scholarly journals Hannah Arendt

2018 ◽  
Vol 25 (48) ◽  
pp. 281-306
Author(s):  
Carlos Eduardo Gomes Nascimento
Keyword(s):  

Este ensaio apresenta o enlace entre o pensamento de Hannah Arendt e o ato de narrar. A obra de Arendt traz uma experiência narrativa ao dialogar intensamente com a literatura criando novas possibilidades de se relacionar com o passado. Ao narrar experiências humanas em acontecimentos sucedidos na história, Arendt buscou compreender como gerações do passado pensaram e agiram publicamente no mundo comum. Entre o passado e o futuro, rompeu-se o fio da tradição que seleciona e nomeia as experiências a ser transmitidas de uma geração mais velha para uma geração mais nova. Porém, mesmo ante à lacuna entre o passado e futuro, a narrativa de Arendt encontra “tesouros” no passado, estórias que se constituem enquanto um legado de experiências de um mundo comum às futuras gerações. Compreender as experiências humanas no passado, através das estórias, possibilita à singularidade das novas gerações deitar raízes no mundo comum.

2014 ◽  
Vol 18 (48) ◽  
pp. 115-126
Author(s):  
Rodrigo Pinheiro Silveira ◽  
Bruno Pereira Stelet ◽  
Roseni Pinheiro
Keyword(s):  

Trata-se de um ensaio que contribui para o contexto de transformações na educação médica no Brasil à luz do pensamento da filósofa política Hannah Arendt. A autora faz uma leitura crítica da modernidade, apontando seu contexto de crise e quanto esta se reflete em áreas como as da educação e da política. Partindo das reflexões sobre a crise na educação, a ruptura com a tradição e a perda da autoridade, trazemos seu pensamento para uma análise sobre a prática médica e sua formação, pautadas, sobretudo, pelo modelo biomédico e outras manifestações do mundo moderno. Por fim, ressaltamos a necessidade de se trabalhar, na educação médica, com categorias como responsabilidade, julgamento e pensamento reflexivo, que foram objetos de análise da autora, já na fase final de sua vida.


2020 ◽  
Vol 27 (2) ◽  
pp. 348-374
Author(s):  
Ivone Maria Mendes Silva ◽  
Simone Cristina Dalbello da Silva
Keyword(s):  

Este trabalho apresenta reflexões sobre como a educação das novas gerações para a participação cidadã na vida social pode ser fomentada por projetos promotores de encontros intergeracionais entre crianças e idosos. Como aporte teórico do trabalho são encapadas contribuições de autores/as que abordam as interconexões entre infância, cidadania e educação, como Hannah Arendt e Manuel Jacinto Sarmento. O desenho metodológico do estudo incluiu a realização de pesquisa etnográfica, com uso de observação participante e recolhimento de narrativas produzidas por crianças e idosos ao longo de sua participação no projeto “Idosos Mestres da Vida”, desenvolvido em escolas públicas de Concórdia-SC. Foi possível observar que o projeto funcionou como um espaço de coeducação, ao possibilitar a ampliação do horizonte de experiências e conhecimentos dos sujeitos participantes. Conclui-se que o convite feito às crianças para que identificassem relações entre presente e passado histórico instigou-as a produzirem reflexões sobre os processos que afetam a organização da vida social na atualidade e em outros tempos, bem como seus sentidos e implicações. O fomento dessa capacidade de leitura crítica da realidade representa um vetor fundamental para a constituição de sujeitos cidadãos plenos, capazes de se responsabilizarem não apenas pela cidadania individual, mas também comunitária e social.


Author(s):  
Helder Félix Pereira de SOUZA ◽  
Valquiria Vasconcelos da Piedade
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A noção de mal arraigado na natureza humana já está presente com clareza nas lições de 1775/76 sobre antropologia de Kant, principalmente no texto Do carácter da humanidade em geral. A partir deste texto, o intuito é tecer algumas considerações sobre a ideia do mal presente na obra A Religião nos Limites da Simples Razão de Immanuel Kant relacionando-o com o conceito de banalidade do mal da politóloga alemã Hannah Arendt. Para isso na primeira parte do ensaio discorre-se sobre o mal e o bem presente na lição de 1775/76 de Kant; a segunda parte destaca as três concepções kantianas de mal; na terceira parte o mal radical é pensado, de maneira breve, junto ao conceito de banalidade do mal de Arendt, a fim de destacar sua diferença e complementaridade. Por fim, algumas considerações finais sobre o tema e a sua urgência na atualidade.


2021 ◽  
Vol 14 (1) ◽  
pp. 207-222
Author(s):  
Bruno Celso Sabino Leite
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Neste trabalho, propus-me a explicitar sob a forma de esboço algumas possibilidades de se definir a moralidade sobre um ponto de vista sociológico. Para tanto, utilizei conceitos de três autores que suponho poderem ser associados a uma possível conceituação de moralidade. Os conceitos são: aproximação, interdependência e inter-relação. Seus respectivos autores são Bauman (1998), Norbert Elias e Hannah Arendt (1999; 2010 (A); 2010 (B)). Um dos supostos do trabalho não é apenas que uma definição mínima de moralidade pode ser traçada a partir desses conceitos, mas também que a moralidade pode ser pensada em termos de delimitações e diferenciações entre atos morais e imorais sem que, com isso, tenha-se que recorrer a definições filosóficas ou particularistas (relativistas). Pressupus ainda, que algumas relações de afinidades possam ser traçadas entre os conceitos de aproximação, interdependência e inter-relação no intuito da possível definição sociológica da moralidade. Logicamente que se trata de uma problemática apontada, mas infelizmente algo a ser desenvolvido em outro momento.  


2014 ◽  
Vol 35 (128) ◽  
pp. 813-828 ◽  
Author(s):  
José Sérgio Fonseca de Carvalho
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Em seu ensaio sobre a crise da educação, Arendt afirma a necessidade de se estabelecer um divórcio entre os domínios da educação e da vida política. Trata-se de uma afirmação polêmica, cuja compreensão exige o recurso à complexa teia conceitual em que tal posição se ancora. Este artigo se propõe a elucidar o significado dessa cisão, argumentando que ela não deve ser tomada como uma afirmação do caráter apolítico da educação, mas sim como um esforço para criar distinções e marcar as especificidades tanto da política, entendida como forma de organização da vida comum, quanto da educação, concebida como processo de iniciação em um mundo comum. Por fim, ele procura ressaltar uma dimensão ausente nas reflexões de Arendt e que diz respeito ao sentido político da experiência escolar.


2020 ◽  
Vol 30 (2) ◽  
pp. 17-38
Author(s):  
Raul Gomes da Silva ◽  
Ramiro Giroldo
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O texto discute a configuração da personagem reconhecida apenas pelo símbolo ఠ, do romance Avalovara, de Osman Lins. Propõe que a personagem pode ser lida como uma confluência de diferentes sentidos abertos para o infinito e, também, como uma alegoria da própria literatura de resistência – no caso em pauta, resistência contra a ditadura militar brasileira. As reflexões sobre violência e autoritarismo de Hannah Arendt são trazidas à tona no decorrer da investigação, bem como os apontamentos de Antoine Compagnon sobre o potencial que a literatura tem de se voltar contra a opressão. Em seu percurso argumentativo, o texto ainda se ampara em proposições de, entre outros, Maria Aracy Bonfim e Elizabeth Hazin, no que cabe ao feitio da personagem em pauta; além de Jaime Ginzburg, acerca das marcas que a violência deixa na tessitura literária.


Author(s):  
Helena Guimarães
Keyword(s):  

Neste estudo procede-se à análise arendtiana da tradição filosófica inaugurada por Platão, dando destaque ao papel que, segundo Arendt, ela terá tido na irrupção do sem-precedentes que traumaticamente marcou o século XX – o totalitarismo –, e perante o qual a Declaração dos Direitos do Homem viria a revelar-se uma fórmula vazia. É que, rejeitando Arendt a noção de um qualquer tipo de explicação causal para o fenómeno totalitário, não deixa de ser possível vislumbrar uma relação entre a tradição ocidental da filosofia política e o espírito da idade Moderna, como se este levasse a cabo uma radicalização dos fundamentos da primeira: o apagamento da pluralidade, o controlo da espontaneidade, a fusão de juízo e episteme, de legitimidade e obediência. Nesta linha, far-se-á também uma primeira prospecção do fundo em que assentam os alicerces do pensamento arendtiano – um fundo que está, surpreendentemente, à superfície. Depois, entrar-se-á no debate que é razão de ser maior deste trabalho, convocando a concreta História que o animou, sem por isso, sempre que se afigurou oportuno, se deixar de se evocar alguns conceitos arendtianos - que não são, afinal, senão outro rosto do dado.


Revista Labor ◽  
2017 ◽  
Vol 1 (10) ◽  
pp. 139
Author(s):  
Ricardo George de Araújo Silva ◽  
Napiê Galvê Araújo Silva
Keyword(s):  

O objetivo do texto é discutir o conceito de política a partir das abordagens de Hannah Arendt. A pergunta norteadora da pesquisa é saber qual é a finalidade da política? Para os gregos a política é compreendida como o espaço da ação entre iguais que deliberam sobre a vida comum da polis em condições igualitárias no que concerne o poder de fala e decisão. Não se concebe, portanto nenhuma expressão de violência ou veto a ação e discurso do outro. Arendt (2001a) concorda e ensina que a política tem a finalidade de conduzir os negócios da polis a partir da capacidade dos homens livres de se persuadirem pela palavra. É importante frisar que esse debate em torno da política na atualidade guarda características protototalitárias na medida em que os indivíduos cada vez mais se isolam e assumem uma postura de descompromisso com a coisa pública e se distancia da política, fornecendo terreno fértil para emergência de governos pautados na violência e arbitrariedade. Aqui não se aponta nenhuma receita ou cânone em torno da política, haja vista que seu núcleo duro deva ser o debate entre os homens e mulheres que se interessam pela coisa pública, contudo subjaz a lógica desse debate a preservação da vida, a conservação do existir humano.


2020 ◽  
Vol 2 (1) ◽  
pp. 114-128
Author(s):  
Juliano Cordeiro Da Costa Oliveira

O presente artigo objetiva debater o conceito de poder em Hannah Arendt e Jürgen Habermas. Em ambos, o conceito de poder relaciona-se com o princípio da comunicação. Em Arendt, o poder resulta da capacidade humana de se unir a outros. O poder nunca é propriedade de um indivíduo. Em Arendt, o poder resulta, portanto, da capacidade para agir com os outros. Para Habermas, assim como Arendt, o poder relaciona-se com a capacidade de agir com os outros. Porém, ao contrário de Arendt, Habermas articula o poder comunicativo, de herança republicana, com o poder administrativo, de herança liberal, a partir de seu conceito de democracia deliberativa. Se para Arendt a administração moderna é um obstáculo que impede necessariamente a formação de um espaço público e uma democracia radical, Habermas realiza uma síntese entre o republicanismo e o liberalismo, tentando pensar o poder comunicativo com a dimensão institucional. Enquanto Arendt está inserida na tradição republicana de poder, Habermas realiza uma síntese entre o republicanismo e o liberalismo, pensando o poder no âmbito do conceito de democracia deliberativa.


2017 ◽  
Vol 17 (70) ◽  
pp. 93-105
Author(s):  
Nelson Camatta Moreira ◽  
Rodrigo Francisco de Paula

As narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro ainda predominantes na dogmática constitucional são marcadas por um ressentimento quanto ao passado constitucional, no sentido de que as experiências brasileiras representam a história de um fracasso, ou de uma tragédia, do processo de constitucionalização no Brasil. Assim, pretende-se, neste artigo, a formulação de uma crítica a essa perspectiva da dogmática constitucional, apontando-se, com Hannah Arendt, os pressupostos que justificam a história de um constitucionalismo, com o esforço de recordação do ato de fundação, por meio de narrativas que procuram encontrar uma linha de continuidade, entrecortada por avanços e retrocessos, entre o ato de fundação e os atos seguintes como novos começos que o rememoram. Depois, com Paul Ricœur, aponta-se que o ressentimento encontrado nas narrativas sobre a história do constitucionalismo brasileiro impede a memória do passado constitucional, resultando na impossibilidade de se fazer uma história do constitucionalismo brasileiro, o que mantém a eternidade e a permanência do fracasso, ou da tragédia, da Constituição e do processo de constitucionalização no Brasil. 


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