ste artigo oferece uma descrição etnográfica de jovens marginalizados do Rio de Janeiro, ora envolvidos em atos de delinquência, ora vítimas de violência, sugerindo dois níveis de interpretação: em primeiro lugar, a relação entre os dados apresentados e a questão mais ampla da crescente criminalidade urbana e a dupla inserção de jovens em situação de risco nos discursos dos direitos e cidadania, por um lado, e violência e crime, por outro; em segundo, uma releitura da chamada “Escola de Chicago” na tentativa de avançar a compreensão destes mesmos dados. O artigo se baseia em cerca de cinco anos de pesquisas etnográficas sobre jovens, violência e cidadania no Rio de Janeiro. Como em outros contextos pós-coloniais da América Latina e África, os habitantes do Rio no início do novo século vêm vivenciando uma contradição perturbadora: a criminalidade, a violência urbana e a exclusão social aumentaram drasticamente ao longo das últimas duas décadas,precisamente ao mesmo tempo em que a democracia e a cultura dos direitos e da cidadania se consolidavam. Este trabalho analisa as maneiras contraditórias pelas quais esses jovens articulam e negociam crime, violência, cidadania e direitos, considerando que eles são por ele afetados de uma forma particularmente extrema. Busca-se, assim, iluminar alguns dos principais dilemas inerentes à relação entre democracia e violência em nossa sociedade.