A Blancanieves Andaluza de Pablo Berger: Tradução e Intermidialidade
Em 2012, Schneewittchen – ou Branca de Neve, como a conhecemos em português –, dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm (1812), ganha mais uma releitura. O filme Blancanieves, do diretor Pablo Berger, é inspirado no conto (mais especificamente, Märchen) recolhido da tradição oral pelos filólogos alemães. A proposta deste artigo é, partir de duas traduções para o português do Brasil, a saber, a de Tatiana Belinky (2013) e a de Christine Röhrig (2014), examinar as relações intermidiáticas entre as obras literária e cinematográfica à luz dos estudos de Irina Rajewsky (2012) e Claus Clüver (2011), principalmente, no que se refere à caracterização da personagem principal, Branca de Neve, de seus pais, do lugar e da época onde ocorre a ação tanto do conto quanto do filme. Na produção de Berger, personagens, espaço e tempo contidos na obra dos Grimm são evidentemente ressignificados a partir de elementos do flamenco e das touradas, associados à cultura tradicional cigana presente, por sua vez, na tradição popular do sul da Espanha. A presença desses elementos faz com que a obra dialogue com outras produções bastante conhecidas sobre tais temáticas e os estereótipos que se perpetuam em relação a elas tanto na Espanha quanto fora dela ao longo de séculos. Analiso como ocorre o processo de ressignificação e de que modo ela discute ou não conceitos e preconceitos sobre elementos populares e tradicionais muito associados ao que se costuma entender por ‘cultura espanhola’, principalmente a partir do apoio teórico de Rafael Jover (2007), Francisco Aix Gracia (2002) e Gerhard Steingresse (2002).