scholarly journals Vive la France

2019 ◽  
Vol 1 (2) ◽  
pp. 190
Author(s):  
Thais Morais Salomão

As primeiras décadas do século XX, no Brasil, foram marcadas por uma grande aceitação das elites às influências culturais provenientes das capitais europeias. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro passaram por um extenso processo de reforma urbana, assim como o barão Georges-Eugène Haussmann havia promovido em Paris. Na cena social destas capitais, surgiram os chamados salões, ambientes frequentados por intelectuais, poetas, artistas e pela alta sociedade, nos mesmos moldes adotados pela burguesia parisiense. Nestes ambientes realizavam-se serões literários, palestras e exposições e eram servidos banquetes com pratos de nomes franceses, que seguiam as regras de boas maneiras e etiqueta nascidas nas sociedades de corte da França. O presente estudo busca apresentar o processo de urbanização da cidade de São Paulo e o cenário social e cultural da elite daquele período e também compreender de que forma aquele grupo via a necessidade de se distanciar do estilo de vida provinciano e romper com os costumes da sociedade imperial para considerar-se civilizado. O grande esforço da elite brasileira para se afastar de seu passado colonial e se aproximar dos padrões franceses pode ser, de certo modo, elucidado pelo raciocínio de Stuart Hall de que a identidade é algo sempre em processo, em constante modificação. Assim, na contramão do que havia sido visto durante o Romantismo, período em que nossos autores expressavam forte nacionalismo e certa ânsia de criar um estilo autêntico que valorizasse as tradições do país, nos primeiros anos do século XX prevalece a vitória do cosmopolitismo francês e adotam-se o mobiliário, as roupas e o modo de vida parisienses. Nos encontros da alta sociedade paulistana nos salões do senador José de Freitas Valle, os convivas falavam francês sobre poesia, literatura e artes, o que, conforme Norbert Elias, demonstra o anseio de usar da língua como forma de definir o seu caráter nacional. Ademais, naqueles ambientes predominavam a etiqueta e o refinamento à mesa franceses que, segundo Pierre Bourdieu, são instrumentos de diferenciação social e evidenciam que a cultura que une é também a cultura que separa. A partir do trabalho dos autores mencionados e também dos arquivos de periódicos em circulação desde aquela época, como O Estado de S. Paulo, A Cigarra e A Lua, esta pesquisa analisará os fatores que são relevantes na formação de uma identidade nacional e como o “desejo de ser brasileiro”, que imperou no Brasil durante o período do Romantismo, afastou-se de qualquer elemento da cultura popular e transformou-se em “desejo de ser estrangeiro”.

Author(s):  
Maria Aparecida Luciano ◽  
Maria José Souza Barbosa ◽  
Walery Costa Reis ◽  
Farid Eid ◽  
Samuel Carvalho de Aragão

Resumo: O artigo apresenta uma discussão sobre o processo de construção da política municipal de cultura no município de Paragominas, estado do Pará, como estratégia de inclusão social de diferentes identidades. Trata-se de um debate necessário à reflexão sobre a implementação de ações de política pública que tem por princípio a participação democrática sob relação dialógica entre poder público e sociedade civil. Para se delinear esse debate percebeu-se a importância da escuta dos atores sociais: dança, audiovisual, multimídia, música, cultura popular, teatro, patrimônio material e imaterial, literatura, mídias contemporâneas, design, arte digital, artes visuais, arquitetura, respeitando-se a identidade cultural desses diversos atores, a fim de se valorizar a multiplicidade de manifestações que abrangem o patrimônio cultural existente no município. Objetivou-se com este artigo mostrar as diferentes dimensões da cultura enquanto reflexos da sociedade, sua dinâmica na construção das identidades dos diferentes grupos que constroem a sociedade paragominense em suas especificidades. Apoiou-se no debate teórico referenciado em Stuart Hall e Nestor Garcia Canclini, os quais possibilitaram a ampliação do conceito de cultura ao abordarem diferentes dimensões da vida social de um povo. Conclui-se com a perspectiva de abertura para uma concepção democrática da política cultural, enquanto necessária ao desenvolvimento socioeconômico e cultural. Palavras-chave: Política Pública. Cultura. Desenvolvimento Municipal.


2012 ◽  
Vol 4 (1) ◽  
Author(s):  
Thiago Antônio Oliveira Sá

Este texto é resultado de pesquisas bibliográficas cujo objetivo é, à luz do argumento bourdiano, apontar a atuação do professor enquanto agente envolvido nesta instituição reprodutora de disparidades sociais que é a escola, destacando o seu desempenho na sala de aula e suas implicações na imposição de uma cultura legítima em detrimento da cultura popular originária de alguns estudantes, cujas consequências são a futura segregação deles em termos de sucesso escolar. Em seus estudos sobre as funções do sistema de ensino numa sociedade estratificada, o sociólogo francês Pierre Bourdieu demonstra que, embora a escola seja reconhecida ideologicamente como instância promotora de oportunidades de ascensão, ela acentua as desigualdades sociais. A escola resulta um mecanismo de reprodução social, pois inculca e exige dos discentes uma massa de saberes, competências e destrezas que, em função das diferentes posições de classe ocupadas pelos alunos, é mais familiar a uns do que a outros. A escola, a serviço da difusão e da certificação da cultura legítima, privilegia aqueles já previamente capacitados para este tipo de conhecimentos. Na realidade escolar cotidiana, os assuntos, a presença, os modos de ser, de se portar, os gostos, as preferências artísticas e os saberes priorizados podem, para alguns alunos, ser continuidade do cotidiano intelectual e cultural fora da escola, mas, também, pode ser contraste e conflito entre duas formas de cultura, entre dois mundos simbólicos: o distinto e o ordinário, o culto e o popularesco, o digno e o desprezível, o distintamente intelectual e a ignorância.Palavras-chave: Escola. Reprodução social. Desigualdades sociais. Professor.


2013 ◽  
pp. 209-225
Author(s):  
Simone Silveira Amorim ◽  
Cristiano Ferronato
Keyword(s):  

Este artigo tem como objetivo compreender como se dava a preparação dos professores de primeiras letras na província de Sergipe entre os anos de 1827 e 1879, especialmente após a criação e implantação do Atheneu Sergipense e do Curso Normal, a partir de 1870. Os marcos temporais demarcados fazem referência à Lei de 15 de outubro de 1827, extinção da escola normal e incorporação dela ao Atheneu Sergipense. Faz-se, então, necessário que os estudos sobre a configuração da profissão docente considerem a lei como fonte. As categorias analíticas de Pierre Bourdieu (1996) e Norbert Elias (1990, 2001) ajudaram a compreender como se configurou a profissão docente no âmbito do ensino primário e de que forma se constituiu o habitus profissional pensado para o projeto de constituição de nação para o Brasil, dentro de um processo civilizador. É possível afirmar que a profissão docente se configurou em meio a avanços e retrocessos, permeados por tentativas de organização do ensino primário através da legislação. A criação da Escola Normal surgiu como uma ação que traria padronização aos saberes a serem ensinados, pois, à medida em que a importância de se configurar a profissão tornou-se crescente e premente, houve a necessidade de deixar a formação pela prática e implementar a formação institucionalizada na Escola Normal.


2021 ◽  
Vol 10 (16) ◽  
pp. e540101624019
Author(s):  
Carlos Eduardo Rafael de Andrade Ferrari ◽  
Rafael Mocarzel ◽  
Amândio Braga dos Santos Graça ◽  
Roberto Ferreira dos Santos

Introdução: O artigo objetiva analisar o lugar da Educação Física a partir da realidade da Escola Municipal GEO Juan Antonio Samaranch. O estudo sumariza o cenário escolar vigente, nomeadamente a valia da Instituição Escola no contexto fluminense, como panorama de uma reflexão mais abrangente. Método: A investigação caracteriza-se por uma pesquisa qualitativa de cunho sociocultural. O estudo ocorreu no período compreendido entre os meses de fevereiro e novembro de 2018. A pesquisa utilizou a técnica de Triangulação das informações e a Abordagem multimétodos. A matriz analítica da investigação compõe as lentes teóricas dos sociólogos Norbert Elias e Pierre Bourdieu, conjuntamente com a interpretação indutiva que aflora da Análise Crítica do Discurso. Resultados e discussão: Nesse enquadramento, observa-se que o capital simbólico do Esporte, da Educação Física, antes compreendido como diferenciação social positiva, perdeu espaço na agenda dos homens públicos brasileiros com o término dos megaeventos esportivos. Nesta esteira de pensamento, há fortes indícios que sugestionam que a unidade escolar em voga é apenas o apêndice desse eixo de tensões; o reflexo microssocial do “Negado” dos megaeventos esportivos. Considerações finais: Nessa disposição, identifica-se que a unidade averiguada é uma escola que procura blindar suas práticas enquanto enjeita a anticultura e as forças motrizes que hodiernamente desestabilizam a formação integral dos alunos, principalmente daqueles cuja escola é o único espaço de aprendizagem pedagogicamente orientada. No entanto, o GEO Juan Antonio Samaranch ainda é uma exceção; não retrata o cenário caótico da maioria das escolas municipais do Rio de Janeiro.


2020 ◽  
Vol 7 (13) ◽  
pp. 124
Author(s):  
Kleyson Bruno Chaves Barbosa
Keyword(s):  

O que era ser nobre nas conquistas portuguesas da América? Existiam aqueles que de fato eram nobres titulados pelo rei e, aqueles que se portavam e se entendiam enquanto nobres, forjando-se como uma nobreza da terra. Estudos sobre Olinda, Rio de Janeiro e São Luís do Maranhão demonstram a vinculação entre a ocupação de cargos camarários, obtenção demercês e postos militares, bem como um discurso de antiguidade, tradição e esforço “à custa de vida, sangue e fazenda” para a composição das chamadas nobrezas da terra. Neste artigo, buscou-se compreender, a partir do contexto político e social da capitania do Rio Grande, sobre como um poder local desta espacialidade também se assemelhava em seumodo de agir observado para outras governanças locais. Dessa forma, questiona-se sobre o que era ser nobre ou as possibilidades de viver ao modo nobre na capitania do Rio Grande, assim como se analisa a formação de uma “conhecida nobreza da terra”, radicada nos postos camarários e de ordenanças e gestada durante os conflitos da Guerra dos Bárbaros, entre a segunda metade do século XVII e a primeira metade do século XVIII. Para isso, realizou-se um trabalho de análise bibliográfica, aliado ao método prosopográfico, a partir da documentação produzida pela Câmara de Natal, como os termos de vereações e os livros de registros de cartas e provisões, bem como as fontes paroquiais, a fim de se entender quem eram essas pessoas, famílias, e a chamada nobreza da terra.


Author(s):  
Rodolfo Noronha
Keyword(s):  

As reflexões trazidas pelos estudos de Bryant Garth e Mauro Cappelletti (GARTH, CAPPELLETTI: 2002) trouxeram profundas mudanças na produção de políticas estatais de prestação jurisdicional pobres no mundo inteiro. A partir das reformas e instituições levantadas pelo “Projeto Florença” puderam nos proporcionar uma profunda visão dos dilemas e desafios de se perseguir um sistema que seja igualmente acessível a todas e também produza resultados que sejam individual e socialmente justos (GARTH, CAPPELLETTI 2002:8). Os autores identificam três ondas, necessidades traduzidas em ações que visam perseguir o acesso à justiça como requisito fundamental-o elemento mais básico dos direitos humanos (Opus cit., 12). São elas: a assistência judiciária universal - para todos, pobres inclusive; a capacidade de proporcionar a defesa e promoção de interesses difusos; e, finalmente, um novo enfoque de acesso à justiça, que permita uma concepção mais ampla da questão. Essa leitura foi ampliada por Kim Economides (1999), que por sua vez desenvolve as linhas até então traçadas e acrescenta ainda a emergência de se perquirir por mais uma nova onda: o acesso à informação jurídica e o papel desempenhado pelas chamadas novas profissões jurídicas.


GEOgraphia ◽  
2016 ◽  
Vol 18 (36) ◽  
pp. 26
Author(s):  
Iná Elias De Castro

A análise aqui proposta tem como ponto de partida conceitual o fato de que a ocupação do espaço é por definição conflituosa, tendo em vista os interesses diferenciados daqueles que dele se apropriam. Este texto resulta da pesquisa sobre o problema da política de patrimonialização e discute as nuanças do debate sobre o conflito de interesses no espaço urbano do Rio de Janeiro, a partir dos problemas e das ações da política municipal de preservação do patrimônio cultural na cidade. A questão levantada foi como em um espaço urbano historicamente projetado pelos interesses do capital imobiliário e da propriedade privada houve a possibilidade de se realizar uma intervenção que contrariou em grande medida tais interesses. O objeto de análise é a Área de Proteção do Ambiente Cultural (APAC) do bairro do Leblon, pelo caráter paradigmático das questões envolvidas no projeto da Prefeitura.


2011 ◽  
Vol 16 (12) ◽  
pp. 4635-4642 ◽  
Author(s):  
Maria Tavares Cavalcanti ◽  
Maria Cecília de Araújo Carvalho ◽  
Elie Valência ◽  
Catarina Magalhães Dahl ◽  
Flávia Mitkiewicz de Souza

A Reforma Psiquiátrica Brasileira propõe um modelo de atenção baseado na implantação de uma rede comunitária no qual os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) detêm papel fundamental. Neste artigo são apresentados os resultados do estudo piloto que visou adaptar para o contexto brasileiro a "Critical Time Intervention" (CTI) e testar sua viabilidade com pessoas com transtornos do espetro esquizofrênico em tratamento nos CAPS do município do Rio de Janeiro. O desenho da pesquisa incluiu três fases inter-relacionadas. A primeira consistiu em trabalho de campo qualitativo e quantitativo. Esta fase incluiu o mapeamento das características sociodemográficas, clínicas e de utilização de serviços dos usuários dos CAPS, bem como conhecer as necessidades concretas dos participantes do estudo. A segunda fase consistiu na tradução do manual clinico da CTI para incluir as adaptações feitas para o seu uso no Brasil, oriundas dos dados coletados na primeira fase, bem como o treinamento de profissionais de nível médio para atuarem como agenciadores da CTI. A terceira fase consistiu na implementação da intervenção adaptada em um grupo de pacientes com transtornos do espectro esquizofrênicos matriculados nos CAPS, mas com dificuldade de se inserir no tratamento.


2006 ◽  
Vol 6 (1) ◽  
pp. 127-134 ◽  
Author(s):  
Roseane M. S. Barbosa ◽  
Carolina G. do N. Carvalho ◽  
Viviane C. Franco ◽  
Rosana Salles-Costa ◽  
Eliane A. Soares
Keyword(s):  

OBJETIVOS: comparar o consumo alimentar de pré-escolares, pertencentes a uma creche filantrópica, em dois períodos (no ato da matrícula e após seis meses), com base na proposta da Pirâmide Alimentar Infantil Norte-Americana e através do Índice de Alimentação Saudável (IAS). MÉTODOS: relativamente à avaliação dietética, foi utilizada a história alimentar da criança com o responsável, no ato da matrícula; após seis meses de frequência da criança, utilizou-se o método de pesagem de alimentos (na creche) e registro alimentar (na residência). Posteriormente, compararam-se as médias das porções consumidas nos dois períodos, de cada grupo alimentar, utilizando o teste "t" Student, a fim de se verificar a diferença estatística entre os grupos. Considerou-se o nível de significância de 5%. Igualmente, avaliou-se o IAS, nos dois períodos. RESULTADOS: observou-se uma diferença significativa (p<0,05) entre a média das porções de frutas e vegetais, com base na Pirâmide Alimentar Americana, e um escore satisfatório do Índice de Alimentação Saudável, após seis meses de frequência da criança na creche. CONCLUSÕES: a freqüência à creche parece trazer benefícios para a nutrição de crianças pertencentes à estratos socioeconômicos menos favorecidos.


2009 ◽  
Vol 9 (4) ◽  
pp. 101-108 ◽  
Author(s):  
Marcelo Borges Rocha ◽  
Vasily Radashevsky ◽  
Paulo Cesar Paiva
Keyword(s):  

Entre os poliquetas, os Spionidae são um dos táxons mais abundantes e diversos. O gênero Scolelepis é um dos mais abundantes em águas rasas, cujos representantes apresentam uma ampla distribuição geográfica. Embora tenham sido referidas sete espécies para a costa brasileira, há uma discussão quanto à correta identificação e a possibilidade de se tratar de um complexo específico. O objetivo deste trabalho foi efetuar o levantamento das espécies do gênero Scolelepis encontradas em praias do estado do Rio de Janeiro, Brasil. Foram encontradas e caracterizadas duas espécies: S. chilensis, muito abundante e ocorrendo em diversas praias e S. goodbodyi com uma distribuição mais restrita.


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