A fluidez do bem e do mal: a família tradicional carioca em A vida invisível de Eurídice Gusmão
Este artigo tem como objetivo analisar o texto literário A Vida Invisível de Eurídice Gusmão, escrito por Martha Batalha em 2016, sob algumas das formações discursivas da classe burguesa que definem o que seriam comportamentos adequados e bons para a atuação da mulher na sociedade. Comportamentos desviantes da norma seriam vistos como reprováveis, suspeitos, e ameaçadores à ordem social e podem ser analisados através das personagens Guida, Maria Rita e Filomena em oposição ao personagem de Eurídice, que tenta frequentemente encaixar-se no padrão. O romance oferece o panorama histórico da década de 40 no Rio de Janeiro; período essencial de transição política e trabalhista na história do Brasil. Para sua análise, foram utilizados outros livros e artigos teóricos como os trabalhos de Foucault, acerca da punição, e de José Luís Fiorin, acerca dos discursos e ideologias, para que se entendesse como o ser humano processa a influência dos discursos hegemônicos e de que forma eles se espelham na vida das pessoas que não pertencem à classe dominante, refletindo seus avessos. Como resultado, é possível perceber as linhas tênues entre o bem e o mal nos valores e comportamentos rejeitados da relação entre o desejo da classe dominante para que se perpetue o modelo econômico vigente, e as diversas estratégias utilizadas para a dominação do sexo feminino, que tem sua culminância nas violências física e psicológica.