scholarly journals Primeiro registro do cachorro-vinagre Speothos venaticus (Carnivora, Canidae) para a Mata Atlântica do estado do Rio Grande do Sul, sul do Brasil

Biotemas ◽  
2021 ◽  
Vol 34 (3) ◽  
pp. 1-6
Author(s):  
Ademir Fick ◽  
Anderson Cristiano Hendgen ◽  
Débora Cristina Kunzler ◽  
Lucas Gonçalves da Silva

O cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é um dos seis representantes da família Canidae no Brasil, estando presente em quase todos os biomas do país. Sua distribuição vai da Costa Rica e Panamá até a província de Misiones, na Argentina, e o estado de Santa Catarina, no Brasil. Além de naturalmente raro, é considerado de difícil detecção pelo seu comportamento elusivo e pouco conhecido. O presente estudo visa descrever o primeiro registro do cachorro-vinagre para o estado do Rio Grande do Sul, expandindo assim sua área de ocorrência e distribuição confirmada. Tendo sido observados oportunisticamente no dia 05 de julho de 2020, dois indivíduos foram fotografados dentro do Parque Estadual do Turvo, na região noroeste do estado. Tal encontro ressalta a relevância das Unidades de Conservação na manutenção das populações da fauna ameaçada de extinção. Sugere-se a classificação como “criticamente ameaçada” para a espécie no estado do Rio Grande do Sul e recomenda-se a sua inclusão na lista de espécies ameaçadas da fauna no estado.

Roteiro ◽  
2019 ◽  
Vol 44 (1) ◽  
pp. 1-12
Author(s):  
Elison Antonio Paim ◽  
Pedro Mülbersted Pereira

A Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem a proposta de atender os povos indígenas que vivem na parte meridional da Mata Atlântica: Guarani (ES, RJ, SP, PR, SC, RS), Kaingang (SP, PR, SC, RS) e Xokleng (SC), com Ensino Médio completo ou em conclusão, desde 2010. O curso está estruturado em regime presencial especial, com etapas concentradas divididas entre Tempo-Universidade e Tempo-Comunidade, de acordo com a perspectiva da Pedagogia da Alternância. Joziléia Daniza Jagso Inácio Schild é, atualmente, a Coordenadora Pedagógica desse curso. Joziléia Daniza Jagso Inácio Schild nasceu na Terra Indígena do Guarita, território indígena Kaingang localizado no Município de Tenente Portela, RS. É graduada em Geografia pela Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) (2010), especialista em Educação de Jovens e Adultos Profissionalizantes pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (2012), mestre em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (2016) e está, atualmente, cursando Doutorado em Antropologia Social pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Entrevistamos a professora Joziléia Kaingang em março de 2018. Na ocasião, a entrevistada compartilhou suas experiências com a Licenciatura Intercultural Indígena como estudante, como educadora e com as atuais lutas e pautas dos povos indígenas no Brasil.


2012 ◽  
Vol 12 (4) ◽  
pp. 181-190 ◽  
Author(s):  
Juliane Bellaver ◽  
Cristiano Agra Iserhard ◽  
Jessie Pereira dos Santos ◽  
Ana Kristina Silva ◽  
Márcio Torres ◽  
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Este trabalho teve como objetivo elaborar uma lista de espécies de borboletas de Matas Paludosas e de Restingas da Planície Costeira do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina contribuindo para o conhecimento da fauna de borboletas da Mata Atlântica. Foram compilados dados obtidos com amostragens realizadas através de duas técnicas de coleta (armadilha com isca atrativa e rede entomológica) nos anos de 2005 e 2011. Com um esforço amostral de 10.920 horas com armadilhas e de 360 horas-rede foram encontradas 225 espécies de borboletas nos dois ambientes, distribuídas em seis famílias e 19 subfamílias. Vinte e cinco espécies são registros novos ainda não publicados para o Rio Grande do Sul e 35 espécies são novos registros para a Mata Atlântica do Rio Grande do Sul, sendo seis Nymphalidae, dez Hesperiidae, doze Lycaenidae e sete Riodinidae. Os resultados gerados no presente estudo são fundamentais para o conhecimento e conservação dos táxons estudados bem como dos ambientes aos quais estão associados.


2016 ◽  
Vol 17 (1) ◽  
pp. 257-284
Author(s):  
Maria Cristina Cereser Pezzella ◽  
Rogério Gesta Leal

Resumo: Com o presente artigo objetivou-se discutir sobre o direito fundamental social ao meio ambiente digno no Brasil, alicerçando-se em cinco casos concretos complexos, nos quais em sua maior parte, a intervenção do Ministério Público Estadual e do Ministério Público Federal serviu de protagonista na defesa dos direitos fundamentais individuais, coletivos e difusos. Os cinco casos concretos ocorreram no território brasileiro e foram levados ao judiciário, que conduziu os conflitos de formas peculiares em cada uma das circunstâncias. Há, no presente estudo, o relato de agendamento e realização de audiência pública que envolveu toda a comunidade e restou exitosa na composição do litígio. Os casos concretos selecionados, em apartada síntese, são: I – Ação Civil Pública: proposta que pediu indenização e cumprimento de obrigação de fazer relativa ao alegado impacto ambiental decorrente de venda de unidades condominiais sem o devido tratamento dos desejos domésticos, que estavam sendo depositados diretamente no arroio que cruza a cidade e no qual se faz captação de água para abastecimento da população; II – Ação Civil Pública: interposta pelo Ministério Público Estadual do Estado do Rio Grande do Sul e o Consórcio de Saúde, que pediu o deferimento de tutela antecipada com a imediata suspensão do início de qualquer obra para a construção do Hospital Regional – Rede Sarah em virtude da inadequação do terreno indicado para edificação; III – Ação Civil Pública: proposta pelo Ministério Público Federal de Santa Catarina, que pedia a recomposição do meio ambiente degradado em razão de construções irregulares realizadas na Praia Brava e na dos Amores; IV – O Tribunal Federal da 4ª Região decidiu pedido formulado por empresa concessionária de serviço público de energia elétrica para que fosse suspensa a execução de liminar concedida em primeiro grau; V – Ação Civil Pública: tramitou na Justiça Federal envolvendo os Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul em que a Usina Hidrelétrica Barra Grande teria obtido laudo nulo, uma vez que não previa a derrubada de vegetação primária e secundária em estado de regeneração envolvendo mata Atlântica, com florestas de Araucárias e respectiva biodiversidade.Palavras-chave: Direito fundamental social. Meio ambiente digno. estudo de casos concretos.


2015 ◽  
Vol 10 (2) ◽  
pp. 436
Author(s):  
Elison Antonio Paim ◽  
Liane Maria Nagle ◽  
Maria Izabel de Bortolli Hentz

Em virtude das necessidades das últimas décadas no que se refere à educação escolar indígena, assim como da formação de professores, intensificou-se a política de respeito às diversidades culturais, dando origem a propostas de formação de professores indígenas em nível superior. Na Universidade Federal – UFSC, o curso Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica propõe-se à formação de professores indígenas para atuarem em aldeias Guarani, Kaingang e Xokleng/Laklãnõ. Entre os projetos de pesquisa desenvolvidos com os alunos desse curso destaca-se o PIBID Diversidade projeto de Extensão Universitária, através do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. As ações do projeto visam qualificar os acadêmicos para o exercício da docência e da pesquisa. Neste artigo narramos a experiência de pesquisa e produção de materiais didáticos desenvolvida em escolas indígenas do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Destaca-se o diálogo entre saberes tradicionais e saberes científicos na produção dos materiais. Os acadêmicos trabalharam no registro de histórias e memórias de suas etnias, considerando que as sociedades indígenas, de modo geral, vivenciam sistema singular de educação. As atividades desenvolvidas contribuíram para o empoderamento de todos os atores envolvidos, mas particularmente das comunidades indígenas, representadas pelos anciãos, que socializaram os conhecimentos tradicionais; pelos acadêmicos bolsistas e professores das escolas nas quais se desenvolveu o projeto.


2018 ◽  
Vol 9 (1) ◽  
pp. 98
Author(s):  
Mariana Oliveira Ramos ◽  
Fabiana Thomé da Cruz ◽  
Gabriela Coelho de Souza ◽  
Rumi Regina Kubo

O presente artigo discute o conceito de cadeias de produtos da sociobiodiversidade, identificando elementos definidores e ameaças presentes na consolidação desses arranjos socioprodutivos. A partir de tais entendimentos, descreve analiticamente experiências em curso no sul do Brasil envolvendo a construção de cadeias de frutas nativas da Mata Atlântica, protagonizadas especialmente por atores identificados com o campo agroecológico e o socioambientalismo. A metodologia usada baseia-se na revisão de literatura e sistematização inicial de dados de campo de pesquisa qualitativa desenvolvida nos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Como resultado, faz-se uma descrição do atual ambiente organizacional dessas cadeias, bem como uma sistematização de aspectos socioprodutivos, envolvendo produtos, mercados, gargalos e implicações de tais arranjos em alternativas de renda para famílias agricultoras, conservação ambiental e melhorias na alimentação e nutrição de agricultores e consumidores das regiões envolvidas. As cadeias do açaí juçara e de outras frutas nativas (como o butiá, a guabiroba e o araçá) têm comportamentos diferentes e, ainda que de maneira preliminar (uma vez que se trata de pesquisa em andamento), podem-se perceber ameaças e desafios distintos para cada uma destas, incluindo potencial redução do protagonismo de agricultores familiares e extrativistas na cadeia do açaí juçara. Reforça-se a importância da continuidade de ações de fomento, tanto na forma de investimentos diretos nos empreendimentos associativos e familiares, como nas ações de organização social e qualificação das diferentes etapas da cadeia promovidas pela extensão rural comprometida com os princípios da agroecologia, economia solidária e segurança alimentar e nutricional.


2020 ◽  
Vol 44 (165) ◽  
pp. 47-60
Author(s):  
Jacir Marques da Silva ◽  
Caciane Larissa Rauch ◽  
Cristiane Biasi ◽  
Luiz Ubiratan Hepp ◽  
Vanderlei Secretti Decian ◽  
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Este trabalho teve por objetivo elaborar um Protocolo de Análise Rápida (PAR) destinado à avaliação da diversidade de habitats e do nível de conservação de riachos, como ferramenta para o monitoramento e a gestão de bacias hidrográficas. Para a elaboração do PAR foram selecionadas duas Bacias Hidrográficas, uma no Rio Grande do Sul e uma em Santa Catarina. A partir dos dados de uso e ocupação da terra, foram selecionados quatro trechos de riachos onde foram elencados 19 parâmetros. Para cada característica do parâmetro atribui-se uma pontuação de 0 a 4 pontos, de acordo com uma condição de estresse ambiental. Ao final, a somatória da pontuação dos parâmetros classifica os trechos em natural, alterado e impactado. Dos trechos selecionados, apenas um em cada bacia apresentou-se natural; os demais, alterados ou impactados. O protocolo elaborado foi validado pela aplicação do índice Biological Monitoring Working Party (BMWP) que usa macroinvertebrados bentônicos como bioindicadores. Esta validação demonstrou resultados semelhantes em 50% dos trechos avaliados, com uma correlação positiva entre os resultados do PAR e do BMWP (r=0,85). Assim, o uso de PAR pode ser considerado uma ferramenta de avaliação eficiente, além de proporcionar a gestão participativa e integrada que é preconizada pela Política Nacional de Recursos Hídricos.


2021 ◽  
Vol 10 (4) ◽  
pp. e10910413900
Author(s):  
Danielle de Siqueira Jansen ◽  
Edilma Pereira Gonçalves ◽  
Jeandson Silva Viana ◽  
João Paulo Goes da Silva Borges ◽  
Débora Teresa da Rocha Gomes Ferreira de Almeida ◽  
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A Mata Atlântica é um dos principais biomas Brasileiros que se estende desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Dentro desse ecossistema, destaca-se as formações de floresta estacional semidecidual montana (brejos de altitudes). Diante disso, o objetivo do trabalho foi investigar a composição florística e fitossociológico num trecho de mata ciliar de um fragmento de Mata Atlântica em Ihumas, localizada no município de Garanhuns - PE. O estudo foi desenvolvido em um trecho de Mata Ciliar na comunidade rural de Inhumas, município de Garanhuns-PE. A área foi delimitada em 07 parcelas de 10 x 10 m, contendo 0,07 ha da área total amostrada. Em cada parcela foram amostrados todos os indivíduos arbóreos vivos, com DAP ≥ 5 cm. No fragmento de Mata Ciliar na Comunidade de Inhumas apontou a ocorrência de 257 indivíduos arbóreos distribuídos em 14 famílias, 18 gêneros e 23 espécies. As Famílias com maior número de riqueza de espécies foram: Fabaceae (cinco ssp.), Sapindaceae (três ssp.) Myrtaceae e Melastomataceae (duas ssp). As espécies Byrsonima sericea DC., Myrcia bela Cambess., Cupania impressinervia e Casearia sylvestris Sw. com frequência absoluta de 100%, sendo 44% das espécies classificadas como secundária inicial e 73% possuem dispersão zoocórica. A área possui alta riqueza florística estando em fase inicial do desenvolvimento sucessional, sendo a espécie Cupania impressinervia Acev.-Rodr. a mais representada na posição sociológica do extrato vertical arbóreo, ocupando os três extratos.


2004 ◽  
Vol 42 (4) ◽  
pp. 575-596 ◽  
Author(s):  
Rafael Perez Ribas ◽  
Lovois de Andrade Miguel

Este trabalho restitui os resultados de uma pesquisa sobre a comercialização de samambaia-preta (Rumohra adiantiformis (G. Forst) Ching), também conhecida como verdes, que é extraída na região da Encosta Atlântica do Rio Grande do Sul. Além de ser considerada uma das maiores regiões produtoras desta folhagem no Brasil, um número significativo de agricultores familiares desta região tem na extração desta espécie sua principal fonte de renda. Os resultados deste estudo permitem perceber a existência de uma remuneração bastante diferenciada entre os diferentes agentes envolvidos, salientando o predomínio de relações de cunho comercial precárias e informais, e a inexistência de representação e organização dos atores envolvidos. Tal situação pode ser imputada, em grande parte, ao caráter ilegal e clandestino desta atividade, tendo em vista a legislação ambiental vigente no Estado do Rio Grande do Sul.


2017 ◽  
Vol 24 (3) ◽  
Author(s):  
Mariela Inês Secchi ◽  
Leonardo Fluck Mariani ◽  
Marjorie Kauffmann ◽  
Isa Carla Osterkamp ◽  
Soraia Girardi Bauermann ◽  
...  

As análises arqueobotânicas compreendem uma vasta gama de atividades, sendo que dentre elas, o estudo de fragmentos de lenhos carbonizados é uma ferramenta importante para os estudos paleoambientais. Para entender o ambiente pretérito é importante conhecer a vegetação atual para reconstituir, fidedignamente, os paleoambientes. Dessa forma este trabalho visa contribuir para a construção de uma base de dados das características de carvões vegetais macroscópicos de espécies nativas da região do Vale do Taquari, Rio Grande do Sul. Para isso foram coletados exemplares atuais de 7 famílias, 9 gêneros e 9 espécies, cujos fragmentos foram envoltos em papel alumínio, colocados em cadinhos contendo areia e carbonizados artificialmente em forno mufla, em temperatura de 400ºC por 40 minutos. Após a carbonização, as amostras foram fotografadas e preparadas para análise em microscopia eletrônica de varredura para análise das estruturas celulares. Com as análises, foi possível perceber uma redução de, em média, 75,57% de massa das amostras após a carbonização em relação às amostras in natura. Os dados encontrados evidenciaram características anatômicas distintas entre as nove espécies estudadas. Para as duas espécies da família Moraceae, há diferença significativa para todos os parâmetros analisados, enquanto para as espécies de Myrtaceae, os parâmetros diâmetro das pontoações e altura de raios não foram significativos. Os resultados das medidas avaliadas demonstraram a necessidade de estudos detalhados de anatomia de carvão para a realização de comparações entre material atual e arqueológico para a reconstrução fiel da vegetação pretérita. Esses dados farão parte de um banco de dados antracológico regional, servindo de subsídio para estudos botânicos e arqueobotânicos. Os resultados advindos das análises comparativas futuras que utilizarem a base de dados lançada neste estudo, subsidiarão ações de gestão e planejamento ambiental que lidem com a recuperação da cobertura vegetal da região do Vale do Taquari.


2017 ◽  
Vol 3 (2) ◽  
Author(s):  
Joana Braun Bassi

Em uma paisagem na Mata Atlântica do Rio Grande do Sul, junto a habitantes que compartilham vínculos com fundos de vales, atentamos para as experiências mobilizadas na relação pessoa-mato partindo de uma questão central: considerando as relações sociais nas suas dimensões humanas e não humanas, como o mato é constitutivo desta socialidade? A localidade, denominada Confim das Águas, situa-se em contexto estratégico para as políticas preservacionistas globais, incidindo sobre ela uma série de regulamentações quanto ao manejo dos recursos biológicos. No entanto, transitando por uma série de caminhos habitados na paisagem, orientando-se pelas pessoas em suas múltiplas experiências, reconhecemos um mato que desconstitui a lógica da purificação entre espaços naturais e culturais, onde sua aparente imperatividade e uniformidade comporta uma pluralidade de vivências, criações e invenções. A trajetória empírica revelou variadas perspectivas etnoecológicas de pensar e viver o mato em sua indissociabilidade da dinâmica das atividades produtivas. O tema mato distendeu-se em narrativas[1] e agenciamentos que explicitaram suas diferentes relações e significados, pretéritos e presentes, mas fundamentalmente integrado à dinâmica da paisagem, das experiências, dos aprendizados e dos ritmos cotidianos da vida das pessoas. As experiências registradas imageticamente revelaram um conjunto de interações sociais imanentes à relação pessoa-mato, implicando em um entrelaçamento tático de ciclos humanos e não humanos. Evocaram, também, um conhecimento tácito e experimental inscrito no corpo pelo processo de engajamento direto com experiências e tarefas habituais - habilidades corporais não acessíveis discursivamente. Mobilizou-se um mato pensado e vivido a partir de uma perspectiva que problematiza os limites disciplinares entre a antropologia e a ecologia[2], visando um enfoque interdisciplinar das relações entre humanos e seus ambientes, o que incorre também na construção de uma narrativa visual[3] sensível a esta perspectiva. Tirando brejo nos mato: a samambaia-preta Acompanhar Bento na coleta da samambaia-preta, planta que emerge nas capoeiras, faz aguçar a percepção de que, através das experiências de uma trajetória de vida, se participa ativamente da produção de uma paisagem em conexão com outras pessoas, plantas, bichos e meio. Com um passo característico de quem observa e reconhece rapidamente os caminhos já trilhados, o movimento de Bento acompanha as curvas dos morros. Na perspectiva do antropólogo Tim Ingold[4], o contorno da paisagem não é tão medido quanto sentido; ele é diretamente incorporado à experiência do corpo. A agilidade e destreza de Bento em tirar, ajeitar, apertar, amarrar, levantar e, por fim, carregar quase cinquenta quilos de samambaia nas costas expressa uma experiência incorporada em seus 30 anos de convívio com a planta, a partir de habilidades constituídas neste processo de engajamento na atividade extrativista: É jeito, e não força – diz ele. Tem que ser na lua certa: manejando madeiras, balaios e fibras O manejo das madeiras, da corda da embireira, taquaras e cipós segue impreterivelmente a lua: É que antigamente tudo se trabalhava com a lua [...] – esclarece dona Margarida, após revelar que a época ideal para o corte da madeira de lei é no inverno, na minguante de junho ou julho. Sugerindo tratar-se de um conhecimento que aprendeu por conta, Bento diz reconhecer as madeiras pelo tronco, pelas folhas e pelo cheiro, o que revela no processo de ensinar-me, tirando pedaços da casca com seu facão para realçar sua cor e textura e chamando atenção para os aromas e formas das folhas. A feitura do balaio pelo Seu João demanda uma habilidade de todo o corpo: os pés firmam as primeiras urdiduras, compondo seu fundo a partir de um fio mestre, guia para os demais. Com ele vai se trançando todo o balaio, até chegar em sua boca, envolvendo um acabamento minucioso a fim de garantir que o emaranhado não se abra. [1] Remetendo a figura do narrador em BENJAMIN, W. O narrador. Considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. [2] A perspectiva em foco é a etnoecologia, remetendo à COELHO-DE-SOUZA, G.; BASSI, Joana Braun; KUBO, Rumi. ETNOECOLOGIA: DIMENSÕES TEÓRICA E APLICADA. Transformações no espaço rural. Porto Alegre: Editora da UFRGS, p. 25-48, 2011. [3] ROCHA, A. L. C. Tecnologias Audiovisuais na Construção de Narrativas Etnográficas, um percurso de investigação. Campos, v. 4, p. 113-134, 2003. [4] INGOLD, T. Perception of the Environment: Essays on Livelihood, Dwelling and Skill. London: Routledge, 2000.


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