Revista Ciências Sociais e Religião

Este texto tem como referência a celebração dos 20 anos da revista Ciencias Sociales y Religión / Ciências Sociais e Religião, publicada pela Associação de Cientistas Sociais da Religião no Mercosul. Esta celebração, promovida e organizada pelo seu Comitê Editorial Executivo, constou da publicação de um número especial da revista, com a reedição dos 20 artigos mais representativos da sua trajetória e da realização de um painel virtual, para o qual os autores deste artigo foram convidados para falar sobre a origem da revista, visto que estiveram, no seu início, como alguns de seus proponentes e primeiros editores.2 Apresentamos, portanto, neste texto testemunhal e histórico escrito a oito mãos, o relato de uma experiência acadêmica compartilhada. Essa experiência lançava, por meio da criação de uma revista internacional, uma importante referência para a produção e divulgação dos estudos sobre religião, que resultavam do diálogo que fazíamos, no âmbito da Associação dos Cientistas Sociais da Religião do Mercosul, especialmente nas Jornadas sobre Alternativas Religiosas na América Latina.

Donald Trump y Jimmy Morales

En el otoño de 2015, un año antes de que Donald Trump se convirtiera en el presidente de Estados Unidos, Jimmy Morales, un cristiano evangélico, ganó las elecciones presidenciales en Guatemala. Este artículo examina el activismo político-religioso, las redes transnacionalmente activas y el impacto de la derecha cristiana entre los dos países. Además, se analiza la influencia del sionismo cristiano dentro de este activismo y estas redes. Tres ejemplos sirven para ilustrar las complejidades en juego. Primero, se analiza el impacto de la “Mexico City Policy” en Guatemala, una directiva estadounidense también llamada por sus críticos “ley Mordaza Global”. El segundo ejemplo aborda la Iniciativa 5272, que busca aprobar la “Ley Para la Protección de la Vida y la Familia”. El tercer ejemplo abarca la decisión de Morales de trasladar la embajada guatemalteca de Tel Aviv a Jerusalén, poco después de que los Estados Unidos lo hiciera. El artículo concluye que con las administraciones Trump y Morales la separación Iglesia-Estado se disuelve y la llamada “guerra cultural” es introducida en el ámbito político y legislativo a través de actores evangélicos en ambos países, un fenómeno que significa graves retrocesos para los derechos humanos, especialmente para las mujeres y las personas LGTBQIA+.

Assim na Câmara como na Assembleia

Neste artigo, analisamos as continuidades e similaridades no uso do capital religioso e nas estratégias eleitorais de candidatos apoiados por denominações evangélicas. Trata-se das campanhas de representantes oficiais da Assembleia de Deus, Igreja do Evangelho Quadrangular e Igreja Universal do Reino de Deus, nas eleições à Assembleia Legislativa do Paraná (2018) e à Câmara Municipal de Campo Mourão (2020). Procedemos a coleta e sistematização de materiais publicados em suas mídias sociais, problematizando a intensidade na utilização de signos hieráticos, a forma como as campanhas foram construídas e o estilo como as identidades sacras foram acionadas nas campanhas eleitorais. A participação de religiosos na arena pública apresenta uma agenda e estratégias simbólicas e pragmáticas, cuja consequência parece buscar expandir o reino de Deus sobre a política e fazer a vontade da Igreja assim na Câmara como na Assembleia.

Articulações político-religiosas entre Brasil-USA

A hipótese que orienta este artigo é a de que o governo Trump, em especial sua política externa, contribuiu para uma maior articulação entre conservadores religiosos brasileiros e a direita cristã estadunidense, fomentando o crescimento do chamado sionismo cristão no Brasil. Com apoio na análise de sites institucionais, materiais de divulgação disponíveis nas redes sociais e nos canais do Youtube, busca-se identificar quando e como o sionismo cristão ganha força no país. Embora se reconheçam outros fatores explicativos, argumenta-se que as vitórias eleitorais de Trump (2016) e de Bolsonaro (2018) e seus alinhamentos favoreceram a circulação de atores e valores do movimento sionista cristão no Brasil.

Religión contra democracia

La participación de evangélicos en política es un fenómeno que se ha hecho común en América Latina en el período posterior a las dictaduras. El presente artículo analiza el fenómeno, más reciente, del apoyo de evangélicos/as a candidaturas y proyectos políticos de la extrema derecha que configuran un “neoconservadorismo religioso”. Concentramos nuestra atención en la práctica política de evangélicos en el Perú, en el período contemporáneo al gobierno de Donald Trump que acogió a la transnacional política religiosa “Capitol Ministries”. Analizamos la comprensión del poder político en la tradición evangélica y los argumentos teológicos de su militancia en la extrema derecha. Nos apoyamos en levantamiento etnográfico remoto de material de campaña electoral del partido Renovación Popular y de sus candidatos pastores a las elecciones del 2021 en Perú. Trabajamos con la hipótesis de que la comprensión de los evangélicos del poder político reduce el espacio democrático al transformar adversarios en enemigos que deben ser “exterminados”, semejante al fenómeno Bolsonaro en Brasil.

Todos os caminhos levam a Roma e a Casa Branca

O artigo pretende discutir as conexões entre grupos da direita católica no Brasil com redes e matrizes do mesmo tipo, externas e transnacionais. As informações mais conhecidas dão conta do papel jogado por grupos evangélico-pentecostais oriundos dos EUA nestes fluxos. Este artigo, contudo, busca chamar atenção para o alcance da influência católica no processo. Serão destacados como vetores desta relação os movimentos do Opus Dei e da Renovação Carismática Católica (RCC). No exame destas duas instâncias da Igreja Católica, o artigo levanta a hipótese de que existe de longa data um caráter internacional no seio do Catolicismo que implica numa globalização interna deste na contemporaneidade. Esta funciona de modo próprio, ainda que interaja com outras formas religiosas conservadoras e reacionárias como os grupos evangélico-pentecostais. Usamos metodologias qualitativo-interpretativas com base em bibliografia acadêmica tradicional não-exaustiva. Mas, por ser um tema ainda em ebulição, utilizamos, como complemento, fontes primárias e secundárias digitais e não digitais (discursos oficiais, jornais, vídeos e páginas eletrônicas).

Trump e a direita religiosa

Esse dossiê surgiu da preocupação com a conjuntura política e religiosa contemporânea marcada pelo recrudescimento internacional da direita e da extrema-direita em várias democracias ocidentais. Em recentes eleições europeias vêm se destacando políticos e partidos à direita, como na Itália, Holanda, Hungria, Polônia e Turquia. Mesmo não tendo sido eleita em alguns países, a extrema-direita obteve um bom desempenho nas urnas, como na França, onde o Partido Socialista praticamente colapsou. No Reino Unido, a saída da União Europeia (o Brexit) foi, entre outras questões, um fechamento protecionista contra a chegada indesejada de imigrantes europeus e não-europeus. Nos Estados Unidos, Donald Trump foi eleito com seu discurso antiglobalista e neoconservador de feições fascistas e autoritárias. Em suma, diversas análises concordam quanto ao endurecimento dos regimes políticos escolhidos via procedimentos democráticos.

“Pelo governo de Deus"

Este artigo tem por objetivo compreender a inserção de novos movimentos fundamentalistas estadunidenses na América Latina durante o governo Trump, tendo como foco o Brasil. A abordagem teórica que referencia o estudo reúne conteúdo sobre os fundamentalismos e sobre a potencialização de sua presença na política nos EUA e na América Latina, com a análise de suas características. O trajeto metodológico inclui um estudo exploratório que identificou organizações/movimentos que se inseriram na América Latina de 2010 a 2020, sendo delimitada para este artigo a atuação no Brasil de dois destes projetos durante o governo Trump, o Ethnos 360° e o Capitol Ministries, como aplicação da noção de fundamentalismos adotada. Estas organizações são impulsionadas pela pauta da “liberdade religiosa” construída na aliança de Donald Trump com o evangelicalismo conservador e ultraconservador de matriz fundamentalista, para, nitidamente, realizarem intervenções em temas de interesse público.

O franciscanismo econômico

O artigo aborda os desdobramentos no Brasil da convocação feita pelo Papa Francisco, para um encontro mundial, em 2020, na cidade italiana de Assis, denominado Economia de Francisco, reunindo jovens, intelectuais e ativistas para repensar o desenvolvimento econômico do planeta. O evento ocorreu remotamente devido à pandemia do Covid-19, mas provocou o surgimento no país da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, uma rede ecumênica, que reivindica paridade de gênero, radicaliza a proposição papal e se mostra como decorrência do Cristianismo da libertação. Baseado em consulta a textos sobre tema, observação de atividades transmitidas pela internet e entrevistas com jovens participantes dessa rede, o artigo avalia sociologicamente o significado dessa mobilização no país.

The enchantment of archaeological sites and the quest for personal transformation

Ethnographical studies increasingly testify the conversion of archaeological sites into places used for a myriad of spiritual purposes associated to the culture of personal transformation. Analyzing data gathered at contemporary spiritual practices held in Carnac, a megalithic site located in northwest France, this article argues that the resignification of ancient places as ‘sacred’ and ‘energetic’ is a strategy to develop and enact inner search and work on the self. Collected data provides understanding on the actor’s conceptualizations and uses given to this place, while also suggesting further inquiries to assess the relations between spirituality, personal transformation and the enchantment of archaeological sites.