O interacionismo em aquisição de linguagem como um novo lugar teórico para a escrita infantil

Este trabalho consiste em apresentar o interacionismo em aquisição de linguagem como alternativa à investigação da aquisição da linguagem escrita, uma vez que essa proposição articula um referencial teórico que possibilita a abertura de uma nova perspectiva de análise fundamentada na relação sujeito/língua. Partimos, então, do movimento feito pela pesquisadora brasileira Cláudia de Lemos, em busca de uma teoria de linguagem que analisasse o percurso linguístico da criança e, também, de sua articulação entre a linguística estruturalista de base europeia e a psicanálise lacaniana, proposta que influenciou os trabalhos de Sônia Borges e Zelma Bosco. Para essas autoras, os escritos do outro funcionam como um espelho para a criança no início do percurso de aquisição da linguagem escrita, em razão de que a materialidade dos diversos textos e a interação da criança com essa materialidade é o que vai facilitar o aparecimento de aspectos gráficos e textuais na escrita inicial da criança.

O processo de reescrituração da palavra “muro” em textos jornalístico de revista “Veja”

O presente artigo tem como objetivo, sob a ótica da semântica do acontecimento, analisar o processo de reescrituração da palavra muro , em outras palavras, o modo como a referida palavra ao se repetir produz um novo significado. Para isso, a analise constituirá de quatro textos jornalísticos da revista Veja publicados nos anos 2014, 2015 e 2017, que tematizam sobre a palavra muro na relação com outros sentidos que rememoram um passado enunciativo, no presente do acontecimento. A base teórica e metodológica está fundamentada em conceitos da teoria da semântica do acontecimento, conforme proposta por Guimarães (2002, 2004 e 2005). Assim, analisaremos o modo como o processo de reescrituração se constitui em textos jornalísticos que tematizam o “muro” enquanto acontecimento enunciativo, de modo que o locutor-jornalista, ao enunciar, é afetado por seu lugar social no acontecimento enunciativo. Tudo isso nos fez observar o processo de significação de outro(s) sentido(s) da palavra muro pelo efeito da repetição nos textos jornalísticos.

Aspecto e composicionalidade: um olhar para os argumentos do verbo

O estudo do fenômeno aspectual no âmbito da composicionalidade, baseando-se nacombinação do significado do verbo com seus argumentos, tem se mostrado relevante naatualidade. Nesse contexto, objetivou-se investigar, em sentenças do Português Brasileirocontemporâneo, se a natureza dos sintagmas nominais (argumentos internos e argumentoexterno) influencia a leitura aspectual do sintagma verbal e da sentença. Por umaabordagem qualitativa, foram analisadas 93 sentenças selecionadas de 52 notícias de jornaisno período de dezembro de 2018 a junho de 2019. Fundamentando-se em Verkuyl (1972,1989, 1993, 2002), investigou-se o modo como as sentenças podem expressar diferentesformas de temporalidade, em termos da oposição aspecto terminativo/aspecto durativo.Das 93 ocorrências, 80 eram verbos achievements, seis eram verbos de atividade e sete eramverbos accomplishments. Em todas as sentenças com verbos achievements transitivos, houvealteração da interpretação aspectual em decorrência da natureza dos argumentos internos eexterno. Situações apresentadas por verbos também achievements, porém intransitivos,fossem inergativos ou inacusativos, tiveram a terminatividade reforçada por complementosocupando a posição do argumento interno. Com verbos de atividade e transitivos, houvemodificação aspectual da situação, que passou a télica, devido à especificação dosargumentos internos e do argumento externo. Quando os verbos, apesar de indicarematividade, eram inergativos, observou-se que, estando a posição do argumento internoocupada, a situação passou a télica. Com verbos accomplishments, as situações apresentaramcaráter durativo na presença de argumentos internos e argumento externo indeterminados.Concluiu-se que a natureza desses sintagmas nominais é fundamental no estudo doaspecto, devido à atualização no nível do sintagma verbal e no nível da sentença. Destacou-se na pesquisa o papel igualmente importante do argumento externo para a leituraaspectual, confirmando-se que, assim como postula Verkuyl, o limite superior do aspecto éo nível da sentença e não do verbo ou do sintagma verbal.

Continuum categorial entre explicação e restrição: uma análise de orações relativas

Neste artigo, analisamos orações relativas à luz de um continuum categorial entre a explicação e restrição. Objetivamos correlacionar propriedades formais e semântico-pragmáticas dos SN antecedentes ao tipo de relativa que a eles se vincula e propor a distribuição das orações analisadas de forma gradiente. A pesquisa tem abordagem quali-quantitativa e caráter descritivo-explicativo; sustenta-se teoricamente na vertente norte-americana da Linguística Funcional (GIVÓN, 1995; MARTELOTTA, 2011; FURTADO DA CUNHA; BISPO, 2013). Os resultados indicam que orações restritivas ocorrem em maior quantidade com antecedentes novos e menos definidos, enquanto as explicativas, mais frequentemente, ligam-se a SN disponíveis e com maior grau de definitude. Antecedentes evocados e inferíveis ocorrem com ambos os tipos de relativas, assim como aqueles com grau intermediário de definitude. Esses achados revelam que esses dois grupos de relativas não representam categorias discretas, mas abarcam um conjunto de orações que se distribuem numa escala categorial em cujos extremos situam-se as explicativas típicas, com menor grau de integração à oração matriz e a ela relacionadas por adjunção/hipotaxe, e as restritivas prototípicas, com maior aderência morfossintática à matriz e a ela articuladas por encaixamento/subordinação.

Os Ethé do parecerista de pareceres publicados na revista Encontros Bibli

Observa-se, a partir de 2003, uma proliferação de revistas científicas on line no Brasil fomentada pelo uso da plataforma Open Journal System cuja versão em língua portuguesa foi fomentada pelo IBICT como uma primeira etapa do movimento da Ciência Aberta. Etapas posteriores desse movimento inclui a abertura do processo de avaliação dos artigos entre outras como o compartilhamento de dados primários e o depósito antecipado de artigos em repositórios de pré-print. Como consequência da implementação desta agenda existem revistas que publicam pareceres o que oportuniza que este gênero seja melhor descrito e conhecido. Neste contexto, este artigo analisa o ethos (a imagem de si) do autor de parecer publicado mediante identificação dos recursos linguísticos e das estratégias retóricas empregadas para tanto. Na primeira seção, apresentam-se as teorias nas quais a pesquisa se embasa, a Linguística Funcional e a Retórica, e alguns estudos anteriores sobre o assunto; na segunda seção, descrevem-se a metodologia empregada para a constituição do corpus formado por 10 publicados na revista Encontros Bibli em 2019 e em 2020; na terceira seção, há a identificação e descrição das estratégias empregadas no corpus para constituição do ethé do pareceristas e, ao final, são feitas considerações finais sobre as contribuições e limitações da pesquisa. As qualidades do ethos clássico, segundo Aristóteles se centram na equidade, no senso de justiça, imparcialidade, isenção e neutralidade. Os resultados da análise da amostra de pareceres mostram que o contexto da avaliação de artigos científico, os ideais da Ciência Aberta e a imagem de si buscada pelos pareceristas dos pareceres do corpus analisado reconfiguraram as qualidades apontadas pelo filósofo em três ethé: a do parecerista objetivo de neutro, a do parecerista respeitoso, polido e educado e a do parecerista democrático e aberto.

A voz média como estratégia de isenção de responsabilidade

Numa perspectiva funcional, a gramática é considerada a codificação de valores semânticos e pragmáticos em que entram em jogo, entre outros fatores, a intenção comunicativa do falante (GIVÓN, 1993). A categoria de voz, relacionada à escolha do sujeito, configura-se como uma estratégia discursiva para focalizar ou desfocalizar determinado participante. Na voz média, em especial, o sujeito é o paciente do processo e o agente é totalmente desfocalizado. O objetivo deste artigo é analisar, em dados do português oral, a voz média como estratégia de isenção de responsabilidade. Para tanto, investiga, entre outros fatores, se o desencadeador do processo, embora não presente na oração medial, se encontra no contexto ou pode ser identificado. Os resultados apontam que, na voz média, o desencadeador do processo, quando presente no contexto, é predominantemente abstrato ou interno, o que permite seu emprego como estratégia de isenção de responsabilidade.

A modalidade volitiva no discurso de autoajuda religioso do padre Reginaldo Manzotti

Este trabalho tem por objetivo descrever e analisar o condicionamento dos aspectos pragmáticos sobre os aspectos semânticos na instauração da modalidade volitiva no discurso de autoajuda religioso. Para isso, tomamos por base a perspectiva do funcionalismo linguístico que trabalha com o uso efetivo da língua e a integração da pragmática na descrição dos fenômenos linguísticos. Desse modo, selecionamos quatro obras do Padre Reginaldo Manzotti inseridas no domínio do discurso de autoajuda religioso: Batalha espiritual: entre anjos e demônios (2017), Combate espiritual: no dia a dia (2018), O Poder Oculto (2019) e As muralhas vão cair: como fazer um Cerco de Jericó em sua vida (2020). Após a análise das obras, verificamos que o grau de comprometimento do falante no que tange à expressão de volição (extremo, alto, médio, baixo e muito baixo) condiciona tanto os valores modais volitivos (desideração, optação, intenção, exortação e nolição) quanto a natureza do enunciado modalizado (disposicional, reportativa, expressiva e apreciativa). PALAVRAS-CHAVES: Modalidade; Volitividade; Discurso de Autoajuda.

Denominações para o “homossexual masculino” no ALiMA: lendo e discutindo imagens sociais

Neste texto, busca-se mostrar como a análise do léxico pode ser um importante caminho para desvelar conceitos e imagens sociais cristalizadas e pode contribuir para discutir padrões sociais vigentes. Nesse sentido, a pesquisa centra-se na hipótese de que as denominações dadas ao homossexual masculino resultam de uma ideologia dominante com relação à imagem e à sexualidade do homem na sociedade. O estudo foi feito com base em um conjunto de dados lexicais coletados para a produção do Atlas Linguístico do Maranhão (ALiMA) e conta com um total de 29 denominações. O estudo ancora-se nas discussões de campos teóricos como a História da Sexualidade e a Linguística. Neste último campo, o trabalho fundamenta-se nos estudos das Ciências do Léxico, da Dialetologia e da Geolinguística. Os dados foram organizados em tabelas e em grupos de denominações dicionarizadas ou não, em seguida, foram analisados no sentido de tentar reconstruir valores e imagens do homossexual no imaginário popular. Os dados mostram que as denominações dadas ao homossexual masculino muitas vezes estão relacionadas à aspectos físicos e sexuais do homem gay e, também, tem como base uma ideologia heteronormativa que ainda predomina na sociedade. Desse modo, é possível concluir que, muito embora haja uma intensa discussão sobre padrões existentes na sociedade, ainda há um longo caminho para a desconstrução dessas imagens idealizadas.

Aquisição segmental e prosódica nas produções verbais de crianças prematuras

Na aquisição de uma língua, a criança começa a realizar ajustes para produzir a língua-alvo (MATZENAUER; MIRANDA, 2010; MATZENAUER, 2015 PAYÃO; COSTA, 2016). Essa aquisição pode ser afetada pela idade gestacional e pelo peso. Este trabalho partiu da hipótese de que há entre os prematuros defasagens quanto à aquisição segmental consonantal, vocálica e prosódica, correlacionando a idade gestacional e o peso ao nascer. O objetivo da presente pesquisa foi analisar a aquisição segmental consonantal, vocálica e prosódica nas produções verbais de prematuros, considerando a idade gestacional e o peso ao nascer. Este estudo comparou a quantidade de segmentos consonantais e vocálicos e a quantidade de processos fonológicos entre os prematuros ao longo das seis coletas, tendo como referência a aquisição segmental e prosódica apontada pela literatura sobre desenvolvimento linguístico típico do PB. Os dados de fala espontânea de onze crianças, avaliadas entre 12 a 25 meses, provêm de um banco de dados longitudinal coletados entre 2014 e 2018. Os achados evidenciam que os prematuros não produziram todos os segmentos da língua portuguesa até os 20 meses de idade corrigida. A correção da idade não compensou a existência do atraso presente nos prematuros. A aquisição prosódica revelou-se defasada quanto ao preenchimento segmental das sílabas átonas e tônica, uma vez que a sílaba tônica se destacou em relação às átonas e os processos fonológicos de maior relevância foram a não realização de uma sílaba ou mais e não realização de segmento no onset simples. Os prematuros estão em atraso por não preenchem os segmentos em todas as posições silábicas, podendo afetar o desempenho linguístico em idades posteriores.

“É como perder uma biblioteca que ensinava a todos”: biopoder, bio(necro)política e população indígena na Amazônia brasileira em discursos sobre a pandemia da covid-19

Este trabalha focaliza a pandemia de Covid-19, quando discursivizada pela mídia virtual, no que concerne às estratégias (bio)políticas e/ou necropolíticas emanadas da governança nacional em relação aos povos originários (indígenas) amazônicos, assim como a ribeirinhos e demais populações inseridas nesses territórios. A partir do esforço em articular as perspectivas teóricas de Michel Foucault (2005; 2009; 2012) acerca do biopoder, da biopolítica e da governamentalidade, e a necropolítica com as teorizações de Achille Mbembe (2016), analisamos um conjunto de seis publicações da mídia virtual, com vistas a perscrutar o modo de funcionamento de estratégias políticas de governamento da população que dão a conhecer as relações de poder-saber direcionadas a esses sujeitos da Amazônia brasileira. Sobre a metodologia, convém frisar que se trata de um estudo descritivo-interpretativo, de abordagem qualitativa. Pontuam-se que as táticas biopolíticas empreendidas em mira dos povos indígenas se efetivam enquanto uma questão de “racismo de Estado”, de assunção da vida pelo poder estatal, dispositivo que se assemelha a uma tática de guerra.