Reflexões sobre o imaginário na arte literária de José Saramago: uma leitura interdisciplinar de A jangada de pedra

Se, de acordo com Gilbert Durand (1997, p. 14), o imaginário pode ser compreendido como um “conjunto das imagens e relações de imagens que constitui o capital pensado do homo sapiens”, o estudo dessa complexa rede semântica permite capturar o que se delineia nos pensamentos e sentimentos humanos em qualquer tempo e lugar. É objetivo deste trabalho perscrutar a constelação de imagens que se manifesta na arte literária de José Saramago. O corpus que serve de análise será e A jangada de pedra. Pretendemos investigar a matéria imaginária que organiza esta reconhecida obra a partir dos Estudos do Imaginário na perspectiva interdisciplinar da hermenêutica simbólica, sinalizando configurações de imagens e suas relações com o contexto sóciohistórico e cultural em que se engendram. Distintas marcas históricas singularizam as formas artísticas, as várias releituras e reinvenções de imagens na formulação de apreensões estéticas. Os espaços textuais, ao se retecerem em fluxos operativos, convocam a participação do leitor para compor o diagrama de significações sugerido pelo autor. As reflexões sobre o imaginário assumem abrangência interdisciplinar, possibilitando analisar fenômenos culturais e artísticos de maneira transversalReflexões sobre o imaginário na arte literária de José Saramago: uma leitura interdisciplinar de A jangada de pedra

Memorial Chico Science: o Manguebeat como patrimônio cultural da cidade do Recife

O Manguebeat, cena cultural dos anos 1990 que teve certa repercussão nacional e internacional, tornou-se a partir dos anos 2000, especialmente com a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder na cidade, parte importante do discurso cultural na capital pernambucana. Dessa maneira, uma série de políticas públicas passaram a usar o legado simbólico da cena na construção de lugares de memória e de símbolos para a cidade, em um movimento precoce de construção de uma seleção de ícones que passou por um processo de patrimonialização. Devido a esse contexto, o Memorial Chico Science (MSC), hoje fechado por conta da pandemia de COVID-19, foi construído em homenagem ao cantor e principal nome da cena, morto em 1997, como espaço não apenas de memória, mas de construção cultural a partir dos preceitos postos pelas bandas na já distante década de 1990.

Existências imaginadas: a consciência de si na série televisiva Westworld

No intuito de compreender como se desenvolve o processo de percepção de consciência de si durante os episódios das três temporadas da série televisiva Westworld, este trabalho analisa a constituição das personagens selecionadas, Homem de Preto, Dolores Abernathy, Maeve Millay e Bernard Lowe, além de problematizar os modos de manipulação das narrativas que as constituem. A partir da análise, percebe-se que o processo de reconhecimento da consciência dos androides representados na série é muito semelhante ao processo desenvolvido pelos humanos, com base na comparação entre os discursos das protagonistas com pesquisas científicas, literárias e de caráter filosófico. Porém, não é possível, até este momento, definir se os androides realmente serão capazes de atingir esse nível de independência fora da ficção. Ressalta-se, ainda, a importância de discutir a contribuição das produções cinematográficas para a reflexão acerca da condição humana na contemporaneidade tecnológica.

A ficção científica de acordo com os Futurians

The Futurian Society of New York, ou simplesmente The Futurians, foi um grupo de fãs e posteriormente escritores e editores de ficção científica, que existiu de 1938 a 1945. O período é geralmente lembrado pela atuação do editor John Cambpell Jr. à frente da Astounding Science Fiction. A revista era, de fato, a principal pulp à época e moldou muito do que se entende por ficção científica até hoje. Os Futurians eram, de certa forma, uma oposição a Campbell e seu projeto. Três membros do grupo viraram editores também e foram responsáveis por seis revistas pulps diferentes, em que foram publicadas dezenas de histórias com autoria dos Futurians. Esse artigo analisa parte desse material e procura fazer um pequeno panorama de como os Futurians pensaram e praticaram a ficção científica no início da década de 1940.

Entre distopia, realismo mágico e ficção científica: o problema do gênero no roteiro cinematográfico não filmado inédito de A hora dos ruminantes

Este artigo apresenta ao leitor o projeto cinematográfico não filmado de A hora dos ruminantes, de 1967, adaptado da obra homônima do escritor José J. Veiga pelo cineasta Luiz Sergio Person e o crítico de cinema e roteirista Jean-Claude Bernardet. Discutimos o problema do gênero a partir da relação com o tema da distopia, e analisamos a relação de A hora dos ruminantes com dois gêneros artísticos: a ficção científica e o realismo mágico. A partir dessa discussão, e da análise de documentos inéditos sobre o projeto cinematográfico, levantamos a hipótese de que A hora dos ruminantes poderia ter inaugurado um novo gênero cinematográfico híbrido.

A guerra dos mundos virada do avesso: a metáfora política do novo coronavírus

Este artigo investiga A guerra dos mundos estabelecendo uma relação entre a narrativa de H. G. Wells e as guerras e surtos de peste nos séculos posteriores ao romance. Ressaltamos o caráter visionário do autor que antecipa conflitos mundiaiscom potencial bélico, assim como os marcianos fizeram com os humanos no enredo. O romance pode ser analisado como uma sátira política diante do contexto da pandemia da Covid-19. Os pensamentos de Slavoj Žižek e Valentin Volóchinov iluminam nossa análise, fazendo-nos refletir sobre a crescente perda de civilidade entre nações e povos e sua representação literária. Além da perspectiva filosófica que enxerga o espírito do tempo de Wells no contexto histórico atual, destacamos, também, a inaptidão dos meios de comunicação e das autoridades diante de eventos trágicos e epidêmicos ao longo da nossa História.

A cultura do medo e o desviante no Jornal do Almoço: ponderações sobre os espectadores de Rio Grande (RS)

O presente trabalho tem como objetivo analisar o papel do Jornal do Almoço na construção da cultura do medo e a percepção dos espectadores de Rio Grande sobre a imagem do desviante adotada pelo veículo. Para a realização da pesquisa, foram realizadas entrevistas semiestruturadas, em amostragem aleatória entre dez espectadores do Jornal do Almoço, residentes em Rio Grande. Esta pesquisa debruçou-se, principalmente, sobre as ideias de Martín-Barbero (1998; 2004), Becker (1963), Pastana (2005) e outros teóricos relevantes para traçar um sentido de estruturação dos conceitos-chave.