scholarly journals A formação do capital social na América Central: violência política, repressão, dor e perda

2001 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
pp. 75-99 ◽  
Author(s):  
John A. Booth ◽  
Patricia Bayer Richard

A repressão do Estado procura dissuadir os cidadãos de se oporem ao regime e seus programas e fazer com que a sociedade civil e o capital social sirvam aos seus propósitos. Essa repressão pode ir de formas leves de coerção e intimidação ao extremo de infligir dor física aos cidadãos. Os insurgentes também podem reprimir e infligir dor aos cidadãos e assim moldar seus comportamentos e atitudes. Nas décadas de 1980 e 1990, os Estados da América Central e seus oponentes empregaram níveis muito variados de repressão e violência política. No interior dessas nações, os indivíduos perceberam de modo diferenciado a violência e sofreram graus variados de dor e perda. Utilizando dados de surveys dos anos 90 para seis países centro-americanos a fm de examinar os efeitos sobre o capital social da repressão, da violência política percebida e da dor e perda resultantes, concluímos que a repressão sistêmica e a percepção da violência política afetam significativamente a sociedade civil (envolvimento em grupo) e variedades do capital social (participação política, normas democráticas e antidemocráticas, alienação das eleições e disposição para utilizar táticas de confrontação política). Os efeitos da dor e da perda são menos claros. Embora a repressão busque refrear a participação e moldar normas de submissão, seus efeitos na América Central são complexos e, às vezes, inconsistentes com esses objetivos porque ela promove um nível de organização comunal cada vez maior e certas formas confrontadoras de capital social.

2012 ◽  
Vol 10 (1) ◽  
pp. 108-128 ◽  
Author(s):  
Julio Araujo Carneiro da Cunha ◽  
João Luiz Passador ◽  
Cláudia Souza Passador
Keyword(s):  
Know How ◽  

Nos estudos sobre redes interorganizacionais, existem esforços focados em entender a formação de redes, assunto esse que gera interesse dos formuladores de políticas públicas já que se busca no associativismo promovido pelo Estado e pelas iniciativas privadas, substância para impulsionar o desenvolvimento local. Diante disso, o objetivo do estudo foi verificar, por meio da formalização do Arranjo Produtivo Local (APL) de calçados de Birigüi (SP), se a presença desses agentes é essencial para a formação da rede interorganizacional. Como sustentações teóricas foram abordadas: a evolução temporal das redes; a Teoria Institucional aplicada às redes interorganizacionais; o capital social presente nos laços de relacionamento; a presença de agentes intermediários como coordenadores na governança das redes. A estratégia de pesquisa adotada baseou-se em entrevistas com 32% dos gestores das empresas que participavam formalmente do APL e com uma gestora do agente intermediador, além de observação e análises de pesquisas prévias sobre a industrialização de Birigüi. Como resultados verificou-se haver um legado regional que sustenta uma base de know-how para a industrialização de calçados. No entanto, percebeu-se que os interesses dos participantes do APL eram predominantemente comerciais, sem haver um nível de capital social e de institucionalização desenvolvidos a ponto de se criarem, de forma legítima, associações provenientes de vontades das próprias organizações. Sem esse ambiente institucional fortemente construído na região, não se verificou um racional claro para o associativismo, havendo a percepção de que os ganhos oriundos da participação na rede são futuros. Concluiu-se que a coordenação realizada por um agente intermediador tem poder de articulação limitado na formação de redes interorganizacionais se não existir uma institucionalização prévia que envolva, principalmente, valores e normas de capital social. Sem esses pré-requisitos, o agente intermediador pode acabar por ter funções de governança para ações assessórias da rede.


2020 ◽  
Vol 1 (2) ◽  
Author(s):  
Fredy Alexis Rivera Angel ◽  
Ligia Terezinha Lopes Simonian
Keyword(s):  

O exercício do Orçamento Participativo (OP) de Belém conseguiu ser levada a cabo entre os anos de 1997 e 2004. Pretende-se, neste artigo, analisar o desenvolvimento e a dinâmica do processo de OP de Belém, para aprofundar-se em algumas das limitações principais quanto ao alcance de processos contínuos e consistentes. Isto, por meio da auscultação das razões que fizeram com que o processo de orçamento participativo de Belém fosse descontinuado. Objetiva-se, também, a análise das implicações de se realizar OP somente em democracia direta, stricto sensu, através da descentralização territorial ou de fazê-lo mediante a delegação; e se, realmente, órgãos como os conselhos de OP e os conselhos distritais utilizados em Belém, foram democracia participativa, e se eles eram necessários. Além disso, procura-se avaliar os graus de participação popular alcançados pelo processo de OP na cidade de Belém. Para isto, neste estudo de caso, foram feitas pesquisas documentais e bibliográficas sobre o objeto de estudo, assim como a aplicação de entrevistas aos principais atores envolvidos. Conclui-se, que o a pororoca participativa em Belém desapareceu especialmente pela falta de fortalecimento cidadão, a falta de maiores estoques de capital social, a cooptação dos movimentos sociais, e o uso da delegação no processo.Palavras-chave: Orçamento Participativo. Participação Cidadã. Capital Social. Movimentos Sociais. Fortalecimento Cidadão. 


2013 ◽  
Vol 21 (1) ◽  
pp. 38
Author(s):  
Adriano Pistore

Capital social é um conceito que vem angariando inúmeros adeptos, e sendo percebido como um novo tipo de capital que vem somar-se aos antigos capitais econômico, físico e humano na forma de fator de influencia na geração de desenvolvimento econômico e social. Na literatura sobre o tema não existe uma definição consensual entre os diversos autores. No entanto, há consenso quanto à sua importância na definição das características e na sua função no desenvolvimento da composição de suas atividades e da colaboração na busca da construção de uma realidade de projetos de benfeitorias comuns à sociedade. Este artigo apresentou a evolução histórica e conceitual do capital social sob a ótica de seus principais pensadores, Pierre Bourdieu, James Coleman e Robert Putnam. Para base da pesquisa, foram analisadas as ideias centrais dos autores, através de suas próprias publicações, e trabalhos complementares de outros autores que trataram da evolução histórica e conceitual do tema abordado. O resultado desta revisão mostrou que, embora existam discordâncias entre os autores, todas as abordagens remetem uma visão comum. A emergência de se considerar a estrutura e as relações sociais como fundamentais para se compreender e intervir sobre a dinâmica econômica.


2015 ◽  
Vol 18 (28) ◽  
Author(s):  
Daniela Lippstein ◽  
Aneline Dos Santos Ziemann

Nos últimos anos o problema da insustentabilidade do modo de vida atual tem sido levantado como o mal do século. O consumo, muito além das reais necessidades, é uma das inúmeras consequências do modelo capitalista defendido pelo pensamento neoliberal, como resultado do mundo globalizado. A grande circulação de mercadorias em escala global e mecanismos de comunicação cada vez mais aperfeiçoados, criaram necessidades não existentes e formaram a sociedade do hiperconsumo. Para tanto, há de se questionar tais práticas no sentido de promover um outro desenvolvimento por meio da regulação e implementação de políticas públicas. O objetivo do presente trabalho será demonstrar o esgotamento do modelo de vida atual da sociedade como algo insustentável e evidenciar a necessidade de mudança de paradigma. A pesquisa justifica-se por ser uma discussão de interesse público, uma vez que coloca em pauta o modelo de vida adotado pela sociedade e o impacto das políticas econômicas até a contemporaneidade. O método adotado pelo presente trabalho é o método indutivo que a partir das experiências particulares acerca do modelo de consumo, políticas econômicas, pensamento neoliberal, dentre outras, propõe uma verdade geral em relação ao modelo de desenvolvimento contemporâneo. Conclui-se com o desenvolvimento da pesquisa que o modelo econômico e político adotado até os dias atuais, com fulcro no pensamento globalizado neoliberal, demonstra-se insustentável e que para tanto é necessário que o Estado assuma sua posição no sentido de implementar políticas públicas capazes de inibir práticas que violem as premissas de sustentabilidade, perseguindo um ideal de desenvolvimento.


Author(s):  
Ana Cláudia Azevedo ◽  
Daniel Jardim Pardini ◽  
Gustavo Leonardo Simão
Keyword(s):  

O Capital Social favorece o desenvolvimento competitivo das empresas por meio da construção de infraestrutura relacional e integração entre os atores presentes em núcleos comuns, como é o caso dos Arranjos Produtivos Locais (APLs). Uma vez que as empresas inseridas nos referidos núcleos se relacionam com atores internos e externos ao arranjo, o objetivo deste estudo foi analisar a formação e o desenvolvimento do Capital Social inter e intrarregional na perspectiva dos atores organizacionais no APL de Nova Serrana - MG. Objetivou-se identificar características das relações estabelecidas pelos empresários inseridos no APL, considerando os contextos interno e externo ao arranjo, tendo como elemento mediador o Capital Social em suas três dimensões: estrutural, relacional e cognitiva (NAHAPIET; GOSHAL, 1998). Metodologicamente, recorreu-se a uma pesquisa de natureza qualitativa, conduzida sob a forma de estudo de caso. Por acessibilidade, foram realizadas 10 entrevistas com empresários integrantes do APL. Como instrumento de pesquisa, utilizou-se um roteiro semiestruturado e o tratamento dos dados foi realizado por análise de conteúdo com o auxílio do software Atlas TI® versão 7.1.4. Os resultados da pesquisa evidenciaram que os empresários reconhecem o valor das práticas sociais, utilizam-nas em benefício de seus negócios e reconhecem a necessidade de se estabelecer relações de distintas naturezas e intensidade de vínculos dentro e fora do arranjo produtivo. Contudo, esbarram em algumas dificuldades, como as posturas individualistas e introspectivas fomentadas pelos elevados níveis de desconfiança. Em suma, a inserção no APL é percebida como favorável apenas pelas empresas mais integradas ao grupo.


2012 ◽  
Vol 10 (1) ◽  
pp. 20-39 ◽  
Author(s):  
Edson Arlindo Silva ◽  
José Roberto Pereira ◽  
Valderí de Castro Alcântara
Keyword(s):  

A sociedade contemporânea é marcada pela presença de instituições que organizam, normatizam e regulamentam as relações sociais de trabalho. Ao mesmo tempo que as instituições podem ser pensadas individualmente, também possuem a capacidade de se organizar em redes objetivando o fortalecimento de laços intra e interinstitucionais. Diante deste contexto, procura-se, aqui, realizar uma incursão teórica entre administração pública, institucionalismo e capital social, mostrando as possíveis interfaces conceituais, com o intuito de elucidar as contribuições do institucionalismo e do capital social para melhor compreender a administração pública contemporânea. Por um lado, a teoria do capital social favorece o entendido sobre o conjunto de investimentos que são canalizados em ações socioeconômicas e culturais para atender demandas sociais específicas advindas de grupos organizados da sociedade civil. Assim, segundo as premissas do capital social os indivíduos se relacionam uns com os outros para ter acesso aos recursos públicos coletivos almejando a consecução de diversos interesses comuns. Já no institucionalismo parte-se da premissa de que qualquer instituição, formalmente constituída e legitimamente reconhecida pelos atributos legais da sociedade, perde a razão de ser quando sua lógica de constituição não consegue ser mais eficiente do que qualquer ação individual isolada. Por fim, as discussões em torno das temáticas do capital social, institucionalismo e modelos de administração pública nos convidam a refletir sobre as mudanças ocorridas nas sociedades modernas, principalmente no que se refere às formas de governo e às tendências das relações entre Estado e sociedade que vêm ocorrendo no mundo globalizado.


2013 ◽  
Vol 67 (2) ◽  
pp. 184 ◽  
Author(s):  
Rommy Kendall ◽  
Luis J. Matos ◽  
Miriam Cabra

Las actuales políticas de salud, con un rostro más participativo, inclusivo y equitativo, han logrado establecer a la salud mental como una de las prioridades sanitarias a nivel nacional. La violencia política, presente durante veinte años en nuestro país, ha tenido un alto costo social, económico, moral y de salud; su impacto se evidencia hoy, no solo en la generación que afrontó el conflicto armado, sino también en las generaciones siguientes. Sentimientos de desconfianza, temor y desesperanza se imbrican con los proyectos de desarrollo y generación de capital social en las poblaciones rurales, mermando su bienestar y productividad. La determinación en las decisiones tomadas a nivel global, por la Organización Mundial de la Salud, y nacional, por el Ministerio de Salud, sobre la importancia y trabajo en el tema de salud mental, han generado acciones dirigidas a brindar capacitación al personal de salud de las localidades afectadas, como también atención y seguimiento a las personas afectadas por el conflicto armado. Como producto de ello se presenta los alcances de la experiencia de intervención que viene realizando el equipo técnico itinerante de salud mental del Instituto Nacional de Salud Mental del Ministerio de Salud, en tres departamentos del interior del país.


2017 ◽  
Vol 72 (2) ◽  
pp. 345-369
Author(s):  
Pauline de Becdelièvre ◽  
François Grima

À partir d’une recherche qualitative auprès de 48 ex-militants syndicaux ayant eu plus de 80% de leur temps de travail pour leur syndicat, de 10 directeurs des Ressources humaines et de trois organisations syndicales, une organisation patronale et un cabinet d’accompagnement, cet article questionne la reconversion des militants syndicaux en dehors de la sphère syndicale. En s’appuyant sur le contexte français et la littérature existante sur la reconversion des militants syndicaux, nos travaux soulignent les stratégies mises en place par les ex-militants afin d’assurer leur employabilité militante externe. Ces stratégies sont influencées par la perception qu’ils ont de leur employabilité. Plusieurs facteurs externes et individuels affectent cette perception. Les facteurs individuels sont le capital social perçu, la nature du départ (subi ou volontaire), le niveau de poste précèdent et le niveau atteint dans l’organisation syndicale. Ces facteurs individuels n’expliquent pas tout. D’autres facteurs externes, tels la stigmatisation dont peut faire l’objet le militant à cause de son engagement syndical, le lien contractuel et l’accompagnement du syndicat, expliquent la perception que le militant a de son employabilité. Celle-ci entraine soit une non mobilisation du capital social, soit une mobilisation offensive du capital social. Dans ce dernier cas, l’ex-permanent peut subir une phase d’observation de la part de l’entreprise d’accueil. En s’intéressant à la reconversion syndicale, cette recherche constitue un renversement de positionnement par rapport aux nombreux travaux analysant la carrière syndicale. Le capital social des militants n’est plus pensé au sein de l’organisation syndicale, mais en dehors de celle-ci, et il permet de proposer le concept d’employabilité militante externe, à savoir la capacité d’un ex-militant syndical d’obtenir un travail et de se maintenir en emploi en dehors du syndicat grâce à la mobilisation de son capital social.


2007 ◽  
Vol 5 (2) ◽  
pp. 01-13 ◽  
Author(s):  
Diogo Henrique Helal ◽  
Jorge Alexandre Barbosa Neves

Este artigo aborda o papel do capital social na superação da pobreza em áreas urbanas. Diferente de outros estudos que adotam uma perspectiva macro para capital social, este o analisa como algo inerente à esfera das interações entre indivíduos, sendo capaz também de trazer retornos individuais. Capital social é mensurado com base na associação dos indivíduos em diversos tipos de organizações sociais. A hipótese, de que, mesmo controlando-se por variáveis de capital humano e origem socioeconômica, quanto maior o estoque de capital social de um indivíduo maior será sua chance de obter uma renda que lhe permita superar a linha de pobreza, foi testada por meio de um modelo de regressão logística, que estimou o efeito de variáveis (teste e de controle) na probabilidade de um indivíduo superar a linha da pobreza. Os dados para este estudo são secundários, oriundos da edição de 2002 da Pesquisa da Região Metropolitana de Belo Horizonte (PRMBH/UFMG). Os resultados mostram que ser membro de organizações sociais (redes de relacionamento) tem um efeito significativo nas chances de se escapar da pobreza em uma grande região metropolitana do Brasil (Belo Horizonte). A conclusão destaca, neste sentido, a importância dos retornos individuais das redes sociais.


2014 ◽  
Vol 15 (1) ◽  
pp. 200-235 ◽  
Author(s):  
Luciano Rossoni

Neste artigo, objetivamos avaliar empiricamente a capacidade da agência dos pesquisadores do campo da pesquisa em organizações e estratégia no Brasil quando imersos em redes mundos pequenos (small worlds). Para tanto, assumimos que a agência pode ser avaliada quanto a seu efeito na produtividade. Depois, advogamos que tal agência pode ser explicada pela imersão em redes de coautoria, em que tanto o posicionamento privilegiado dos pesquisadores em relação às lacunas estruturais quanto a configuração de facções da rede sob a forma de mundos pequenos podem afetar a produtividade. A análise de como a estrutura social influencia o comportamento e a performance dos indivíduos é primordialmente fundamentada em estudos de análises de redes sociais. Mesmo se reconhecendo as limitações, ela é frutífera e coerente enquanto arcabouço metodológico. Contudo, paralelamente, modelos estatísticos multiníveis vêm sendo empregados. Comumente conhecidos como modelos lineares hierárquicos, ou modelos HLM, eles buscam avaliar como o contexto interfere na ação social. Diante dessas duas possibilidades, buscamos neste estudo conciliar a análise de redes com modelos hierárquicos para avaliar a agência como socialmente imersa em redes de relações. Para tanto, o campo científico é tomado como um tipo de sistema social, cujas redes de relações de coautoria são avaliadas como dimensão estrutural quanto a posição-prática. Isso porque há indícios de que a estrutura de relacionamento interfira tanto no processo de institucionalização das ações, quanto na capacidade de agência dos pesquisadores. Verificamos que pesquisadores com maior proporção de laços não redundantes são mais produtivos. Além disso, as análises apontaram que em redes mais coesas a respeito de mundos pequenos, tanto individual quanto coletivamente, a produtividade é maior. Todavia, quando essa coesão é muito alta, há tendência de a produtividade decair. Tais resultados apontam para a relevância de se avaliar a capacidade da agência quando imersa em redes de relações, já que diferentes mecanismos de capital social condicionam a ação e seus resultados.


Sign in / Sign up

Export Citation Format

Share Document