Crioulização e diálogo intercultural na obra de Xul Solar

Author(s):  
Yara Dos Santos Augusto Silva

Este estudo propõe desenvolver um pensamento crítico em torno das noções de crioulização e diálogo intercultural, a partir da obra de Alejandro Xul Solar (1887-1963) e do contexto da modernidade argentina. Em sua condição de sujeito e criador formado em uma cultura de mescla, Xul Solar elabora um projeto artístico compósito, baseado em textos e imagens e na invenção de uma língua auxiliar para a América Latina, o neocriollo. Isso lhe permite, em consonância ao proposto por Jorge Luis Borges, evitar incorrer excessivamente na cor local e, por outra parte, não se submeter ao ideário de unificação expressiva e obliteração da diferença cultural, aventado pelas nações europeias hegemônicas. Diante disso, a partir do campo de estudos da Literatura Comparada, objetiva-se investigar de que maneira os processos de crioulização de línguas e linguagens, que permeiam a produção artística e as reflexões estéticas de Xul Solar, culminam em dinâmicas de contato e diálogo intercultural. Como pesquisa de caráter transdisciplinar, o estudo se vale de contribuições de teóricos como Beatriz Sarlo, Néstor Canclini, Rosalind Krauss, Édouard Glissant e Silviano Santiago. Dentre os resultados obtidos, destaca-se a constatação de que a noção de crioulização, conforme operacionalizada por Xul Solar, compreende a mescla cultural enquanto processo de aproximação e negociação entre elementos díspares. Nesse sentido, foi possível concluir que a busca neocriolla supõe um mecanismo de assimilação ativa, devoração crítica, que se aproxima da proposição oswaldiana da antropofagia, proposta que possibilita a Xul Solar uma espécie de entre-lugar discursivo.

Author(s):  
Gustavo Ponciano Cunha de Oliveira

Em 1988, Beatriz Sarlo propõe uma passagem entre duas poéticas em Jorge Luis Borges: de Evaristo Carriego (1930) em direção a Historia universal de la infamia (1935). Os dois textos são “insidiosos”, defende a pesquisadora, porque falsificam as biografias de seus personagens. Porém, a coletânea de 1935 opera em âmbito universal. Este movimento, afirma Sarlo, é portador de um acumulo de prerrogativas, associado à dupla inscrição de Borges: o cidadão do mundo e, simultaneamente, o de um país pensado a partir de Buenos Aires. Neste ensaio, sugerimos uma passagem anterior, evidenciada em “Sentirse en muerte” (1928): do criollismo – o poeta dos arrabaldes, dotado da capacidade de transporte sensível e instalado nos limites de sua cidade imaginada, que busca a representação poética digna de seu conceito de argentinidade – em direção à prosa que alcança o caráter argumentativo-reflexivo dos ensaios sobre o tempo e a eternidade característicos de Borges, início de sua legitimação como “percibidor abstracto del mundo”. Este movimento é também portador de um acúmulo de prerrogativas, dupla inscrição de Borges: como poeta, literato e ensaísta programático do criollismo; como meditador dedicado aos assombros contidos em nossos conceitos de vida, tempo e universo, operador de textos da Filosofia e da Teologia.


2015 ◽  
Vol 8 (9) ◽  
Author(s):  
Amilton Freire De Queiroz

A pauta principal deste artigo ampara-se no escopo de examinar a poética da travessia no romance O Outro Pé da Sereia (2006), de Mia Couto. Para perambular nessa frutuosa paisagem ficcional, serão articuladas as bússolas teórico-metodológicas lapidadas por Tania Franco Carvalhal, Silviano Santiago, Benjamim Abdala Júnior, Laura Cavalcante Padilha, Eneida Maria de Souza, Zilá Bernd, Maria Zilda Ferreira Cury, Daniel Henri-Pageaux, Édouard Glissant, Linda Hutcheon, Homi Bhabha e Edward Said. Com as chaves de leitura gestadas por esses intelectuais, espera-se entrar pelas portas do romance miacoutiano, de tal forma a lê-lo sob o limbo temático dos laços de solidariedade estabelecidos em torno da construção de cenas literárias alicerçadas na figuração de atores narrativos que modulam na frequência do pensamento da fronteira, do rizoma, da errância e das redes. Passeando na encruzilhada desse rizoma de solidariedade, olhado sob os auspícios da poética da travessia, o presente trabalho movimenta-se rumo ao mapeamento de percursos de personagens que se despem das clausuras da raiz monolíngue, como ensina Glissant (2011), para tornam-se seres errantes que peregrinam nas zonas opacas dos paradoxos da violência física e simbólica imputada à(s) África(s).  A partir da leitura transversal desses lugares de trocas, intercâmbios, desvios, deriva, fragmentação, hibridismo e mestiçagem, quer-se projetar um balbucio que culmine por mapear as passagens e os transportes interculturais operados no plano das textualidades ficcionais contemporâneas. Em face disso, nosso olhar ancora-se na lição de que ler e analisar um texto literário é saber que ele esgarça a fronteira literária, convocando a moldura de outros campos do saber, conforme pontua Eneida Souza. Destarte, para fechar com a prestimosa metáfora de Tania Carvalhal, busca-se rastrear os encontros na travessia (1991), haja vista os encontros contribuírem, em última instância, para investigar os modos de abertura ao Outro na cartografia das cenas rizomáticas, fronteiriças e errantes grafadas no palco da letra de Mia Couto.


2020 ◽  
Vol 1 (2) ◽  
pp. 120-125
Author(s):  
Camilo Fernández Cozman

Cuentista, poeta, ensayista y traductor,Jorge Luis Borges (1899-1986) es uno de losgrandes escritores latinoamericanos de todos lostiempos. Ha tenido una enorme repercusión enla obra de autores europeos fundamentales delsiglo XX como Michel Foucault, Umberto Eco,George Steiner y Gérard Genette, entre otros. Setrata de un autor clásico cuyas huellas se dejansentir en el boom de la novela latinoamericanaque se produjo a partir de los años sesenta de lacenturia pasada con autores como Gabriel GarcíaMárquez, Mario Vargas Llosa, Carlos Fuentes yJulio Cortázar, verbigracia. Beatriz Sarlo (2007)considera que Borges logra inventar una tradicióncultural para Argentina, país excéntrico, es decir,que no tiene un centro fijo, sino que se alimentade diversas tradiciones; asimismo, el autor de Ellibro de arena “se maneja con la soltura de unmarginal que hace libre uso de todas las culturas”(Sarlo, 2007, p. 14), Borges dialoga librementecon la literatura occidental y no constituye, porello, un mero imitador de esta última.


2017 ◽  
Vol 21 (42) ◽  
Author(s):  
Claudio Maíz

<p>Este trabajo busca dar cuenta de un cronotopo que denominamos <em>Cuba</em>, con el fin de establecer el grado de incidencia que este ha tenido en la producción de textos de cultura en América Latina. No obstante, al plantearse de esa manera, el tema resulta excesivamente amplio; por ello nos ocuparemos con más detalle de los discursos del <em>yo</em>; de las autofiguraciones y del abordaje de dicho cronotopo en Mario Vargas Llosa, Alfredo Bryce Echenique, Carlos Franqui y Beatriz Sarlo.</p>


2020 ◽  
pp. 92-106
Author(s):  
Mercedes Mafla

El presente trabajo se ocupará de realizar unas anotaciones generales sobre las manifestaciones explícitas de la poética de Jorge Luis Borges y, en especial, delineará la hipótesis de que, aunque el autor argentino siempre expresó sus ideas sobre la literatura en ensayos y ficciones por todos conocidos, también lo hizo, de una forma más velada, en muchos poemas que, a lo largo de su larga vida, les dedicó a variados escritores. Es pertinente señalar que los poemas que analizaremos en este ensayo tienen una característica adicional notable: contienen juicios críticos, puestos en escena por medio de varios recursos narrativos. Antes de entrar en el grupo de poemas dedicados a escritores, he creído pertinente hacer un escueto resumen del origen del arte poética, como un subgénero literario de antigua data, el mismo que se expresó en América Latina con bastante recurrencia, aunque con distintos fines: en su momento, como herencia directa de los clásicos (Horacio o Aristóteles) y, más adelante, como la manifestación de posturas individuales de asumir la poesía y la labor del poeta. En este contexto, Borges tiene la virtud de sintetizar la tradición y sus propias preguntas sobre su destino literario. Estos serán los asuntos a los que nos aproximaremos a continuación.


2019 ◽  
Vol 7 (1) ◽  
pp. 79-96
Author(s):  
Eduardo Jorge de Oliveira

Este ensayo pretende desarrollar una breve geografía textual latinoamericana a partir de los estudios de la forma animal. Analizaremos textos e imágenes a partir de los estudios de Adolf Portmann (La forma animal), cruzándolos con aspectos de la imaginación zoológica de Jorge Luis Borges, hasta llegar a las obras de un conjunto de autores latinoamericanos: Diego Vecchio, Mario Bellatin, Nuno Ramos y Carlito Azevedo.


2010 ◽  
Vol 11 (20) ◽  
pp. 136-148
Author(s):  
Pablo Rocca

Um homem jovem, de uma família da classe média, converte-se em intelectual. Esse homem ocupa um espaço central na cultura literária do seu país (Uruguai) e, aos poucos, na América Latina. Mas, ele carrega consigo um drama pessoal, uma marca de origem, que sempre procura encobrir e que, no entanto, sua própria escrita acaba por desvendar. Este artigo explora a(s) história(s) e os caminhos de Emir Rodríguez Monegal (1921-1985), um dos principais especialistas em literatura latino-americana no século XX. Em especial, Monegal foi um leitor privilegiado, desde os anos 1940, da obra de Jorge Luis Borges, cuja escrita foi fundamental, também, para que o crítico pudesse compreender-se a si mesmo.


Signo ◽  
2019 ◽  
Vol 44 (81) ◽  
pp. 109-121
Author(s):  
Claudio Maíz ◽  
Claudia Lorena Fonseca
Keyword(s):  

Pensar prática das redes é pensar na circulação de ideias. Nesse sentido, como suporte e veículo de transmissão de ideias e configuração de redes, destacam-se as revistas, espaço de materialização da prática das redes. O presente estudo pretende abordar as publicações periódicas a partir não apenas de alguns caminhos já percorridos, por estudiosos tais como Beatriz Sarlo, Mabel Moraña, Maria Lúcia Camargo ou Pablo Rocca, como a relevância que têm na formação de redes intelectuais, a gravitação política que alcançaram, as controvérsias registradas e outros temas; mas também trabalhar com duas incógnitas: uma delas tem a ver com o momento em que decaem as revistas culturais e em seu lugar se impõem as acadêmicas; a outra, diz respeito à questão formulada recentemente por Regina Crespo sobre se o tempo do protagonismo das publicações periódicas ficou reservado apenas ao século XX. De ser assim, que outros horizontes se abrem no século XXI, dominado pelas tecnologias da comunicação. Assim sendo, a revista cultural ainda é objeto de estudo para a circulação do novo nos diferentes campos da ciência e humanidades.


2019 ◽  
pp. 229
Author(s):  
Giovani T. Kurz

Desenvolve-se, neste artigo, uma leitura do romance El asco: Thomas Bernhard en San Salvador, de Horacio Castellanos Moya, a partir das questões territoriais que ele toca e, por extensão, do problema da fronteira — seja no sentido político, seja no sentido estético. Para tanto, parte-se da filosofia de Leopoldo Zea, construída essencialmente em Discurso desde la marginación y la barbárie; do pensamento de Walter D. Mignolo, desenvolvido em Local Histories/Global Designs: coloniality, subaltern knowledges and border thinking; e das ideias sobre temporalidade e territorialidade apresentadas por Josefina Ludmer em Aquí América latina: una especulación. Chega-se, assim, à ideia do entre-lugar como lócus de enunciação do romance, problema abordado a partir de Silviano Santiago e, indiretamente, Homi K. Bhabha. Por fim, percebe-se, no romance, um narrador “em trânsito”, dividido entre passado e presente, Primeiro e Terceiro mundos.Palavras-chave: Literatura latino-americana; fronteira; Horacio Castellanos Moya; Josefina Ludmer; Walter Mignolo.


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