Remontagens do tempo vivido e não vivido: A tentativa de capturar o inominável
Este artigo tem por objetivo, a partir de certa perspectiva warburguiana, estabelecer alguns paralelos e um diálogo entre dois olhares estrangeiros sobre a Alemanha da Segunda Guerra Mundial e do pós-guerra – um, documental, do então jornalista, roteirista e soldado estadunidense Samuel Fuller; o outro, ficcional, do cineasta italiano Roberto Rossellini. Aproximações estéticas – a despeito de, em Fuller, tratar-se mais de um “protocinema”, mas que iria marcar a fogo sua obra como cineasta – e éticas, e eventuais desdobramentos, constituem vasto material que não se esgota neste texto. Além de tomarmos emprestado certo olhar do historiador da arte Aby Warburg, pelas pranchas de seu Mnemosyne enquanto espaço de interstícios e intersecções, sempre passível de composição e recomposição, buscaremos subsídios, para falar da obra de Fuller (Falkenau), em Georges Didi-Huberman. Ao tratarmos da obra de Rossellini que dialogará com a de Fuller, traremos algumas reflexões a respeito de seu filme que encerra a chamada “trilogia da guerra”, Alemanha ano zero.