O Ele, os K.’s, o homem de boa vontade: Arendt, leitora de Kafka
O presente artigo analisa a leitura de Hannah Arendt sobre os textos de Franz Kafka, o que será feito a partir do prefácio de Entre o passado e o futuro, dos ensaios Franz Kafka: uma reavaliação e O judeu como pária: uma tradição oculta, além das narrativas kafkianas Descrição de uma luta, O Processo, O Castelo e da parábola Ele, identificando tanto o que as vincula como o definhamento do humano retratado pelo escritor. Porquanto o absurdo que reveste o cenário descrito por Kafka é percebido por Arendt como um presságio dos horrores praticados pelos regimes totalitários, nossa hipótese é que discutir a leitura da autora sobre os textos kafkianos auxilia a compreensão sobre as consequências desastrosas que as relações sociais podem acarretar e a desfiguração fomentada pela burocracia como aparelho organizacional e forma de governo que normaliza os procedimentos de rotina, os massacres administrativos, a obediência cadavérica e os processos infindáveis baseados em legislações superiores, utilizados como meios de gerir indivíduos desarraigados, indistinguíveis e massificados.