Processo transexualizador

A partir de 1997 o atendimento médico a transexuais no Brasil começa a ser regularizado, resultando na implantação do chamado Processo Transexualizador. Em torno da transexualidade desenvolveram-se pelo menos três diferentes discursos, o discurso médico, o discurso do senso comum e o discurso do movimento LGBT, elementos culturais formados em diferentes temporalidades. O objetivo deste trabalho é primeiramente compreender como cada um destes diferentes discursos se formou e de que forma influenciaram a implantação do atendimento médico a transexuais no país e mais especificamente o atendimento médico a essa categoria no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

Mulheres que trabalham

Este artigo tem como objetivo comparar a representação das mulheres no mundo do trabalho nas revistas femininas, Jornal das Moças no Brasil e Modas e Bordados - Vida Feminina em Portugal durante os Estados Novos dos respectivos países de 1937 a 1945. Os regimes autoritários de cunho corporativista, como se caracterizavam os Estados Novos no Brasil e em Portugal, possuíam discursos e projetos políticos voltados às mulheres a fim de estabelecer seus espaços delimitados ao privado. Para tanto, contextualizou-se os governos de Getúlio Vargas e de António de Oliveira Salazar assim como a história dos periódicos em análise. Apoiando-se na imprensa periódica enquanto fonte central de análise teve a pretensão de investigar os papéis sociais estabelecidos para as mulheres a partir da metodologia da História Comparada. Por último, optou-se por comparar os regimes e os periódicos a fim de compreender suas atuações na sociedade, em especial às mulheres e o trabalho feminino.

Maternidades, sempre plurais e políticas

SOARES, Ana Carolina Eiras Coelho; CIDADE, Camilla de Almeida Santos; CARDOSO, Vanessa Clemente. Maternidades plurais: os diferentes relatos, aventuras e oceanos das mães cientistas na pandemia, Belford Roxo: Bindi Acadêmico, 2020, 824 p.

Malha de saberes

Este estudo, de caráter conceitual e aplicado, propõe-se a apresentar e discutir acerca da validade do instrumento metodológico intitulado Malha de Saberes, que tem por objetivo sistematizar saberes orais e/ou escritos, em diálogo interdisciplinar e intercultural. Para tanto, utilizou-se os conceitos de memória individual e coletiva, subalterna e nacional, para dar cabo da necessidade de inclusão de narrativas como versões acerca de um mesmo evento, considerando-se os diferentes discursos que lembram o passado. A narrativa e as performances da narração são o objeto por natureza da memória, por isso são formas de ocorrência dos saberes e testemunhos das histórias orais de vida, responsáveis pela transmissão do conhecimento em comunidades tradicionais. Por fim, propõe-se, como modo de instaurar o diálogo de saberes impressos nas diferentes memórias, o instrumento Malha de Saberes, com a finalidade de justapor e apresentar as características e interações entre os suportes orais e escritos da memória.

Contribuições da história oral para uma discussão sobre violência doméstica e adoecimento feminino

Estudo de abordagem qualitativa, que utilizou a metodologia da história oral de vida. Apresenta a narrativa de Nair, moradora de uma cidade de porte médio do interior do Paraná, que viveu violência psicológica no relacionamento conjugal. Embora tenha rompido o relacionamento abusivo, a entrevistada considera que esses acontecimentos terminaram por lhe comprometer a saúde. Buscou-se, a partir das narrativas, validar as representações sociais do processo violência/adoecimento elaboradas pela entrevistada, antes que buscar uma legitimação nosográfica de suas experiências. Endossando a perspectiva metodológica de Portelli, buscou-se não a verdade dos fatos, mas a interpretação deles, através das memórias de Nair.

experiência da história

O corrente artigo investiga a experiência que historiadores e historiadoras universitário(a)s tiveram de sua própria disciplina – a história – na conjuntura problemática da década de 1970. Trata-se de discutir a vivência de um presente disciplinar experimentado sob o signo da crise social e cultural, conforme a percepção daquele grupo de intelectuais. O foco maior direciona-se para a maneira como profissionais de Clio viram, pensaram e sentiram o momento vigente de sua área de saber durante parte importante da Ditadura Militar, perfazendo, assim, uma dada experiência do tempo presente.

Africano em seus múltiplos mundos

MEIHY, Murilo Sebe Bom. Leão, o Africano. A África e o Renascimento vistos por um árabe. Cotia,SP: Ateliê Editorial, 2017, 201 p.

Sociedade dividida, o feminino em disputa

O artigo reflete acerca dos projetos em disputa manifestos por um lado na organização anarco-feminista espanhola Mujeres Libres, por outro na Sección Femenina de la Falange, alinhada ao fascismo. Coletividades antagônicas, estas organizações se confrontaram em escritos e ações durante a Guerra Civil Espanhola, apresentando concepções opostas acerca do “lugar” a ser ocupado pela mulher na sociedade. Assumindo como ponto de partida as publicações produzidas por estes agrupamentos durante os anos de guerra, o manuscrito investiga o tratamento dado a temas como a sexualidade feminina, família, maternidade, espaço público e trabalho doméstico. Frente a ascensão do fascismo na Espanha após a queda da República, subverter ou aprofundar o papel tradicional atribuído à mulher fez parte de uma disputa, literalmente de vida ou morte para muitas.

Gênero e sexualidade em histórias de vida de mulheres do tráfico

O artigo objetiva identificar, nas narrativas de histórias de vida de mulheres envolvidas com o tráfico de drogas e privadas de liberdade, as rupturas e as permanências com o discurso heteronormativo de gênero e sexualidade. Realizou-se uma pesquisa qualitativa e obtiveram-se oito entrevistas de história de vida que foram submetidas à análise de discurso. As narrativas são construídas nas múltiplas posições assumidas, ora no campo das continuidades, ora das descontinuidades, especialmente em relação às normas de gênero. A permanência das narradoras nas construções hegemônicas de gênero precisa ser pensada devido à força dos discursos que regulam e produzem os gêneros, cujos efeitos remontam à “naturalização” de comportamentos que fundamentam inúmeras relações de poder em sociedade.

Gênero, sexualidade e conexões com a história global

A História Global desponta com seu almejo contra hegemônico, que supere o nacionalismo metodológico e o eurocentrismo. Assim, assemelha-se ao caráter emancipatório dos estudos de gênero e sexualidade, visando uma apreensão relacional dos objetos de pesquisa. Apesar dos paralelos programáticos, esses dois campos pouco se interseccionaram. Neste trabalho, propomos um esforço teórico-metodológico que conecte tais perspectivas, sublinhando a potencialidade que tal diálogo anuncia. Para isso, focamos em resultados de duas pesquisas: a comparação da militância de mulheres no Brasil e em Portugal na segunda metade do século XX; e o protagonismo dos movimentos homossexuais do Brasil e da Alemanha Oriental dentro de uma rede global de resistência.