Maria Eduarda Furtado Fernandes Terra
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Guilherme Ribeiro Ramires de Jesus
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Paulo Roberto Nassar de Carvalho
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Julia Goes Guimarães
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Fernando Maia Peixoto Filho
Introdução: A aloimunização é a formação de anticorpos maternos contra antígenos presentes no sangue fetal. Dependendo da capacidade de atravessarem a placenta, antigenicidade e concentração de anticorpos envolvidos, pode haver desenvolvimento de doença hemolítica perinatal. A profilaxia de aloimunização com imunoglobulina anti-D é extremamente eficaz em reduzir a morbimortalidade da doença, uma vez que esse anticorpo é o principal responsável por causar hemólise. Por outro lado, o uso dessa profilaxia tem levado a aumento proporcional de casos de doença por anticorpo não-D. Objetivo: Descrever o perfil imuno-hematológico das gestantes aloimunizadas acompanhadas em centro de referência entre 2014 e 2019. Material e Métodos: Foi realizada revisão de prontuários, analisando o grupo sanguíneo (GS), o fator Rh e o tipo de anticorpo contra hemácia. Além disso, foi realizada revisão da literatura acessada nas bases de dados PubMed e Uptodate. Resultados: Entre 2014 e 2019, foram acompanhadas 416 gestantes aloimunizadas nessa instituição. Entre elas, o GS mais comum foi A (42,1%), seguido de O (38,5%), B (14,2%) e AB (4,6%). As pacientes eram predominantemente Rh negativo (81,5%), enquanto o restante era Rh positivo (18,5%). A titulação do Coombs indireto variou entre 1:1 e 1:4096, com a maioria das gestantes (15%) com titulação de 1:16. Quanto ao tipo de anticorpo, a maior prevalência foi de anti-D (72%), seguido, respectivamente, de anti-M (7%), anti-K, anti-E, anti-Lews, anti-C e anti-c. Em 87% dos casos, houve identificação de apenas um anticorpo; em 11% dos casos foram identificados dois anticorpos; e em 2%, três ou mais anticorpos. Quanto à associação do anti-D com outros anticorpos, em 9% dos casos o segundo anticorpo identificado foi o anti-C; em 2%, o anti-E; e em 1%, o anti-K, seguidos do anti-e e do anti-S, com 0,5% cada. Discussão: Apesar da existência da profilaxia para aloimunização para anti-D, analisando o perfil imuno-hematológico das gestantes aloimunizadas na instituição, observa-se o predomínio absoluto de anticorpos anti-D. A prevenção da doença hemolítica perinatal por meio da administração de imunoglobulina anti-D é considerada extremamente eficaz, com taxa de sucesso de aproximadamente 99%. A profilaxia com imunoglobulina anti-D está disponível desde 1968 e é capaz de reduzir a taxa de aloimunização de 13‒16% para 0,5‒1,8%. Segundo a literatura, no mundo todo, aproximadamente 50% das mulheres que deveriam receber a profilaxia não a recebem, o que leva à exposição de milhares de fetos e neonatos à elevada morbimortalidade da doença. Conclusão: A doença hemolítica perinatal é potencialmente grave e sua forma mais comum é prevenível por meio da administração da imunoglobulina anti-D. O predomínio da aloimunização pelo anti-D na população estudada traduz a deficiência na implementação da profilaxia e torna essa doença um grande desafio à saúde pública.