scholarly journals Contribuições das epistemologias de Kuhn e Fleck para a reforma do ensino médico

2008 ◽  
Vol 32 (1) ◽  
pp. 98-104 ◽  
Author(s):  
Charles Dalcante Tesser

O objetivo deste artigo é apresentar algumas idéias epistemológicas de Thomas Kuhn e Ludwik Fleck e correlacioná-las entre si e com os desafios da reforma da educação médica, supondo para esta uma finalidade de formação de médicos gerais habilitados, competentes e dispostos para o trabalho no SUS e no PSF (atenção básica). Os conceitos de paradigma e de ciência normal e a visão kuhniana do aprendizado científico são coerentes com os conceitos fleckianos de estilo de pensamento e iniciação nos círculos esotéricos de um coletivo de pensamento. Ambos os autores se reforçam na pertinência da aplicação dessas categorias à medicina e ao seu ensino. Indicam para este ensino diricos de um coletivo de pensamento. Ambos os autores se reforçam na pertinência da aplicação dessas categorias à medicina e ao seu ensino. Indicam para este ereções coes coerentes com a inserção precoce dos alunos na atenção básica e com o aprendizado de práticas e habilidades ambientadas nesses serviços, ensinadas por profissionais que ali pratiquem medicina geral. Além disso, suas teorias facilitam o reconhecimento e o manejo das "reduções paradigmáticas" ou "estilísticas", melhorando a habilidade clínica e a performance ética dos profissionais e alunos.

1994 ◽  
Vol 1 (1) ◽  
pp. 7-18 ◽  
Author(s):  
Ilana Löwy

O médico e epistemologista Ludwik Fleck desenvolveu, nas décadas de 1920-30, uma abordagem bastante original para o estudo das ciências. Ele apoiou sua epistemologia em duas bases: por um lado, em sua própria experiência profissional de bacteriologista e imunologista; por outro, na reflexão da Escola Polonesa de Filosofia da Medicina sobre as práticas dos médicos. Tal escola julga que os 'fatos científicos' são construídos por comunidades de pesquisadores - segundo os termos de Fleck, "coletivos de pensamento". Cada coletivo de pensamento elabora um "estilo de pensamento" único, composto pelo conjunto de normas, saberes e práticas partilhados por tal coletivo. Os recém-chegados são socializados em seu estilo de pensamento particular e adotam, portanto, seu olhar específico sobre o mundo. Os fatos científicos produzidos pelos membros de um dado coletivo de pensamento trazem sempre a marca de seu estilo de pensamento. Graças a isso, eles são incomensuráveis com os 'fatos' produzidos por outros coletivos de pensamento. A incomensurabilidade dos fatos científicos, aumentadas pela necessidade de 'traduzi-los' em outro estilo de pensamento para sua utilização pelas outras comunidades profissionais é, aos olhos de Fleck, uma fonte importante de inovação nas ciências e na sociedade. Por muito tempo esquecidas, as idéias de Fleck foram redescobertas nas décadas de 1960-70, em primeiro lugar por Thomas Kuhn (que, na introdução de The structure of scientific revolutions presta uma homenagem explícita à sua obra), depois pelos sociólogos das ciências. Além de sua influência diretamente perceptível, a epistemologia de Fleck mostra profundas afinidades com as novas tendências que se afirmam no estudo das ciências: a consideração das práticas dos pesquisadores e o interesse por suas técnicas materiais, discursivas e sociais.


2011 ◽  
Vol 18 (4) ◽  
pp. 1151-1158
Author(s):  
Miriam Junghans
Keyword(s):  

Pesquisas recentes da história das ciências e da sociologia do conhecimento, que entendem a ciência como conhecimento em circulação, apontam a importância do estudo das traduções de obras científicas, que envolvem tanto as circunstâncias sociais de produção quanto as de recepção dessas obras. O depoimento que apresentamos é dos autores da tradução feita diretamente do alemão para o português de Gênese e desenvolvimento de um fato científico, de Ludwik Fleck, citada por Thomas Kuhn no prefácio de A estrutura das revoluções científicas. Com ele, pretende-se oferecer subsídios para a compreensão da importância de Fleck nos estudos sobre a circulação do conhecimento científico desenvolvidos no Brasil.


2018 ◽  
Vol 13 (30) ◽  
pp. 10
Author(s):  
Volmir Von Dentz

O presente artigo apresenta uma pesquisa que desenvolveu a análise epistemológica dos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCCs) realizados por estudantes da Licenciatura em Ciências da Natureza – Habilitação em Química do Instituto Federal de Santa Catarina, Câmpus São José, entre 2013 e 2016. A partir da identificação dos objetos de estudo, dos referenciais teóricos e das metodologias em destaque nos 46 trabalhos localizados, conseguimos apresentar um panorama dos conhecimentos produzidos pelos estudantes. Metodologicamente o estudo se orientou pelas referências da “cienciometria” e da “análise paradigmática”. A fundamentação teórica tem por base dois autores clássicos da epistemologia, Thomas Kuhn e Ludwik Fleck. Considera-se que os “coletivos de pensamento” envolvidos (professores e estudantes) assimilam, no decurso de suas práticas de ensino e pesquisa, certas premissas epistemológicas, educacionais e metodológicas, privilegiando, em decorrência disso, dadas “tendências paradigmáticas” ou “estilos de pensamento”, identificáveis por meio da análise epistemológica. Verificou-se, dessa maneira, no campo investigado, o predomínio de estudos sobre os sujeitos em escolas, dos estudos de caso e das metodologias que aplicam questionários, realizam entrevistas e desenvolvem a leitura de documentos, e a utilização de autores e teorias diversificadas, que contemplam várias áreas do conhecimento, entre outros aspectos.


2003 ◽  
Vol 66 (3) ◽  
pp. 403 ◽  
Author(s):  
Jean-François Braunstein
Keyword(s):  

2002 ◽  
Vol 4 (2) ◽  
pp. 143-153
Author(s):  
Bernardo Jefferson de Oliveira ◽  
Mauro Lúcio Leitão Condé

Esse artigo procura mostrar a crítica de Thomas Kuhn a algumas concepções da historiografia da ciência contemporânea que radicalizaram muitas das posições formuladas inicialmente pelo próprio Kuhn. Pretende-se ainda mostrar que um reposicionamento de Kuhn, a partir de sua crítica a seus sucessores, o aproxima mais de suas influências iniciais, em especial, de Ludwig Wittgenstein e Ludwik Fleck.


Idei ◽  
2020 ◽  
pp. 18-28
Author(s):  
Олег Шепетяк ◽  
Оксана Шепетяк

Ludwik Fleck is a philosopher, biologist and physician who had a decisive influence on Thomas Kuhn. The research is dedicated to a publication of the Ukrainian translation of the Fleck’smain work “Genesis and Development of a Scientific Fact” by Stefania Ptashnyk. The article deals with the scientific formation of Fleck, describes what happened to his philosophical achievements after his death and the outbreak of his popularity. The article presents the content of all Fleck’s works on philosophy, which are divided into three periods: preparatory, major and post-war. The main emphasis is on the formation of the key concepts of Fleck’s philosophy: “thought style” and “thought collective”.


2010 ◽  
Vol 1 (1) ◽  
pp. 81-113
Author(s):  
César Lorenzano
Keyword(s):  

Si bien Thomas Kuhn en al menos dos ocasiones se refiere a Ludwik Fleck –en el “Prefacio” a La estructura de las revoluciones científicas y, años más tarde, en el “Prólogo” a la traducción al inglés de la obra de Fleck– en la primera señala que “anticipaba muchas de mis propias ideas” –sin especificar cuáles– y en la segunda no abunda demasiado en el tema. Como surge de la lectura de la obra de Fleck, esa influencia es mucho mayor a la esperada por estas dos citas. Nos proponemos en el presente trabajo rescatar su figura para la memoria histórica de la filosofía de la ciencia, recordando brevemente sus datos biográficos y sintetizando los puntos centrales de su epistemología. Veremos entonces que la deuda intelectual de Kuhn se extiende desde la noción de estilo de pensamiento –funcionalmente equivalente a la de paradigma– hasta la de “colectivo de pensamiento” –muy próxima a la de comunidad científica–, pasando por el análisis de los hechos científicos, la función de las Gestalten o elementos que prefiguran al Kuhn de las matrices disciplinarias, o a su muy posterior noción de especiación. Pero Fleck es mucho más que un antecesor de Kuhn. Es el iniciador de una vasta corriente epistemológica que piensa que la ciencia no se limita a teorías aisladas, sino que consiste en estructuras de pensamiento que evolucionan en el tiempo, llámense “paradigmas”, “programas de investigación”, “tradiciones científicas” o “habitus”, y que hace del análisis histórico la base para fundamentar sus posiciones.


1962 ◽  
Author(s):  
F. H. Rholes ◽  
H. H. Reynolds ◽  
M. E. Grunzke ◽  
D. N. Farrer

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