Neste artigo estudaremos as relações entre religião e socialismo soviético com o objetivo de identificar as características e origens da posição ateísta, em vez de laica, adotada pela URSS. Tal escolha do ateísmo como posição confessional do socialismo soviético promoveu a desqualificação moral e exclusão profissional dos revolucionários crentes no âmbito das políticas públicas locais e exportou tal política de exclusão para os países sob a área de influência política da URSS. Sustentaremos na presente pesquisa que tal posição adotada pelo socialismo soviético é de origem exógena ao marxismo. Mesmo sendo Karl Marx ateu, o materialismo do marxismo é materialismo sociológico, focado na análise das relações materiais de produção, não sendo, portanto, materialismo confessional.Em pesquisa anterior, de nossa autoria (BENTO, 2016), verificamos que Moscou promoveu tomadas de posição que vinculavam o marxismo ao ateísmo nas suas relações com a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), na Nicarágua, e nas suas relações com Cuba, para citar dois exemplos. Em tal contexto investigativo emergiu a dúvida acadêmica que motivou a realização da presente pesquisa: qual a origem da orientação pró-ateísmo adotada pelo socialismo soviético? A pergunta é a nosso aviso relevante porque as interpretações produzidas pelo socialismo soviético operaram por décadas como referência paradigmática, deixando rastros hermenêuticos, certos ou equivocados, no âmbito de movimentos políticos e intelectuais socialistas que estiveram sob sua área internacional de influência.