scholarly journals O anjo da História tem corpo de mulher

Em Tese ◽  
2021 ◽  
Vol 26 (3) ◽  
pp. 262
Author(s):  
Camila Carvalho

Guiada pela inteligibilidade de um corpo-memória que recupera o passado revelando sua latência no presente, em Jamais o fogo nunca (2007) Diamela Eltit propõe, de forma literariamente política, uma releitura histórica da ditatura militar chilena de um modo, fundamentalmente, feminino. Neste romance, uma mulher sem nome rememora episódios passados ao mesmo tempo em que examina a banalidade do presente que compartilha com seu companheiro, a imagem degradada de uma liderança militante autoritária. Por meio desse corpo-ruína, que interpela o desaparecimento de um projeto político, revelando suas contradições internas, Jamais o fogo nunca expõe a relação dialética que une passado e presente para retirar do silenciamento a hierarquia de gênero que estruturou tanto o moralismo do Estado quanto as organizações militantes. Ao aproximar-se da ditadura militar por meio do escrutínio da masculina militância, o romance questiona a falocêntrica racionalidade e elabora um tipo de aproximação ao passado que, como colocou Walter Benjamin nas teses que compõem seu “Sobre o conceito de História” (1940), alia rememoração e redenção. Neste artigo, interessa-nos investigar em que medida esse gesto – que coloca em xeque os lugares hegemônicos do saber – possibilita ao romance de Eltit postar-se como uma instância dissensual de pensamento.

2012 ◽  
Vol 86 (2) ◽  
Author(s):  
Emerson Pereti ◽  
Marilene Weinhardt

Em Impuesto a la carne, a escritora chilena Diamela Eltit expõe um quadro alegórico da nação chilena em seu bicentenário, representado por meio da relação simbiótica entre mãe e filha, personagens que compartilham, por duzentos anos, uma existência precária no micromundo de um hospital. Tendo por base teórica os apontamentos de Walter Benjamin sobre a alegoria e os estudos das alegorizações fundacionais e pós-ditatoriais de Doris Sommer e Idelber Avelar, se propõe aqui uma leitura parcial da obra, levantando algumas questões sobre sua operatividade alegórica, principalmente no que se refere às relações conflitivas entre sujeito e nação, história e testemunho, poder e resistência.   


Author(s):  
Susana González

O objetivo é problematizar algumas questões do sentido da linguagem literária e do estatuto da ficção. Levar-se-á em conta una seleção de textos da obra de dois pensadores imprescindíveis: Maurice Blanchot e Michel Foucault, além de outros textos críticos de Paul de Man e de Walter Benjamin. A intenção é partir dess¬as aproximações para dar cabida a obras representativas da literatura hispano-americana atual, que fazem justamente a exploração da perda da palavra, sentidos de ficção, e uma autêntica poética autorreflexiva sobre o próprio ato da escrita. Apresento uma seleção de relatos de três escritoras contemporâneas: de Sylvia Molloy (Argentina), Desarticulaciones; de Diamela Eltit (Chile), Padre mío; y de Piedad Bonett (Colombia), Lo que no tiene nombre.


2020 ◽  
Vol 30 (4) ◽  
pp. 271-290
Author(s):  
Elisa Amorim Vieira ◽  
Camila Carvalho

Tendo como guia um corpo-memória, que ao recuperar o passado a partir do não-dito revela sua latência no presente, em Jamás el fuego nunca (2007), de Diamela Eltit, literatura, política e História cruzam-se a todo tempo. Trata-se de uma narrativa na qual uma mulher sem nome rememora episódios passados ao mesmo tempo em que examina a banalidade do presente que compartilha com seu companheiro, o antigo líder de uma célula militante. Retomando a memória da ditadura chilena a partir daquele que talvez seja seu traço mais sinistro – o desaparecimento –, nesse romance, Eltit se aproxima da realidade histórica para acrescentar à discussão uma perspectiva irrealizável fora do horizonte da arte. Neste artigo, interessa-nos investigar em que medida a conversão desse rastro do passado em estratégia estética – ao colocar em disputa outras formas de visibilidade e inteligibilidade – dialoga com o conceito de História elaborado por Walter Benjamin.


2019 ◽  
Vol 41 (6) ◽  
pp. 145-184
Author(s):  
Ji-man Kim ◽  
Sun-young Lee ◽  
Dae-hyun Lee
Keyword(s):  

2010 ◽  
Vol 3 (2-3) ◽  
pp. 238-262
Author(s):  
Virgil W. Brower

This article exploits a core defect in the phenomenology of sensation and self. Although phenomenology has made great strides in redeeming the body from cognitive solipsisms that often follow short-sighted readings of Descartes and Kant, it has not grappled with the specific kind of corporeal self-reflexivity that emerges in the oral sense of taste with the thoroughness it deserves. This path is illuminated by the works of Martin Luther, Jean-Luc Marion, and Jacques Derrida as they attempt to think through the specific phenomena accessible through the lips, tongue, and mouth. Their attempts are, in turn, supplemented with detours through Walter Benjamin, Hélène Cixous, and Friedrich Nietzsche. The paper draws attention to the German distinction between Geschmack and Kosten as well as the role taste may play in relation to faith, the call to love, justice, and messianism. The messiah of love and justice will have been that one who proclaims: taste the flesh.


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