Educação Ambiental, contra-hegemonia e gestão de Unidades de Conservação

O texto expõe recortes de pesquisa sobre aproximações com categorias conceituais de Antonio Gramsci e contribuições à Educação Ambiental (EA) trabalhada na gestão de Unidades de Conservação (UC). Perguntou-se: como subsidiar a EA para que fortaleça a UC como espaço de ensino-aprendizagem em perspectiva crítica e incida na regulação de territórios? Hipoteticamente, subsidiar a EA com categorias gramscianas qualificaria a participação social nos Conselhos de UC para apreensão crítica da realidade socioambiental, elaboração de narrativa contra-hegemônica e incidência em políticas públicas. Metodologicamente, houve o estudo de categorias conceituais da obra do mencionado autor; revisão bibliográfica sobre a potência da EA contribuir à atribuição de sentidos às UC e aos Conselhos; pesquisa ex post facto sobre experiência de EA na gestão de UC. Identificou-se, partindo da inspiração no pensamento gramsciano, contribuições para o desenvolvimento de narrativas contra-hegemônicas partidas dos Conselhos que também expressam desafios no âmbito do Estado Integral.

Valores, atitudes e comportamentos ambientais em estudantes do Ensino Médio em uma Escola Pública na Amazônia

A Educação Ambiental tem sido discutida como das principais estratégias diante dos impactos ambientais crescentes, provocados pelas atividades humanas. Apesar das importantes conquistas legais quanto à Educação Ambiental no Brasil, na prática, a sua implementação na Educação Básica tem enfrentado grandes dificuldades. Entre outros motivos está a ausência da utilização de mecanismos avaliativos que permitam avaliações diagnósticas e o planejamento estratégico para a Educação Ambiental mais prática e eficiente. Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi aplicar um modelo amplo de diagnóstico quanto aos valores, atitudes e comportamentos ambientais de estudantes do Ensino Médio analisando as diferenças entre sexo, nível de escolaridade e idade e correlações entre as variáveis ambientais. Foi aplicado um questionário com escalas de valores, atitudes e comportamentos ambientais para uma amostra de 138 estudantes do primeiro, segundo e terceiro do Ensino Médio de ambos os sexos. Foi encontrado uma maior concordância das respostas dos estudantes com os valores ecocêntricos, seguido dos valores antropocêntricos. Estudantes do sexo feminino foram mais concordantes com os valores antropocêntricos e estudantes do primeiro ano foram mais apáticos às questões ambientais quando comparados com os alunos do terceiro ano do Ensino Médio. Também foram encontradas correlações entre as respostas aos valores ecocêntricos e atitudes ambientais, valores ecocêntricos e comportamentos ambientais, valores antropocêntricos e apáticos atitudes e comportamentos ambientais. A aplicação das escalas forneceu informações relevantes que podem ser consideradas no planejamento de práticas de Educação Ambiental, indicando pontos da relação ambiental que podem ser prioritários.

Quando a Educação Ambiental enuncia a Ecologia Política: o que dizem os anais do Encontro Pesquisa em Educação Ambiental?

O presente trabalho tem como objetivo discutir como vem sendo pensada a pesquisa em Educação Ambiental no Brasil em sua relação com o campo da Ecologia Política. Para tanto, foi feito um levantamento de trabalhos que fazem referência, no título, no resumo e/ou nas palavras-chave, ao termo Ecologia Política nos anais dos Encontros Pesquisa em Educação Ambiental - EPEA, em suas dez edições. Os resultados retratam uma tendência, ainda que tímida, de crescimento do número de trabalhos que abordam a Educação Ambiental em diálogo com o campo da Ecologia Política, sendo que as temáticas Conflito Ambiental, Território e Participação Popular são as que embasam nos trabalhos lidos a relação de interesse a esse estudo no âmbito dos eixos pesquisados. A incipiência de trabalhos que correlacionam ambos os campos pode estar vinculada a uma fragilidade do plural campo da Educação Ambiental em relação a preocupações centrais à Ecologia Política.

Contextos educacionais e temas de estudos presentes em relatos de pesquisas em Educação Ambiental divulgados em periódicos nacionais

A partir da expansão do campo de pesquisa em Educação Ambiental (EA) no Brasil, este estudo tem como objetivo analisar as tendências de relatos de pesquisa publicados em periódicos nacionais em EA. Foram analisadas 49 edições publicadas em 2014-2018, selecionadas no portal de periódicos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), as quais possuíam o termo "Educação Ambiental" no título e / ou subtítulo, disponível on-line e, explicitamente, estavam vinculados a alguma universidade no país. Os descritores utilizados foram inspirados no Projeto Estadual de Arte da Pesquisa na Educação Ambiental (EArte). Os conjuntos de descritores foram relacionados aos periódicos (ano de iniciação, número de volumes publicados, instituições responsáveis ​​e indicadores de internacionalização da produção) e aos relatórios de pesquisa (ano de publicação, contexto educacional e objeto de estudo). O trabalho foi realizado a partir da leitura dos títulos, resumos e, quando necessário, do texto completo. Apesar das especificidades quanto à distribuição da produção em cada periódico, há um predomínio de estudos que investigam o contexto escolar (51,7%) Com relação ao tema de estudo, artigos que identificam e discutem concepções, representações, percepções sobre elementos ligados à temática ambiental, compõem a maior parte da amostra analisada (31%). Espera-se contribuir para a discussão sobre a produção acadêmica veiculada pelos periódicos, em específico sobre os enfoques da pesquisa em EA privilegiados pelo campo.

Breve Histórico da Educação Ambiental, sua Adoção no Ordenamento Jurídico Brasileiro e Possíveis Reflexos das Atuais Mudanças Políticas

Este trabalho apresenta uma retrospectiva da história ambiental, desde o surgimento da humanidade e de suas primeiras intervenções significativas na natureza, até seu posicionamento como força de igual magnitude às forças naturais, com possibilidade de inaugurar uma nova época geológica, denominada Antropoceno. Em sequência, são descritas as principais conferências internacionais de meio ambiente e seus efeitos sobre o sistema legal brasileiro. Efetua-se uma reflexão sobre o cenário político brasileiro, procurando desvendar como ou o quanto as recentes estruturações no Ministério do Meio Ambiente comprometem a educação ambiental e se vislumbrado retrocesso do tema, como e quantos anos de evolução e impregnação de um conceito foram comprometidos. Investiga se há correspondência entre o discurso internacional sobre a educação ambiental e o cenário pátrio, mediante sua inserção destacada na legislação e garantia orçamentária para a execução de seus programas e projetos.

Percepção ambiental de educadores do campo e suas influências no processo educacional em uma escola do município de Humaitá-AM

A percepção ambiental é uma atividade mental de interação do indivíduo como meio que pode ser definida como uma tomada de consciência do meio ambiente pelo ser humano. Dessa forma, esta pesquisa teve como objetivo analisar a percepção ambiental de educadores do campo e suas influências no processo educacional, na Comunidade Cristolândia em Humaitá-AM. A mesma foi desenvolvida através de uma pesquisa de campo com educadores da escola Municipal Antonieta Ataíde II da rede pública de ensino. Neste sentido, os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas, além da observação direta que se fez necessária para estabelecer sua relação com as questões ambientais e processos educacionais. Por meio das análises dos dados verificou-se que os educadores apresentam uma visão naturalista, ou seja, percebem o ambiente de forma natural, intocável com toda sua biodiversidade. Contudo, espera-se que os resultados alcançados com esta pesquisa contribuam de forma significativa para a mudança das ações de preservação e conservação do meio ambiente na Comunidade local, onde foram detectados alguns problemas ambientais como falta de saneamento básico e a falta de coleta de lixo. Sobretudo, proporcionando subsídios para que esta veja e sinta a necessidade de preservar o meio ambiente onde se vive e principalmente a importância da mudança de hábitos e atitudes para uma melhor qualidade de vida. Além disso, os resultados desse estudo poderão ser utilizados como embasamento para elaboração de um programa de educação para o desenvolvimento da Comunidade Cristolândia, a fim de propor estratégias conduzam a uma maior conscientização ambiental.

Análise do perfil de visitantes de parques zoológicos de Santa Catarina

Este trabalho buscou identificar a percepção dos visitantes de quatro parques zoológicos de Santa Catarina, no período compreendido entre 2000 e 2019, através da aplicação de 2.178 entrevistas semiestruturadas (questionários), da análise de 12.909 notícias através do uso da ferramenta google alerts e de observação participante. Considerando-se as razões da existência e os aspectos de zoológicos ideais, o motivo das visitas e os meios de informação adequados, observa-se um padrão relacionado à idade dos visitantes e as expectativas que cada grupo possui. É importante aprofundar as discussões e as críticas sobre zoológicos como espaço educador sustentável para apropriação e disseminação de conceitos científicos, com o desenvolvimento de práticas cotidianas incorporadas a rotina dos parques. Desta maneira, os zoológicos possuem grandes desafios para que ocorra a ampliação dessa percepção e dos esforços para que a conservação ex situ seja entendida e apoiada pela sociedade civil.

As ações educativas ambientais das Organizações Não-Governamentais ambientalistas no estado de São Paulo, Brasil

As ONGs ambientalistas têm desempenhado relevante papel nas ações em educação ambiental mundialmente. Devido à escassez de pesquisas abrangentes sobre sua identificação e atuação, este artigo traz um mapeamento das ONGs ambientalistas do estado de São Paulo que atuam com educação ambiental, além de analisar a qualidade dessas ações sob um referencial crítico. A consulta a quatro bases de dados encontrou 276 ONGs ambientalistas, sendo que 63,4% delas atuam com educação ambiental. Realizamos, também, entrevistas com membros das ONGs, o que nos permitiu analisar a qualidade das ações a partir dos objetivos apresentados pelas próprias organizações, classificando-as quanto a sua tendência político-pedagógica predominante. Os resultados evidenciam que as ações em educação ambiental, quantitativamente, abrangem parte significativa do território e população paulista, mas, qualitativamente, elas são limitadas e até questionáveis ao tomarmos um referencial teórico crítico em educação ambiental.

Um estudo sobre compreensões acerca de complexidade em teses e dissertações brasileiras de educação ambiental que se relacionam com a educação em ciências

Há um número expressivo e qualificado de trabalhos acadêmicos que tratam das complexidades relacionadas com temas ambientais a partir de discussões que envolvem as áreas da educação ambiental e da educação em ciências. Nesse contexto, investigamos, a partir de teses e dissertações da área da educação ambiental, compreensões sobre a ideia de complexidades relacionada aos discursos que envolvem educação ambiental e educação em ciências. Do ponto de vista metodológico, esse é um trabalho que se articula com pesquisas denominadas de estado da arte. Para a construção do corpus documental utilizamos o banco de teses e dissertações do EArte (Estado da Arte em Educação Ambiental). Selecionamos vinte teses e dissertações para compor o corpus documental dessa investigação. Para a análise desse material utilizamos o procedimento da Análise de Conteúdo. Construímos quatro categorias: “Pensamento Complexo”, “Sistemas Complexos”, “Complexificação” e “Complexidades e Práticas Pedagógicas”. Podemos apontar que a ideia de complexidade é frequentemente sustentada nesses trabalhos a partir das considerações de Enrique Leff, Edgar Morin e Ilya Prigogine. Todavia, as considerações teóricas de Morin predominam nesses trabalhos, indicando uma perspectiva de discutir a complexidade mais pela via da complexificação da realidade e do pensamento do que pela consideração da complexidade inerente aos fenômenos naturais e sociais.