Editorial
Com o tema “Interação Humano-Animal-Computacional”, a edição 22 da TECCOGS propõe abordar novas formas de interação e cooperação interespécies. As primeiras décadas do século XXI têm sido atravessadas pela emergência de uma série de estudos interdisciplinares que avaliam o potencial de agência, direito e bem-estar dos animais não humanos. Diante da urgência em revisar um excepcionalismo do sujeito humanista, os estudos que exploram noções de animalidade se mostram fundamentais na construção de um pensamento crítico acerca do humano e das relações construídas com, para e por animais não humanos.O filósofo René Descartes, em seus escritos que datam do século XVII, negou sistematicamente a consciência a seres não humanos. Para Descartes, apenas a espécie humana, a única dotada de alma, poderia se qualificar como consciente. Ainda que tenham tomado uma parte nas discussões éticas do último meio século, os animais permaneceram durante muito tempo como autônomos dominados pelo instinto, desprovidos de qualquer experiência ou intencionalidade. As ações por eles desempenhadas pareciam-nos restritas a comportamentos estritamente objetivos – processos químicos, funcionamento mecânico, processamento de informação. […].