O pensamento político que se desenvolve no início do renascimento italiano deve muito de sua investigação ao legado das obras de Cícero. É através do De Officiis, sobretudo, que a moral estoica adquiri grande popularidade e penetração entre os autores da Renascença. Como já foi assinalado, encontramos nessa obra considerações sobre o horizonte moral para a ação do agente político, sobredeterminado pela definição do télos da ação moral, ainda que posto no registro do modo de vida particular do agente. Nesse sentido, seu arrazoado é menos especulativo, e mais relacionado aos usos da vida ordinária para formação indireta do sujeito político. Como desdobramento dessas orientações, entrará em curso uma querela sobre dois diferentes modos de vida ou costumes mais convenientes à vida cívica: o de origem estoica e epicurista. No Renascimento, a questão acerca da “finalidade dos bens”, o sumo bem, volta a ser alvo de acirradas disputas especulativas. Como defensor do modo de vida epicurista e, consecutivamente, do sumo bem do prazer, encontraremos a obra de Lorenzo Valla, De Voluptate (1431), da qual extrairei algumas de suas considerações sobre os bens para fundamento do que podemos chamar de sua “república dos prazeres”.