O “contrato epistemológico” que vigorou durante mais de um século na Geografia baseou-se na convicção de que essa disciplina não é nem apenas uma ciência natural nem meramente uma ciência social, mas sim um conhecimento epistemologicamente híbrido, cabendo aos geógrafos encontrar formas de cooperação e convivência frutífera a despeito das inevitáveis especializações temáticas. Nas décadas de 1970 e 1980, porém, o referido “contrato” foi rompido: “Geografia Humana” e “Geografia Física” apostaram, explícita ou implicitamente, em uma separação, por verem vantagens nisso. Transcorridas quase cinco décadas, o que então parecia promissor se mostra, hoje, ao menos em parte, como um equívoco: ironicamente, foi justamente a partir da década de 1970 – quando geógrafos “humanos” e “físicos” aceleraram tremendamente o movimento de afastamento recíproco, desdenhando a ideia de um saber que fosse uma “ponte” entre o conhecimento da natureza e o da sociedade – que o mundo passou, com uma velocidade crescente, a dar atenção a problemas e desafios que, indiscutivelmente, exigem uma articulação desses conhecimentos. Felizmente, antídotos vêm sendo buscados, e o mais relevante deles é o enfoque conhecido como Geografia Ambiental. Entretanto, ainda se faz necessário muito trabalho de fundamentação epistemológica, teórica e metodológica para consolidá-lo. A fim de contribuir com esse esforço, o presente artigo investe na interpretação do enfoque da Geografia Ambiental como correspondendo a uma Aufhebung, isto é, a uma superação dialética. O conceito de Aufhebung, porém, em sua tradição original, hegeliana, carrega algumas limitações intrínsecas. Cabe, assim, tentar reconfigurá-lo, tornando-o mais complexo e robusto – o que é aqui empreendido com o auxílio das contribuições lógicas e ontológicas do filósofo greco-francês Cornelius Castoriadis.