O presente artigo pretende analisar quais são as implicações de uma hipótese que prolonga a análise foucaultiana do neoliberalismo a partir de seus efeitos na democracia moderna. Com esse propósito, o trabalho recente de Wendy Brown examina como a racionalidade neoliberal afeta a democracia, transforma o seu imaginário e mesmo o seu sujeito principal, isto é o demos. Brown aponta para dois problemas da "revolução furtiva do neoliberalismo", a saber, que a racionalidade neoliberal transforma e desfaz a democracia ao afetar diretamente o seu princípio fundamental que é a soberania popular. Tal transformação se faz a partir da mudança produzida no imaginário democrático e, principalmente, da transformação do sujeito econômico, de sujeito de interesse em capital humano, assim como do sujeito político, relegado a segundo plano. A partir desse primeiro problema, examinamos como se dão e quais são as consequências da mudança do imaginário democrático e de seu sujeito político central. O segundo problema apontado por Brown trata da interferência da razão neoliberal na autonomia soberana. A segunda parte deste artigo procura, portanto, analisar as relações entre soberania do Estado-nação e a noção de soberania popular a partir do problema da expansão do capital e da vulnerabilidade das fronteiras e do território onde se exerce a cidadania.