scholarly journals Natureza e sociedade: disputas em torno do cultivo da paisagem em Itambacuri

2009 ◽  
Vol 24 (71) ◽  
pp. 55-72
Author(s):  
Marta Amoroso

Este artigo focaliza as controvérsias que se seguem à fundação do aldeamento indígena de Itambacuri (1883-1893), Minas Gerais, em torno das formas de ocupação dos "terrenos ubérrimos", expressão que os missionários capuchinhos utilizavam ao se referirem ao território dos grupos Jê, habitantes da Mata Atlântica que margeava o rio Doce e o Mucuri. O acontecimento da criação do aldeamento indígena e os agenciamentos que dele decorreram, envolvendo grupos indígenas, imigrantes e migrantes nordestinos, oferecem oportunidade para um exercício de antropologia simétrica aplicado tanto ao tema das condições de produção do conhecimento da história natural, como ao debate que então se estabeleceu entre ciência e religião.

2019 ◽  
Vol 20 (2) ◽  
pp. 1-23
Author(s):  
Adriano Lima Silveira ◽  
Lucas Soares Vilas Boas Ribeiro ◽  
Tiago Teixeira Dornas ◽  
Taís Nogueira Fernandes

O anuro Scinax tripui permanecia pouco conhecido. A partir de amostragens em campo no Quadrilátero Ferrífero e análises de coleções científicas são apresentados um expressivo número de novos registros geográficos da espécie na Mata Atlântica do estado de Minas Gerais, observações de uso de habitat e variações morfológicas. Exemplares de S. tripui foram coletados em 40 localidades e em coleções foram levantadas mais 19 localidades. Observou-se que a espécie distribui-se pelas serras do Quadrilátero Ferrífero e porção norte da Serra da Mantiqueira, no centro-sudeste de Minas Gerais e sul do Espírito Santo, com ocorrência frequente nas matas do Quadrilátero. Constatou-se que S. tripui é restrito a córregos e riachos perenes em ambiente florestal, sendo associado a microhabitats mais íntegros, e exibe atividade reprodutiva ao longo do inverno e início da primavera (julho a setembro). A coloração em vida de S. tripui variou principalmente na região inguinal e partes anterior e posterior da coxa, que podem ser verde-claras, azul-claras, amarelo-claras ou brancas; e no padrão de coloração dorsal, que pode ser cinza, oliva, palha ou marrom-claro. Foram aferidas sete medidas morfométricas de adultos, sendo obtida expressiva variação do tamanho (comprimento rostro-cloacal). As variações de coloração, medidas e porte foram recorrentes ao longo do Quadrilátero Ferrífero, sendo constatado que S. tripui exibe expressiva variação intrapopulacional.


2010 ◽  
Vol 10 (3) ◽  
pp. 352-378 ◽  
Author(s):  
Henrique Caldeira Costa ◽  
Davi Lima Pantoja ◽  
José Lélis Pontes ◽  
Renato Neves Feio

Apresentamos aqui, com base em exemplares depositados em coleções científicas, uma lista das espécies de serpentes do Município de Viçosa, localizado em uma porção da Mata Atlântica do Estado de Minas Gerais, Sudeste do Brasil. Trinta e quatro espécies foram confirmadas em Viçosa. Outras duas possuem registros duvidosos e cinco espécies que foram registradas em municípios vizinhos poderiam também ocorrer em Viçosa. Informações sobre distribuição e história natural das serpentes são apresentadas, baseadas em dados da literatura científica e observações esporádicas na área de estudo. Podemos considerar que de maneira generalizada a fauna de serpentes de Viçosa é constituída por espécies com condições de utilizar ambientes antropizados, mas algumas são dependentes dos fragmentos florestais ainda existentes. Estudos de campo ainda são necessários para aprimorar o conhecimento sobre a riqueza de espécies de serpentes nos fragmentos florestais, para confirmar a presença das espécies com registros incertos e ocorrência potencial em Viçosa, e para investigar a possibilidade de declínio populacional daquelas espécies sem registros há mais de uma década.


Rodriguésia ◽  
2017 ◽  
Vol 68 (4) ◽  
pp. 1411-1429
Author(s):  
João Afonso Martins do Carmo ◽  
André Olmos Simões

Resumo Este estudo teve como objetivos realizar o levantamento florístico da família no município de Camanducaia, Serra da Mantiqueira, extremo sul de Minas Gerais, onde extensos remanescentes de Mata Atlântica são encontrados, e elaborar uma Chave Interativa de Entradas Múltiplas (CIEM) para a identificação das espécies. O levantamento florístico foi realizado através de viagens de coleta e análise dos seguintes herbários: BHCB, ESA, HRCB, IAC, ICN, MBM, SP e UEC. Rubiaceae está representada em Camanducaia por 35 espécies, duas subespécies e duas variedades, classificadas em 17 gêneros. Borreria, Manettia e Psychotria foram os gêneros mais diversos (cinco espécies cada). Nove espécies, uma subespécie e uma variedade são endêmicas da Mata Atlântica. Duas espécies (Galianthe vaginata e Psychotria beyrichiana) são endêmicas da Serra da Mantiqueira e Serra do Mar. Psychotria beyrichiana é registrada pela primeira vez em Minas Gerais. Através da utilização da CIEM aqui proposta, a maioria dos táxons puderam ser identificados utilizando-se somente caracteres vegetativos.


2011 ◽  
Vol 11 (3) ◽  
pp. 275-286 ◽  
Author(s):  
Marco Antônio Manhães ◽  
Alan Loures-Ribeiro

A Zona da Mata Mineira está localizada no sudeste do estado de Minas Gerais, nos domínios da Mata Atlântica, e é uma região altamente fragmentada, com muitas manchas pequenas e isoladas, cuja avifauna é pouco estudada. O objetivo deste trabalho foi inventariar a avifauna da Reserva Biológica Municipal Poço D'Anta (277 ha), uma área de floresta do município de Juiz de Fora, sudeste de Minas Gerais, através da caracterização de alguns aspectos ecológicos e o status de conservação. O levantamento foi realizado entre os períodos de março a setembro de 2007, e março de 2008 a maio de 2009, utilizando a lista de Mackinnon, capturas com redes-de-neblina e observações ocasionais. Foram identificadas 156 espécies, das quais 44 (28%) são endêmicas da Mata Atlântica e seis (3,8%) estão sob algum grau de ameaça. Dentre as espécies ameaçadas, cinco são dependentes de floresta (Dysithamnus stictothorax, Drymophila ochropyga, Sporophila frontalis, Sporophila falcirostris, Cyanoloxia moesta). Em geral a comunidade é caracterizada por aves com sensibilidade média ou baixa a perturbações ambientais. Contudo foram identificadas oito (5,1%) espécies com elevada sensibilidade (Pulsatrix koeniswaldiana, Conopophaga melanops, Sclerurus scansor, Xiphorhynchus fuscus, Lepidocolaptes squamatus, Campylorhamphus falcularius, Anabazenops fuscus e Habia rubica). Além disso, algumas espécies já consideradas extintas em vários outros fragmentos do sudeste do estado estiveram presentes na área. Houve predomínio de espécies insetívoras (39,4%; n = 61) e onívoras (31,6%; n = 49). Como área legalmente protegida e pela sua extensão, considerando as características regionais, a Reserva Biológica Municipal Poço D'Anta tem um papel importante em abrigar populações de aves que vem enfrentando persistentes efeitos antropogênicos na região. A avifauna local está sujeita a impactos tais como atropelamentos, invasões de espécies exóticas e a caça, embora já existam propostas de medidas mitigadoras no plano de manejo da área. Ressalta-se o caráter de urgência em relação à implantação destas medidas a fim de minimizar os impactos sofridos pela avifauna.


Author(s):  
Roberto Malheiros

RESUMO: Neste trabalho são revelados alguns acontecimentos de ordem evolutiva, que prestaram um importante papel na formação e delineamento do quadro atual da fauna e da flora dos cerrados, partindo do intercâmbio faunístico ocorrido entre as Américas do Sul e do Norte. Está demonstrada a configuração atual do cerrado dentro das paisagens brasileiras e a influência dos paleoclimas e paleoambientes no avanço e recuo da flora e da fauna dessa região. O bioma cerrado é um espaço territorial marcadamente planáltico em sua área “core”, e reconhecido como um dos mais ricos do mundo em biodiversidade, constituído por diversos ecossistemas, distribuído principalmente pelo planalto central brasileiro, abrangendo os Estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Distrito Federal, Mato Grosso, sul do Piauí, e Maranhão, oeste da Bahia, parte de São Paulo e Rondônia. Há outras áreas de cerrado, chamadas periféricas ou ecótonos, que são transições com os biomas Amazônicos, Mata Atlântica e Caatinga. A região também é marcada pelo aspecto hidrográfico, pois armazena água doce em importantes aquíferos e é responsável pela perenização de grande parte das bacias brasileiras. O entendimento sobre os aspectos ambientais do cerrado exige uma análise integrada entre os elementos da fauna, flora e o espaço geográfico, como eles se relacionam com os demais componentes da natureza, principalmente os aspectos climáticos, que estabelecem uma sazonalidade na região. Acredita-se que, a grande biodiversidade do cerrado, está vinculada a diversidade de ambientes. Esta correlação permite nos vislumbrar o ambiente na sua totalidade, o que facilita o estabelecimento adequado de políticas ambientais para o bioma do cerrado. Com o passar dos anos e por influência do clima, a vida na região encontrou formas de adaptação que garantiram a sobrevivência de diversas espécies, entre elas o homem. Este convívio entre os elementos da natureza e fatores climáticos contribuíram para o endemismo florístico, mas também para composição do quadro faunístico regional e brasileiro.


Nativa ◽  
2018 ◽  
Vol 6 (4) ◽  
pp. 370 ◽  
Author(s):  
Luís Flávio Pereira ◽  
Cecilia Fátima Carlos Ferreira ◽  
Ricardo Morato Fiúza Guimarães

Pastagens sob práticas de manejo ineficientes tornam-se degradadas, provocando sérios problemas socioambientais e econômicos. Assim, entender a dinâmica dos sistemas pastoris e suas interações com o meio físico torna-se essencial na busca de alternativas sustentáveis para a agropecuária. Estudou-se manejo, dinâmica anual e interações socioambientais em pastagens de uma bacia hidrográfica no bioma Mata Atlântica em Minas Gerais, Brasil, durante o ano hidrológico 2016/2017. Utilizou-se dados de campo, relatos de agricultores e sensoriamento remoto via imagens LANDSAT 8 OLI e Google Earth Pro®. Foi proposto um índice de qualidade para pastagens da região. As pastagens apresentaram, em média, qualidade moderada. Níveis de degradação foram altos, oscilando de forma quadrática (níveis 2, 4, 5 e IDP) e potencial (nível 1) com a precipitação (p < 0,01), o que sugere que a irrigação possa ser prática eficiente no controle da degradação. Durante o ano, pelo menos 51,27% das pastagens apresentaram algum sinal de degradação, atingindo-se a marca de 91,32%, no período seco. Os resultados sugerem pior qualidade e maiores níveis de degradação de pastagens em terras elevadas e declivosas. Devido às condições socioambientais locais, indica-se o uso de sistemas silvipastoris agroecológicos no manejo das pastagens.Palavras-chave: uso da terra, sensoriamento remoto, relação solo paisagem, Zona da Mata, índice de qualidade. MANAGEMENT, QUALITY AND DEGRADATION DYNAMICS OF PASTURES IN ATLANTIC FOREST BIOME, MINAS GERAIS – BRASIL ABSTRACT:Pastures under inefficient management practices get degraded, leading to serious socioeconomic and environmental issues. That being said, understanding the dynamics of such systems and their interaction with the environment is essential when it comes to looking towards sustainable alternatives for livestock activities. The management, annual dynamics and socio-environmental interactions in pastures in an hydrographic basin located in Atlantic Forest biome, Minas Gerais, Brasil, were studied during the hydrological year of 2016/2017. Field data and farmers reports were utilized, such as remote sensing via images from LANDSAT 8 OLI and Google Earth Pro®. A quality index was proposed for the pastures, which usually presented medium quality. Degradation levels were high, oscillating in a quadratic basis (levels 2, 4, 5 and IDP) and potential (level 1) with precipitation (p < 0,01), which suggests that irrigation might be an efficient practice when it comes to degradation control. During the year, at least 51,27% of pastures have presented signs of degradation, achieving 91,32% in dry periods. The results suggest less quality and bigger degradation levels in pastures located in high and steep areas. Considering the local environmental conditions, agroecological silvopasture systems are recommended regarding the pastures management.Keywords: land use, remote sensing, soil/landscape relationships, Zona da Mata, quality index.


2006 ◽  
Vol 23 (4) ◽  
pp. 1217-1230 ◽  
Author(s):  
Christiana M. A. Faria ◽  
Marcos Rodrigues ◽  
Frederico Q. do Amaral ◽  
Érica Módena ◽  
Alexandre M. Fernandes

Foi conduzido um levantamento de espécies de aves em um fragmento florestal no alto Rio Doce de abril de 2002 a novembro de 2004. A região está inserida numa das áreas prioritárias para conservação da biodiversidade do Brasil, a Mata Atlântica. O fragmento está dentro da 'Estação de Pesquisa e Desenvolvimento Ambiental de Peti' (EPDA-Peti) e cerca uma represa de uma usina hidroelétrica das 'Companhia Energética de Minas Gerais'. O fragmento possui 605 ha de mata secundária semidecídua em vários estágios de regeneração. O método utilizado foi o de observação direta ao longo de 'transectos', captura com redes, pontos de escuta e identificação a partir do uso de vocalizações. Foram registradas 231 espécies de aves pertencentes a 57 famílias. Isso corresponde cerca de 33% das 682 espécies já registradas para o bioma da Mata Atlântica. Constam nesta lista 33 espécies endêmicas da Mata Atlântica e uma endêmica do Cerrado. Cinco espécies são ameaçadas em Minas Gerais e uma espécie ameaçada de extinção global, o mutum do sudeste Crax blumenbachii Spix, 1825 (Cracidae). Foram encontradas 35 novas espécies em relação ao levantamento de 1989, bem como a extinção local de outras 52 espécies. O fragmento florestal da EPDA-Peti abriga uma porção significativa da avifauna da Mata Atlântica, e monitoramento de longo prazo irá revelar aspectos importantes para compreensão dos mecanismos de extinção e colonização na Mata Atlântica.


2020 ◽  
Vol 30 (4) ◽  
pp. 1008-1018
Author(s):  
Geraldo Majela Moraes Salvio ◽  
Carlos Frederico Baumgratz Figueiroa

Atualmente a Mata Atlântica é um dos biomas mais fragmentados. O objetivo deste estudo foi diagnosticar a fragilidade ambiental da Área de Proteção Ambiental (APA) Alto Rio Doce em Minas Gerais, por meio da caracterização da distribuição da fragmentação local, bem como da pressão sobre a vegetação. A caracterização da vegetação foi feita por classificação supervisionada, por meio da imagem captada pelo sensor OLI presente no Landsat 8. Apenas 22,3% de toda a extensão da APA, que contém 23.329 hectares, apresenta vegetação, sendo composta por muitos pequenos fragmentos. Além disso, a APA é cortada por estradas, sendo uma delas pavimentada e estadual, o que agrava a situação da fragmentação dos habitats, causando danos tanto a espécies animais quanto vegetais. Concluiu-se que para atingir seus objetivos é preciso a elaboração de um plano de manejo para a área, além de alternativas que permitam a popularização da APA tornando-a mais conhecida pela população local.


2015 ◽  
Vol 39 (2) ◽  
pp. 365-374 ◽  
Author(s):  
Arthur Tavares de Oliveira Melo ◽  
Alexandre Siqueira Guedes Coelho ◽  
Marlei Ferreira Pereira ◽  
Angel José Vieira Blanco ◽  
Edivani Villaron Franceschinelli

A Mata Atlântica é o bioma brasileiro mais severamente afetado pela fragmentação ambiental. A análise da estruturação da diversidade genética, assim como de características demográficas e quantitativas, permite inferir parâmetros populacionais importantes para os programas de conservação de espécies ameaçadas. Cabralea canjerana ssp. canjerana (Meliaceae) é uma espécie arbórea dioica considerada modelo para estudos de conservação da Mata Atlântica. Cento e oitenta e três indivíduos de oito subpopulações de C. canjerana foram coletados em fragmentos florestais na Área de Proteção Ambiental (APA) Fernão Dias, no Sul do Estado de Minas Gerais, Brasil. Utilizando marcadores microssatélites, a diversidade genética foi estimada e contrastada com medidas quantitativas e medidas geográficas dessas oito subpopulações. Elevados níveis de diversidade genética foram encontrados. Uma porção pequena, porém significativa, da variância genética total está estruturada entre as populações (θ = 0,053), que foram estruturadas em dois grupos distintos. As estimativas dos níveis de diversidade genética nas populações localizadas acima de 1.800 m de altitude foram maiores, corroborando a importância dessas populações na manutenção da diversidade genética. A densidade populacional observada também foi maior nos fragmentos de maior altitude (r = 0,849; p-valor = 0,007). Não houve correlação significativa entre as variáveis fenotípicas (altura dos indivíduos e diâmetro a 1,50 m acima do solo) e as medidas de diversidade genética. Esforços conservacionistas para que aumentem o fluxo gênico entre esses fragmentos florestais devem ser estimulados, principalmente entre os fragmentos de baixa altitude e os fragmentos de elevada altitude. É comprovado que populações situadas em elevadas altitudes possuem maior número de indivíduos por hectare e, portanto, maiores índices de diversidade genética. Essas áreas podem ser tratadas como repositório de diversidade genética, e sua manutenção é de extrema importância. O Código Florestal brasileiro determina que essas áreas acima de 1.800 m de altitudes sejam consideradas Áreas de Proteção Permanente (APP).


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