Sem fim...finalidades da arte

Nossa relação crítica, inicial, com a instalação nos ensina como a alegoria funciona ainda como vetor contemporâneo da significação. Consciente da sobrevivência das categorias tradicionais, intentamos entender o jogo metamórfico das permanências, apostando na força que a arte sempre teve de cruzar o passado e o presente. Contra o dogma que faz do novo o motor da arte, afirmamos que suas finalidades rompem raramente com motivações originárias já presentes, por exemplo, na teoria antiga da arte: “fins” diversos e transtemporais como a manifestação de uma ideia, o devir-vivo da imagem, a glorificação do artista, até o desejo de seu próprio “fim”! Ao mesmo tempo histórico e teórico, o jogo com o “fim” é uma dialética paradoxal de morte e transfiguração. Esses conceitos desafiadores funcionam como tensores produtivos: Alberti, Vasari, De Chirico, Maliévitch, Kosuth, Meireles, Kaprow, Vik Muniz, são algumas das referências que ritmaram trinta anos de pesquisa.

The Metaphysical Paintings of Giorgio de Chirico and the Latency of Synesthesia

My analysis will address the following questions: What is the role of time and silence in the melancholy scenes of de Chirico’s early “metaphysical period” (1911–1918) and his articles prior to the year 1920, and how can the question of time be seen as a participant or catalyst in the phenomenon of synesthesia in de Chirico’s early works? How is it that, involuntarily, we find ourselves at the brink of synesthesia when describing de Chirico’s “enigmatic” paintings? It is symptomatic of the case that there is no description of de Chirico’s early works without reference to silence. With a conjuring trick he makes time the fifth sense. Slow time and high silence unite in his scenes, the beholder’s eye moves in the petrified, naked world, where the projective process of synethesia abounds.

Il viaggio fantastico di de Chirico, Savinio, Landolfi

The intervention addresses three metaphysical and fantastical exemplary works from the twentieth century - Ebdòmero, La partenza dell’Argonauta, Il Mar delle Blatte – in which the theme of travel finds expression through different textual models. In the first case, De Chirico uses the archetypical model of Ulysses’ journey against a background of fantastic metaphysical imagery. In the second Savinio creates a parodistic rewriting of the Argonautiche by Apollonio Rodio – the mythical trip par excellence, while in the third (Il mar delle blatte) Landolfi recalls the characters of Salgari’s adventure novels. All three texts represent imaginary travels towards an unreachable elsewhere, symbolically represented by a paradisiacal Island, lost and dreamt of also by the sailor Pessoa.

RELAÇÕES INTERARTES NO MODERNISMO BRASILEIRO:

Muitas e de modo vário são as relações interartes na literatura brasileira. Este artigo privilegiará as interfaces da literatura com a música e com a pintura, no contexto do Modernismo Brasileiro. Abordando às conexões entre literatura e pintura, queremos nos ater ao duplo caminho que a obra de Murilo Mendes nos proporciona. Primeiramente, como colecionador e crítico de arte que foi, destacaremos o poema “Il figliol prodigo”. Publicado em italiano no livro Ipotesi, foi escrito a partir da leitura do poeta sobre o quadro de título homônimo do artista plástico Giorgio De Chirico, com quem o poeta mineiro teve contato durante seu exílio voluntário na Europa. Em seguida, queremos analisar a leitura do artista plástico Ramón Brandão sobre a sua obra do poeta mineiro. A originalidade dessa segunda parte da análise se deve ao fato de que não irá se tratar de um sistema sígnico verbal lendo outro não verbal (como costumeiramente acontece), mas do sistema visual interpretando o sistema verbal. Voltando-nos, em um segundo momento, para as relações entre literatura e música, ater-nos-emos (1) à análise do “Trenzinho do caipira” (composição que integra as Bachianas Brasileiras número 2, composta por Villa-Lobos em 1930 e que, em 1975, recebeu letra de Ferreira Gullar, retirada de um trecho de seu “Poema Sujo”); e (2) às interferências da formação musical de Mário de Andrade no seu livro de poemas Paulicéia Desvariada.

Cabiria, opera d'arte autonoma

Cabiria is ‘an autonomous work of art’, between aesthetical and stylistic peculiarities. In order to legitimately recognise these specificities, we should not exalt the high level of the technical cleverness mixed with ‘tricks’ or mechanisms of technological artificiality. On the contrary, we should – first and foremost – be aware of the identity of the movie, expression of the figurative art which combines painting, sculpture, architecture, theatre and cinematograph, constitutive nucleus of a poetics of the marvellous, created by d’Annunzio’s fervid fantasy and by the director Pastrone, invention – though in a real historical context – precise as regards the chronological limits, of forms, visible signs, allegories and symbols of the Jungian ‘collective subconscious’. Visions of a tangible reality, concrete, recovered by the truth, but raised to the realm of dream, in the oneiric atmosphere of the unreal, conquer the human sensibility. It is like the idea by de Chirico, who thinks the picture as a mental theatre, stage and ideal container of a moving drama that conveys the familiarity of the represented environment with figurative clarity. Thus, the work of the master-director-demiurge becomes an organic solution of all the arts between innovation and modernity.