scholarly journals Clarice e Carolina: a salvação pela escrita

Opiniães ◽  
2021 ◽  
pp. 183-197
Author(s):  
Mariana Silva Bijotti

Motivado, principalmente, pelo breve encontro entre Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus, e o diálogo que esse encontro entre as duas proporcionou, este artigo tem como propósito comparar brevemente duas narrativas: A paixão segundo G.H. e Quarto de despejo. A partir do viés da metalinguagem nas duas autoras, é possível notar como a atividade da escrita serve para salvar essas duas vidas (de G.H. e até de Clarice, como ela afirma na crônica “Escrever”, e também de Carolina). As narrativas dessas duas mulheres parecem ser essenciais para sua sobrevivência em meio à experiência e descoberta do cotidiano desigual, ora a partir do conhecimento do outro, o desvalido (em G.H.), ora a partir da sua própria vivência nas classes mais pobres da sociedade (nos diários de Carolina). Desta forma, partindo do reconhecimento de suas diferenças (principalmente sociais), o que se quer aqui mostrar é como as duas obras parecem ter um eixo temático comum: a da escrita como necessária à sobrevivência das experiências.

Magma ◽  
2018 ◽  
pp. 45-64
Author(s):  
Fabiana Souza Valadão de Castro Macena

Este estudo pretende iluminar a representação do feminino a partir da ótica daquela que está consagrada pelo cânone, Clarice Lispector (1920-1977), e também daquela que ainda sofre o preconceito acadêmico por exemplificar a tripla subalternidade: mulher, negra, pobre, Carolina Maria de Jesus (1914-1977). Nesse intento, nos propusemos a analisar, da primeira, o romance Perto do Coração Selvagem (LISPECTOR, 1998), e da segunda, o diário Quarto de Despejo (1960). Metodologicamente, amparado pelos estudos comparados (CARVALHAL, 2006), bem como os estudos feministas (SCOTT, 1995), este artigo objetiva contemplar o modo como essas duas autoras, tão díspares, representam a mulher e sua relação com a maternidade e a família.


Author(s):  
Marise Hansen

Em 1960, a Livraria Francisco Alves Editora lançou dois livros que se tornariam fundamentais para a literatura brasileira a partir de um cenário pós-modernista: Laços de família, de Clarice Lispector, e Quarto de despejo, de Carolina Maria de Jesus. O objetivo deste artigo é abordar as duas obras, a despeito das diferenças de gênero literário, de estilo e das problemáticas que instauram, como manifestações de um mesmo tempo, escritas por mulheres e expressivas de uma tópica da falta, que se representa como vazio ou como fome. Considerar as obras em seu contexto de criação e publicação visa ainda a compreender aspectos da representação do autor numa época de valorização do escritor e da literatura.


2020 ◽  
Vol 13 (1) ◽  
pp. 259-273
Author(s):  
Jacqueline Oliveira Leão

Este estudo, “Escrita do Eu e inscrição narcísica em Quarto de despejo: diário de uma favelada”, propõe-se a travar um diálogo entre Literatura e Psicanálise, por meio da obra ficcional, Quarto de despejo: diário de uma favelada, de Carolina Maria de Jesus. O recorte a ser dado à análise centra-se, sobretudo, nas questões teórico-literárias que se acercam da escrita do eu, especificamente, dos escritos nomeados por diário e autobiografia, e o desdobramento da leitura de tais produções na perspectiva psicanalítica, mais precisamente sobre a esteira teórica de Sigmund Freud. Carolina Maria de Jesus recorre ao processo de escrita, aos registros de sua vida sofrida na favela como forma de organizar o próprio pulsional, ou seja, o processo de escrever o diário em si, de relatar a si mesma constitui-se na própria estruturação narcísica da autora: a fantasia de ser reconhecida, a fantasia de ser lida pelo outro e por ela mesma.


2011 ◽  
Vol 9 ◽  
Author(s):  
Lucia Helena

O artigo discute a questão do gênero, na atividade literária de escritoras mulheres, consciente de que não é tarefa da literatura representar de forma transparente o contexto, nem um eterno feminino. Chamando a atenção para o conceito de generização desenvolvido por Teresa de Lauretis em seu artigo “Tecnologias de gênero”, o ensaio comenta algumas passagens de Lispector, discutindo seus textos e questionando se sua ficção é ou não o produto de uma écriture féminine, como propôs Hélène Cixous.


2008 ◽  
Vol 3 ◽  
Author(s):  
Cristiane Amorim
Keyword(s):  

Leitura do conto “Os obedientes”, à luz da obra O homem e a morte, de Edgar Morin. A análise enfatizará a presença da morte e do seu duplo (a vida) na construção do tecido literário, a linguagem como sustentáculo da existência, a batalha permanente e fatídica entre o sujeito e a esfera social, o erro como chave da liberdade do indivíduo, o choque entre realidade e irrealidade, o contraponto entre os espaços exterior e interior, o aniquilamento e resgate do eu na morte-suicídio e a reciprocidade da situação sacrificial. No conto, o morrer não se estrutura sobre a decrepitude corpórea, e sim na perda da individualidade enquanto alameda sem retorno em direção à morte.


2016 ◽  
Vol 18 (1) ◽  
Author(s):  
Raquel Souza
Keyword(s):  

RESUmO : Lis no peito: um livro que pede perdão (2005), narrativa juvenil de autoria de Jorge Miguel Marinho, ficcionaliza, a partir das descobertas amorosas e literárias do protagonista adolescente, o processo de formação do leitor literário -- que, ao contrário do que apregoam as campanhas bem intencionadas destinadas aos jovens, pode ser bem doloroso e perturbador. Diante da quebra de expectativas proporcionada pela leitura de Clarice Lispector, e da necessidade, a partir de então, de reavaliar seu lugar no mundo, o personagem encena o papel determinante que a projeção da subjetividade desempenha na construção da relação entre leitor e literatura. Apoiando-nos, pois, em Michèle Petit (2013) e Annie Rouxel (2012; 2013), ambas estudiosas, em diferentes áreas do conhecimento, da ação do sujeito leitor na construção de sentidos do texto literário, investigaremos, por um lado, de que maneira se dá, na tessitura narrativa, a ficcionalização desse processo de formação do leitor; por outro lado, considerando que o protagonista é ele próprio uma projeção textual do autor empírico -- o que fica claro quando cruzamos a ficção com dados extraliterários --, verificaremos em que medida a subjetividade leitora se torna ela mesma matéria-prima para a criação literária. Por fim, colocando Lis no peito ao risco da leitura de jovens leitores empíricos, tentaremos avaliar a medida da distância (ou da identidade) entre os leitores virtuais, inscritos nas páginas do texto, e os leitores de carne e osso, que se apropriam singular e subjetivamente do que leem no concreto das práticas.PALAVRAS-CHAVE: Narrativa juvenil contemporânea, Formação do leitor literário, Sujeito leitor.


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