Quem vigia os vigilantes? Presos políticos e carcereiros num presídio da ditadura civil-militar
Este artigo trata das relações entre carcereiros e presos políticos mantidos pela ditadura civil-militar no presídio cearense Instituto Penal Paulo Sarasate (IPPS), na década de 1970. Tem como pressuposto teórico a noção de Michel de Certeau sobre fronteira, entendendo-a como um terceiro espaço que permite a existência de contatos, pontes e influências entre grupos sociais distintos. Buscamos compreender como as relações com os agentes prisionais contribuíram para as reconstruções de identidades e projetos políticos dos militantes de esquerda armada. Os distanciamentos sociais e os estereótipos pelos quais se viam presos e militantes foram, aos poucos e em partes, sendo removidos ante a convivência intensa na fronteira. Os carcereiros acabaram percebendo as distinções dos militantes encarcerados em relação aos presos comuns. Os ativistas buscaram o contato e diálogo com os carcereiros como forma de tentar minimizar o isolamento que a ditadura almejava lhes impor e melhor as condições de existência dentro dos cárceres. Agentes prisionais prestavam pequenos favores aos militantes, chegando mesmo a serem influenciados politicamente por estes. As violações de fronteiras, não obstante, igualmente provocaram tensões e atritos.