo quanti-quali com uma amostra probabilística estratificada, deduzida com um intervalo de confiança de 95% (z=1,96) e uma margem de erro de 5 % (e=0,05). Os dados foram analisados e compilados no Statistical Package for the Social Sciences (SSPS). Além disso, realizamos grupos focais para qualificação dos dados obtidos estatisticamente.

O DISCURSO DAS CEBs NA REGIÃO SUL E SUDESTE DO PARÁ, DIALOGISMO E POLIFONIA

O presente artigo é um estudo teórico-metodológico da teoria de Mikhail Bakhtin, dos conceitos de dialogismo e polifonia, o objetivo é analisar o funcionamento dos discursos das Comunidades Eclesiais Bases (CEBs), na região Sudeste do Pará, sob a hipótese de que os discursos das CEBs, além de ter o objetivo de denunciar as injustiças sociais e violências produzidas no campo, trazem em sua materialidade discursiva, o movimento de diferentes vozes que compuseram o cenário de injustiças, dominação e resistências. Tomamos como material linguístico-discursivo para as análises, o informativo de circulação regional, denominado “O Grito da PA 150”, produzido pela equipe de pastoral da PA 150, sob a coordenação da Diocese de Marabá, no período de 1980 a 1986. Das análises, destacamos que nos discursos das CEBs veiculados nos informativos, múltiplas vozes entram em equipolência, configurando o campo de disputas ideológicas instaurado num período de intensos conflitos na luta pela terra.

“CUIDADO BOQUINHA NO QUE FALA, O SALVADOR DO CÉU ESTÁ OLHANDO PRA VOCÊ”: EDUCAÇÃO INFANTIL E RELIGIÃO

Desde o nascimento até se constituir adulto, o ser humano vem acompanhado de vários sons. A música é, talvez, um dos principais instrumentos para o seu desenvolvimento. As canções aguçam a imaginação das crianças, e podem contribuir para o desenvolvimento e a compreensão da realidade vivida por elas. Este estudo propõe analisar duas canções, de cunho religioso, que frequentemente estão presentes nos centros de educação infantil de Itaberaí em Goiás, nos quais tenho convivido. Assim, faço um relato de experiência, a partir de uma análise de discurso sobre as canções utilizadas no contexto escolar, a fim de perceber como a violência simbólica, o projeto de laicidade e o ensino religioso, se efetivam por meio das canções e como isso acontece, num contexto de sala de aula para educação infantil. Percebemos que apesar do ensino religioso estar estruturado de forma transversal na BNCC, o que habilitaria a utilização das canções em sala de aula, a utilização de canções religiosos de cunho cristão impossibilita a produção de valores democráticos, voltados para a cultura da paz e para o convívio ético em uma sociedade plural.

A FRIEZA E A IDEOLOGIA COMO MECANISMO DA VIOLÊNCIA (SUBLIMINAR)

Este artigo objetiva apresentar uma discussão sobre a frieza e a ideologia da sociedade atual frente à dominação, frente à exploração, frente à barbárie. Ressaltando algumas perguntas provocativas e instigantes que podem servir como ponto de partida para novas discussões. Fruto da abordagem qualitativa de cunho bibliográfico, foi abordada a discussão sobre as relações intrínsecas entre elementos que constituem a desigualdade e degradação humana. Conclui-se que a frieza é um mecanismo da violência, sendo esta subliminar pela grande influência dos aparelhos ideológicos que decretam a mistificação das nocivas consequências do trabalho alienado, da competição, da concorrência, do individualismo, constituindo a barbárie.

AGENDAS SOCIAIS E RELIGIÃO: SUSTENTABILIDADE, JUSTIÇA E PAZ

Apresentação do Dossiê.

A CONTRIBUIÇÃO DA VISÃO PROFANA DA POSSESSÃO NA INVISIBILIZAÇÃO DAS NOVAS RELIGIÕES JAPONESAS (NRJ)

Historicamente a possessão tem sido identificada entre distintos grupos humanos desde a antiguidade. Comumente a possessão é associada em algumas culturas e por muito tempo na academia como uma prática ligada ao profano (possessão demoníaca). Tendo em vista que ainda predomina uma visão diabólica da possessão, e a consequência disto gera diversos tipos de violência, este artigo ensaia de maneira introdutória apresentar a possessão sob outra perspectiva, ou seja, a perspectiva aqui abordada não hierarquiza a possessão dentro do binário sagrado e profano, mas, a partir da trajetória de transformação de vida de líderes das Novas Religiões Japonesas.

RELIGIÃO E VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: A RECONSTRUÇÃO DO SENTIDO DA VIDA DE MULHERES VÍTIMAS

Dentre as muitas formas de violência presentes na atualidade, se destaca a violência contra mulheres, forçando-as a buscar sentido às suas experiências. Visando contribuir com a análise desse fenômeno, apresenta-se o resultado de pesquisa de natureza biográfica, realizada através de histórias de vida de quatro mulheres que sofreram e ainda se encontram em situação de violência doméstica em um município do interior de Goiás. Objetivou-se, por meio de entrevista com questionário semi-estruturado e mediante o recorte de noções básicas conceituais de violência, religião e resiliência, identificar que sentido de vida cada uma das quatro mulheres construiu (e constrói) no seu cotidiano e em que medida a religião se apresenta a elas como elemento constituinte de processos resilientes. Avaliou-se que as mulheres nessa situação buscam sentido em algum tipo de mística religiosa fundada na busca de sentido, de modo a sustentar suas atitudes no curso da vida.