Ao admitirmos que aquilo a que cunhamos racionalidade se identifica com os gêneros de discursividade (lógos), tal racionalidade pode ser re-conhecida através de análise formal dos elementos constitutivos próprios a cada esfera de racionalidade discursiva (lógos). No caso da arte retórica (rethorikê), a matéria do discurso, isto é, as palavras (lógoi), são ordenadas em vista da produção (poiésis) de um “efeito” (érgon), que se identifica com a persuasão (peithós), estritamente ligada a contextos particulares ou casos concretos. Neste sentido, é crucial a compreensão e a prática das “provas” (písteis), de acordo com uma forma (êidos) adequada, que consistirá no (i) raciocínio (lógos) inerente ao discurso; bem como deverá exprimir o (ii) “caráter” (éthos) ou “boa reputação” do orador – considerado como causa motora (ou eficiente) do discurso retórico; e (3) o páthos, isto é, as paixões ou emoções suscitadas através do discurso. Assim, as “provas de persuasão” (písteis) podem ser classificadas como provas lógicas, éticas ou emocionais (patéticas). Aristóteles distingue entre provas artísticas, isto é, intrínsecas (ou técnicas), e as não-artísticas, extrínsecas (ou não-técnicas), isto é, obtidas de modo alheio à arte retórica (rethorikê); enquanto as provas “artísticas” ou técnicas dizem respeito àquelas provas obtidas por meio das regras ou “caminhos” (méthodoi) próprios da retórica (rethorikê), compreendida como arte (techné) de produção (poiésis) de discursos (lógoi) que visam à persuasão (peithós). Portanto, a retórica (rethorikê) aponta para um gênero específico de arte, que – por sua vez – incide em um gênero específico de racionalidade discursiva (lógos), de modo que a mesma se apresenta como espécie de “saber” (epistême). Assim, resta-nos analisar se tal racionalidade inerente a esta espécie de discursividade (lógos) se assemelha com o método (méthodos) próprio da retórica, re-conhecida como espécie de conhecimento (epistême).