scholarly journals O PROFESSOR E A REPRODUÇÃO DE DESIGUALDADES SOCIAIS: UMA LEITURA DE PIERRE BOURDIEU.

2012 ◽  
Vol 4 (1) ◽  
Author(s):  
Thiago Antônio Oliveira Sá

Este texto é resultado de pesquisas bibliográficas cujo objetivo é, à luz do argumento bourdiano, apontar a atuação do professor enquanto agente envolvido nesta instituição reprodutora de disparidades sociais que é a escola, destacando o seu desempenho na sala de aula e suas implicações na imposição de uma cultura legítima em detrimento da cultura popular originária de alguns estudantes, cujas consequências são a futura segregação deles em termos de sucesso escolar. Em seus estudos sobre as funções do sistema de ensino numa sociedade estratificada, o sociólogo francês Pierre Bourdieu demonstra que, embora a escola seja reconhecida ideologicamente como instância promotora de oportunidades de ascensão, ela acentua as desigualdades sociais. A escola resulta um mecanismo de reprodução social, pois inculca e exige dos discentes uma massa de saberes, competências e destrezas que, em função das diferentes posições de classe ocupadas pelos alunos, é mais familiar a uns do que a outros. A escola, a serviço da difusão e da certificação da cultura legítima, privilegia aqueles já previamente capacitados para este tipo de conhecimentos. Na realidade escolar cotidiana, os assuntos, a presença, os modos de ser, de se portar, os gostos, as preferências artísticas e os saberes priorizados podem, para alguns alunos, ser continuidade do cotidiano intelectual e cultural fora da escola, mas, também, pode ser contraste e conflito entre duas formas de cultura, entre dois mundos simbólicos: o distinto e o ordinário, o culto e o popularesco, o digno e o desprezível, o distintamente intelectual e a ignorância.Palavras-chave: Escola. Reprodução social. Desigualdades sociais. Professor.

2019 ◽  
Vol 1 (2) ◽  
pp. 190
Author(s):  
Thais Morais Salomão

As primeiras décadas do século XX, no Brasil, foram marcadas por uma grande aceitação das elites às influências culturais provenientes das capitais europeias. As cidades de São Paulo e Rio de Janeiro passaram por um extenso processo de reforma urbana, assim como o barão Georges-Eugène Haussmann havia promovido em Paris. Na cena social destas capitais, surgiram os chamados salões, ambientes frequentados por intelectuais, poetas, artistas e pela alta sociedade, nos mesmos moldes adotados pela burguesia parisiense. Nestes ambientes realizavam-se serões literários, palestras e exposições e eram servidos banquetes com pratos de nomes franceses, que seguiam as regras de boas maneiras e etiqueta nascidas nas sociedades de corte da França. O presente estudo busca apresentar o processo de urbanização da cidade de São Paulo e o cenário social e cultural da elite daquele período e também compreender de que forma aquele grupo via a necessidade de se distanciar do estilo de vida provinciano e romper com os costumes da sociedade imperial para considerar-se civilizado. O grande esforço da elite brasileira para se afastar de seu passado colonial e se aproximar dos padrões franceses pode ser, de certo modo, elucidado pelo raciocínio de Stuart Hall de que a identidade é algo sempre em processo, em constante modificação. Assim, na contramão do que havia sido visto durante o Romantismo, período em que nossos autores expressavam forte nacionalismo e certa ânsia de criar um estilo autêntico que valorizasse as tradições do país, nos primeiros anos do século XX prevalece a vitória do cosmopolitismo francês e adotam-se o mobiliário, as roupas e o modo de vida parisienses. Nos encontros da alta sociedade paulistana nos salões do senador José de Freitas Valle, os convivas falavam francês sobre poesia, literatura e artes, o que, conforme Norbert Elias, demonstra o anseio de usar da língua como forma de definir o seu caráter nacional. Ademais, naqueles ambientes predominavam a etiqueta e o refinamento à mesa franceses que, segundo Pierre Bourdieu, são instrumentos de diferenciação social e evidenciam que a cultura que une é também a cultura que separa. A partir do trabalho dos autores mencionados e também dos arquivos de periódicos em circulação desde aquela época, como O Estado de S. Paulo, A Cigarra e A Lua, esta pesquisa analisará os fatores que são relevantes na formação de uma identidade nacional e como o “desejo de ser brasileiro”, que imperou no Brasil durante o período do Romantismo, afastou-se de qualquer elemento da cultura popular e transformou-se em “desejo de ser estrangeiro”.


2021 ◽  
Vol 14 (1) ◽  
pp. e37634
Author(s):  
Leonardo Henrique Luiz
Keyword(s):  

O objetivo do presente artigo consiste em propor formas conceituais de se abordar as diferentes expressões dos xintoísmos no Japão. Partimos dos eventos em torno da Restauração Meiji (1868) para sugerir pelo menos três formas de expressão da religião: a primeira enquanto manifestações de figuras sobrenaturais e o culto às divindades locais (神 – kami); a segunda chamada de Jinja Shintō (神社神道) é entendida como abarcando os santuários locais (神社 – Jinja) e as instituições religiosas ligados às famílias de sacerdotes; e a terceira ligada ao Estado japonês (国家神道 – Kōkka Shintō). Do ponto de vista teórico a religiosidade é compreendida a partir dos trabalhos de Mircea Eliade (2010), enquanto o conceito de religião é abordado por meio das elaborações de Pierre Bourdieu (2005). Esses corpos teóricos são flexibilizados a partir das reflexões sobre o que é religião no Japão (SHIMAZONO, 2005) e como o conceito ocidental de religião foi traduzido para o japonês (KRAMER, 2013). Como resultado, busca-se demostrar a existência de vários xintoísmos e que dessa forma, as abordagens sobre a religião devem ser flexibilizadas visando particularidades das manifestações do fenômeno.


2021 ◽  
Vol 19 (38 jan/abr) ◽  
Author(s):  
Luan Carlos Nalin ◽  
Cleber da Silva Lopes
Keyword(s):  

O presente artigo buscou analisar as interações entre vigilantes e policiais em situações de conflito nas portas giratórias de agências bancárias. O objetivo foi caracterizar as relações de poder respectivas a esse cenário no qual atores estatais e não-estatais se encontram, assim, contribuir com a ampliação de discussões sobre formas de se prover segurança nas sociedades contemporâneas em que o policiamento é pluralizado. Para isso, o trabalho mobilizou a teoria de Pierre Bourdieu e a noção de “securitização de capital”, bem como análise de acórdãos julgados nos estados de São Paulo e Paraná entre os anos de 2010 e 2012. Os resultados mostram que os policiais utilizam mais capital simbólico para garantir sua autoridade, enquanto os vigilantes e as agências bancárias recorrem ao capital jurídico estritamente para conformar suas condutas. Os bancos também ganharam de forma quase que unânime nos processos julgados, fenômeno este que pode ser pensado junto ao avanço dos serviços de segurança privada, não mais se pautando somente na proteção e segurança executada pelo Estado soberano contra ameaças externas.


2015 ◽  
Vol 20 (3) ◽  
pp. 215
Author(s):  
Maria De Fátima Barbosa Abdalla
Keyword(s):  

Este texto tem como objetivo refletir sobre os saberes da docência necessários para que sejam transformadas as práticas pedagógicas desenvolvidas no cotidiano escolar. Trata-se de identificar as representações sociais de professores-estudantes da Pedagogia/Parfor (Decreto 6755/09) sobre os saberes docentes que consideram necessários no contexto de formação para a transformação de suas práticas. A pesquisa, de caráter longitudinal, fundamentada em Pierre Bourdieu e Serge Moscovici, parte do pressuposto, junto com Jean-Marie Barbier, Gaston Mialaret e Maurice Tardif, de que os saberes docentes não são teóricos, mas conhecimentos práticos, marcados/moldados por contextos formativos e que precisam ser (re)conhecidos pelos professores. Os resultados reforçam que há necessidade de se redefinirem os saberes da docência de modo a compreendê-los como saberes praxiológicos, porque se relacionam ao contexto e às condições de trabalho e possibilitam a inovação das práticas pedagógicas.Palavras-chave: Práticas pedagógicas. Representações sociais. Saberes da docência. 


2016 ◽  
pp. 99-112
Author(s):  
Marta Martines Ferreira

A proposta do artigo é rastrear a história e o contexto cultural da viola-de-cocho, instrumento que se instituiu como símbolo da cultura popular nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, alçado a patrimônio nacional pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Há mais de dois séculos, constitui a base sonora do cururu e siriri, fonte de representação da alegria e religiosidade do povo dessa extensa e dilatada região. A partir da análise de documentos organológicos reconstituímos os possíveis caminhos da viola-de-cocho até o modelo que se propõe na contemporaneidade. Argumentamos que isto possibilitou, em parte, a plasticidade e a capacidade de aglutinação do instrumento graças a sua própria capacidade de se difundir e perfazer através da diáspora humana.


2013 ◽  
Vol 21 (1) ◽  
pp. 38
Author(s):  
Adriano Pistore

Capital social é um conceito que vem angariando inúmeros adeptos, e sendo percebido como um novo tipo de capital que vem somar-se aos antigos capitais econômico, físico e humano na forma de fator de influencia na geração de desenvolvimento econômico e social. Na literatura sobre o tema não existe uma definição consensual entre os diversos autores. No entanto, há consenso quanto à sua importância na definição das características e na sua função no desenvolvimento da composição de suas atividades e da colaboração na busca da construção de uma realidade de projetos de benfeitorias comuns à sociedade. Este artigo apresentou a evolução histórica e conceitual do capital social sob a ótica de seus principais pensadores, Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam. Para base da pesquisa, foram analisadas as ideias centrais dos autores, através de suas próprias publicações, e trabalhos complementares de outros autores que trataram da evolução histórica e conceitual do tema abordado. O resultado desta revisão mostrou que, embora existam discordâncias entre os autores, todas as abordagens remetem uma visão comum. A emergência de se considerar a estrutura e as relações sociais como fundamentais para se compreender e intervir sobre a dinâmica econômica.


2002 ◽  
Vol 21 (2) ◽  
pp. 75-90
Author(s):  
Vera L. ZOLBERG

Résumé L'art conçu comme capital culturel est au centre des recherches de sociologues tels que Pierre Bourdieu et ce concept est pertinent à l'analyse des musées d'art dans la société contemporaine. À la différence du niveau d'instruction, le goût artistique se conçoit comme une affaire individuelle sans grande importance sociale. Je critique cette position à la lumière de l'étude de Bourdieu et Darbel concernant les publics des musées d'art, je compare leurs résultats avec ceux des recherches actuelles en Europe et aux États-Unis, et je mets en doute les preuves de la relation entre le goût et la mobilité sociale. Le musée d'art peut devenir un facteur de nivellement plutôt qu'une barrière à l'égalité, mais tant qu'il subsiste des inégalités en matière d'éducation et de profession, ce programme a peu de chances de se réaliser.


Author(s):  
◽  
Santos Kátia Maria de Oliveira
Keyword(s):  

Na pós-modernidade, novos valores fundamentam as formas sociais de existir e de transformar o mundo. Esses valores estão presentes na escola enquanto Instituição social que (re)produz normas, significados e ações que direcionam o agir, o sentir e o pensar dos sujeitos na pós-modernidade. Nesse sentido, uma das formas de existência na escola, assim como na sociedade pós-moderna, é dada pela mediação das tecnologias. Essa mediação constrói sentidos outros de se perceber, perceber o outro e estar no mundo. Chamamos essa mediação de aparelhamento digital, onde os sujeitos existem e produzem sentidos de mundo através do uso de tecnologias digitais da informação e comunicação. Em sala de aula, o aparelhamento digital nos leva a questionar os processos de ensino e de aprendizagem. Assim, como problema de pesquisa, trouxemos: quais as implicações do aparelhamento digital para o ensino de Sociologia no Ensino Médio? Nosso objetivo foi compreender quais as implicações do aparelhamento digital para o ensino de Sociologia no Ensino Médio. Propomos, enquanto caminho teórico-metodológico, o uso da Análise Sociológica do Discurso, visto que entendemos os discursos enquanto formas sociais que são internalizados e são modulados pela realidade social, pela construção dos sentidos e significados que estruturam a existência social e que são apreendidos pelos sujeitos nos processos de subjetivação e de socialização. Nosso objeto de pesquisa foi ganhando contornos a partir das contribuições teóricas de Zygmunt Bauman (2001; 2007; 2009), Pierre Bourdieu (1998; 2000; 2011) e Pierre Lévy (1989; 1998). Pelos constructos sociológicos de tais autores, percebemos a necessidade de investigar os processos de aprendizagem no ensino de Sociologia, no Ensino Médio, através do aparelhamento digital. A pesquisa permitiu perceber a necessidade de discutir as implicações do aparelhamento digital no ensino de Sociologia, visto que o que está em evidência é a própria formação humana.


Slovo ◽  
2020 ◽  
Vol How to think of literary... ◽  
Author(s):  
Tamara Svanidzé

International audience The present work questions the logic and the functioning of the flows of importation in the field of literature in the second half of the 19th century, using the concept of cultural transfers, as developed by Michel Espagne and Michael Werner, along with Pierre Bourdieu’s concept of the literary field. These methodological perspectives allow us to relativize the canonical vision of Georgian literature and to illuminate the role played by the importation of European works in the organization and evolution of the internal literary field. My analysis of critical discourse and of paratexts reveals how much literary transfers enabled Georgian literature to renew itself and actively participated in the configuration of the host system, while at the same time contributing to the reinforcement of the positions that structure the Georgian intellectual field of the time. This field has witnessed the arrival of a new conception of literature conveyed by the reformist intelligentsia that relegates traditional practices to the periphery of the system, and and has become divided between literature in conformity with aesthetic norms and current ideologies and the “sub‑field.” By clarifying the motivations that have led to the selection and interpretation of European texts and authors, I hope to offer a better comprehensive perspective on the different facets of this field and on the power relations that constitute it. Le présent travail contribue à la relecture de l’histoire de la littérature géorgienne en interrogeant le fonctionnement et les logiques des flux d’importation dans le domaine de la littérature en Géorgie dans la seconde moitié du xixe siècle à l’aide du concept des transferts culturels élaboré par Michel Espagne et Michel Werner et de la notion du champ littéraire développé par Pierre Bourdieu. Ces perspectives méthodologiques permettent de relativiser la vision canonique de la littérature géorgienne et d’éclairer le rôle joué par l’importation des œuvres européennes dans l’organisation et l’évolution du champ littéraire interne. En effet, l’analyse des discours critiques et des paratextes révèle combien les transferts littéraires ont permis à la littérature géorgienne de se renouveler et ont participé activement à la configuration du système d’accueil, en contribuant au renforcement des positions qui structuraient le champ intellectuel géorgien de l’époque. Celui-ci connaît l’avènement d’une nouvelle conception de la littérature véhiculée par l’intelligentsia réformiste qui relègue les pratiques traditionnelles à la périphérie du système, et se voit partagé entre la littérature en accord avec les normes esthétiques et idéologiques en vigueur et le « sous-champ ». Ainsi, élucider les motivations qui ont conduit à la sélection et aux interprétations des textes et des auteurs européens offre une meilleure image globale des différentes facettes de ce champ et des rapports de force qui le constituent. სტატიის მიზანია თარგმანების როლის განსაზღვრა xix საუკუნის ქართული ლიტერატურული სივრცის ფორმირებაში. კვლევის მეთოდოლოგიურ საფუძვლად გამოყენებულია ბურდიეს (Pierre Bourdieu) ლიტერატურული ველის კონცეფტი და ესპანისა (Michel Espagne) და ვერნერის (Michael Werner) მიერ შემუშავებულ კულტურული ტრანსფერის თეორია, რომლის მიხედვითაც, კულტურული ტრანსფერები უნდა განიხილებოდეს აკულტურაციის ფენომენზე დაყრდნობით და კულტურული გავლენის პარადიგმის გვერდის ავლით, ანუ მიმღები კულტურის სპეციფიკაზე ყურადღების გამახვილებით. მათი საშუალებით განვავითარეთ ჰიპოთეზა, რომ ქართული ინტელექტუქლური ველი ჩამოყალიბდა უცხოური ელემენტების სესხებით და ეს სესხება არ ნიშნავს მარტივ იმიტაციას არამედ სელექციის, ადაფტაციისა და ტრანსფორმაციის მთელ პროცესებს. გარდა ამისა, განვიხილეთ ქართული ლიტერატურული ველის შიდა დინამიკა, კერძოდ, როგორ ახდენდნენ საზოგადოებრივ-პოლიტიკური ჯგუფები ევროპელი ავტორების მოხმობით სიმბოლურად დომინანტური პოზიციის დაკავებასა და გამყარებას.


Revista aSPAs ◽  
2017 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
pp. 155
Author(s):  
Monilson Dos Santos Pinto
Keyword(s):  

Este artigo propõe um diálogo entre as expressões populares da cultura brasileira e o conhecimento hegemônico acadêmico por meio do teatro didático brechtiano, introduzindo reflexões acerca dos aspectos teatrais, corporais, visuais e musicais do Nego Fugido. A comunicação aponta para a necessidade de se pensar um teatro pautado em epistemologia da resistência negra e em estéticas quilombolas como possibilidades de criação cênica para grupos de teatro negro de periferia. A máscara negra da cultura popular e o blackface aparecem em oposição para revelar como elementos cênicos e aspectos teatrais dessas expressões populares são malcompreendidos, malbaratados e, muitas vezes, apropriados de forma insipiente por alguns encenadores e grupos de teatro contemporâneos. 


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