Jornalismo engajado? A cobertura das greves pelo clima em veículos não hegemônicos do Brasil

Este artigo se propõe a analisar como as greves pelo clima foram cobertas por três meios jornalísticos brasileiros considerados não hegemônicos: Conexão Planeta, Envolverde e Colabora. O movimento global, desencadeado pela ativista Greta Thunberg em 2018, ganhou projeção no Brasil em 2019, mas foi impactado no ano seguinte em razão das restrições impostas pela pandemia de covid-19. A partir da Análise Crítica do Discurso, verifica-se como os veículos representaram a mobilização em prol do enfrentamento climático no pico da cobertura. Os resultados mostram que, apesar de um discurso engajado e a favor dos ativistas, a cobertura das greves pelo clima possui muitas semelhanças com aquilo que já foi identificado em meios jornalísticos hegemônicos no Brasil, predominando o enfoque internacional e o destaque para ativistas já conhecidos.

As relações de gênero no “Caso Daniel”: estereótipos e similares nos discursos jornalístico e jurídico

A partir do gênero como categoria de análise, o texto discute a relação de gênero nas matérias produzidas pelo portal G1, sobre o “Caso Daniel”, que foram veiculadas de novembro de 2018 a novembro de 2019 tendo como recorte a figura de Cristiana Brittes. A fundamentação teórica compreende os entendimentos de poder, discurso e verdade desenhados por Michel Foucault em diálogo com as teorias feministas. O artigo pretende elucidar como o discurso do jornalismo, em grande medida, vai ao encontro do discurso jurídico, ao promover a dessubjetivação e descaso da condição da mulher na cobertura do respectivo caso, fomentando estereótipos e violências simbólicas ao gênero feminino.

Da tela da TV para as redes sociais digitais: o transbordamento do Jornal da Record no TikTok

Diante do cenário de convergência e midiatização, telejornais reconfiguram o conteúdo exibido pela TV para as redes sociais digitais e plataformas. Com o objetivo de investigar este cenário contemporâneo dos telejornais e identificar novas práticas sociais no telejornalismo, esta pesquisa, tendo como objeto de estudo o Jornal da Record, busca responder como e por que o telejornal adotou o TikTok como parte da estratégia editorial. De acordo com o objeto empírico e o contexto do fenômeno analisado, este estudo exploratório se caracteriza como um estudo de caso. Com a análise foi possível identificar que a utilização do TikTok é uma estratégia de transmidiação para evitar a queda da audiência da TV aberta e para atrair o público jovem, que prefere as redes sociais digitais para obter informações.

Na contramão de uma conexão constante: uma revisão bibliográfica sobre o fenômeno de desconexão digital

Ainda que não seja uma realidade universal, o acesso à internet cresceu no Brasil nos últimos anos permitindo a dissolução de barreiras geográficas e o acesso à informação. Todavia, o desejo de diminuir o consumo de internet e das telas ainda compõe os anseios de alguns indivíduos. Encara-se esse estilo de vida como sendo marcado pelo fenômeno do detox digital, como é observado por alguns pesquisadores (SYVERTSEN et al., 2019). As motivações para uma vida menos conectada são distintas. Por isso, este artigo objetiva realizar um sobrevoo sobre o fenômeno e suas derivações, a fim de analisar como este vem sendo observado e/ou ignorado pelo cenário científico em diferentes campos do conhecimento. Ao longo desse panorama, percebe-se que algumas perspectivas se sobressaem nas produções científicas, tais como trabalho, produtividade, saúde, desigualdade e autenticidade.

A perspectiva da moralidade nos games de conteúdo violento

O presente artigo objetiva refletir sobre como a ética e a moral contemporâneas transparecem nos discursos sobre a violência atrelada aos games, sendo parte de uma pesquisa, em processo, que tem por tema a violência nos games sob a perspectiva dos efeitos de sentido no discurso dos jogadores. Foram resgatados alguns exemplos de games banidos por serem considerados ultrajantes, e de outros cuja violência é aceita e até desejável. Toma-se por base teórica Han Byung-Chul (2017) para a compreensão das transformações das manifestações da violência na atualidade. Também são referenciados Gilles Lipovetsky e Yves La Taille, que respaldam ponderações sobre o panorama da sociedade contemporânea. Para tratar do jogo enquanto motivador de um sentimento de tensão e alegria, baseia-se nas ideias de Johan Huizinga (1999).

Projetos em televisão e rádio: experiências em jornalismo audiovisual na Universidade de São Paulo

Este artigo tem por objetivo apresentar as experiências didáticas de duas disciplinas de audiovisual, CJE 0533 – Projetos em Televisão e CJE 0532 – Projetos em Rádio, oferecidas no Curso de Jornalismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). O programa dessas disciplinas visa a capacitar os alunos para executar todo o processo de produção de programas jornalísticos para televisão, rádio e plataformas digitais, com a possibilidade de realizar produtos autorais em diversos gêneros e formatos e a sua divulgação em canais da universidade, como a Rádio USP, e externos, como a TV Cultura, e em outros espaços digitais. Neste contexto, observa-se a importância da qualidade da produção universitária em jornalismo audiovisual, antes e durante a pandemia da Covid-19, por meio dos projetos de ensino Produção seriada jornalística audiovisual e Universidade 93,7.

A agonia da comunicação na era mediática: sobre vínculos, logros e o pornográfico

O presente artigo propõe uma reflexão acerca da noção de vínculo para a ciência da Comunicação. Argumenta-se que a construção desta noção é fundamental para uma mudança de paradigma nos estudos da comunicação, no sentido de abandonar uma abordagem tecnicista e abraçar outra, que leve em consideração os fluxos emocionais, afetivos e imaginários dos fenômenos comunicacionais. Por meio de revisão bibliográfica, busca-se articular os conceitos de vínculo, imaginário e, por fim, procura-se entender uma noção de logro, um hiperestímulo vinculativo, sobre os quais operam as mídias em seus usos pornográficos do imaginário.

O rosto da multidão e a sobrevivência das imagens da classe trabalhadora

As imagens históricas das grandes mobilizações de trabalhadores durante os governos de Getúlio Vargas estão presentes na contemporaneidade por meio do cinema, que atua como um grande arquivo imagético e sonoro para a produção de saberes sobre vivências políticas e sociais. Nesse sentido, analisamos imagens do filme Getúlio Vargas – glória e drama de um povo, dirigido por Alfredo Palácios e lançado em 1956. O longa-metragem caracteriza-se pela utilização de imagens de arquivo provenientes de cinejornais produzidos ao longo dos diferentes governos de Getúlio Vargas. Elencamos o rosto da multidão como procedimento de análise do filme, que mostra a emoção como prática política da classe trabalhadora reunida em grandes atos públicos. As imagens observadas em Getúlio Vargas – glória e drama de um povo sobrevivem ao agenciar inspirações de resistência política no presente.

Onde Tem Tiroteio: informação colaborativa e fluxo distributivo de imagens da violência urbana no Brasil

O presente artigo resulta da análise das postagens no aplicativo Onde Tem Tiroteio a fim de observar o funcionamento de um sistema colaborativo de alertas da violência urbana com a geração de um fluxo de distribuição de imagens de flagrantes de assaltos, tiroteios ou operações policiais por meio de circuitos não tradicionais de mídia. Nosso objetivo é discutir em que medida a utilização pelos telejornais das imagens testemunhais captadas por cidadãos comuns e publicadas na ferramenta suscitam conflitos em torno da autoridade jornalística na televisão. Nesse sentido, adotamos a observação direta como procedimento metodológico inspirado na etnografia virtual, coletando e analisando 339 postagens e 497 comentários no período de quatro semanas, entre 10 de junho e 10 de julho de 2020, além de analisar dos telejornais no mesmo período.

Literacia midiática e a falácia do acesso à informação: entrevista com Mirian Nogueira Tavares

Viver na Era da Informação é estar cercado por vários formatos convergidos que propõem maior interação dos usuários com a mídia. Todavia, ainda na Era da Informação é possível discutir sobre este limiar do acesso aos conteúdos, bem como sobre em qual grau a mídia convergida e as novas tecnologias impactaram o cinema como arte. Muito se discute sobre os vários formatos, convergência e interações da mídia e os indivíduos em uma sociedade. Historicamente, o cinema se apresentou como uma maneira única de contar histórias, mas também está relacionado em como nós, espectadores, aprendemos a ver/ler os conteúdos audiovisuais. Neste contexto, emerge estudos sobre a literacia midiática e, mais especificamente, o audiovisual. Professora na Universidade do Algarve (Portugal) e coordenadora do CIAC (Centro de Investigação em Artes e Comunicação), Dra. Mirian Nogueira Tavares, tem realizado diversas pesquisas no âmbito da literacia midiática, em especial ligadas ao cinema e a arte. Nesta entrevista, realizada em outubro de 2021, a pesquisadora discorre sobre a sua trajetória acadêmica, e também sobre o papel das Artes no campo do Ensino e da Investigação. Para Tavares, os estudos nesta área são fundamentais, já que influenciam pesquisas mais críticas e criativas. O resultado pode ser verificado nas pesquisas realizadas pelo CIAC em especial no âmbito da literacia midiática, trazendo reflexões sobre o papel da interatividade do usuário em jogos, conteúdos de streaming e, sobretudo, quanto à “falácia ao acesso à informação” na Sociedade da Informação.