<p>Este texto é uma proposta de reflexão em três partes sobre o tema “roupa” em <em>O Livro de Travesseiro</em>, de Sei Shônagon (Japão, séculos X–XI), discutindo a importância dos fazeres relacionados ao têxtil na sociedade aristocrática japonesa da Antiguidade; as suas ressonâncias no contexto da moda no século XX; e a maneira como a metáfora escritura-corpo-vestimenta atualiza-se e amplifica-se na adaptação do livro para o cinema. No livro, texto, têxtil e memória confundem-se, formando uma metáfora complexa que é também um comentário sobre a condição feminina na Corte Imperial de Heian. A adaptação da obra para o cinema (<em>O Livro de Cabeceira</em>, de Peter Greenaway, 1996) conta com a colaboração do <em>designer</em> desconstrutivista Martin Margiela, e acrescenta novas camadas interpretativas a esse aglomerado de imagens relacionadas aos atos de escrever, tecer, ler, traduzir, adaptar e desconstruir. O caráter fragmentário da obra literária pode ainda ser lido como em diálogo com o jornalismo de moda do século XX. O ideal estético do <em>okashi</em>, da literatura clássica japonesa, encontra eco no conceito de <em>pizzazz</em>, de Diana Vreeland, assim como no esteticismo da poética modernista. A roupa como metáfora do texto e a ideia de que roupa é texto estão presentes nesses três momentos interpretativos.</p>